Era de manhãzinha. Abraão levantou-se, deu um beijo a Sara, e Sara deu um beijo a Isaac, suas delícias, sua eterna alegria. E Abraão, montado no burro, seguiu pensativo. Meditava em Agar e no filho que abandonara no deserto. Subiu a montanha de Morija e puxou da faca.
A tarde estava tranqüila quando Abraão se achou sozinho em Morija. Jogou-se na terra e pediu perdão a Deus pelo seu pecado, perdão por ter querido sacrificar Isaac, perdão por ter esquecido o dever paternal para com o filho. Tomou, de novo, com mais freqüência o solitário caminho da montanha, mas não encontrou repouso. Não podia conceber que pecara por ter querido sacrificar o seu mais precioso bem, por quem teria oferecido a vida mais de uma vez; e, se pecara, se nunca amara Isaac a tal ponto, não podia compreender como merecer o perdão de Deus — haverá, com efeito, mais horrível pecado do que o seu?
Quando chega o tempo do desmame, a mãe fica triste pensando que ela e o filho se irão separar; que o menino, a princípio sob o seu coração e depois embalado no seio, nunca mais se encontrará tão perto dela. E juntos sofrerão esta curta pena. Feliz aquele que conservou o filho tão perto do seu coração e não teve outro motivo de desgosto!
Johannes de Silentio, vulgo Kierkegaard. Temor e Tremor.
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