Thursday, January 11, 2007

Atmosfera 2

Era de manhãzinha. Abraão levantou-se, abraçou Sara, companheira da sua velhice, e Sara deu um beijo a Isaac, que a havia preservado do escárnio e era seu orgulho e esperança para toda a posteridade. Caminharam em silêncio. Abraão conservou o olhar obstinadamente fixo no solo até o quarto dia. Só então levantou os olhos e vendo no horizonte a montanha de Morija, baixou-os de novo. Em silêncio preparou o holocausto e ligou Isaac; em silêncio puxou da faca; então viu o carneiro que Deus provera. Sacrificou-o e regressou... A partir desse dia Abraão envelheceu; não pôde esquecer aquilo que Deus lhe exigira. Isaac foi crescendo, mas os olhos de Abraão haviam perdido o brilho; nunca mais tornou a ver a alegria.

Quando o menino, já crescido, tem de ser desmamado, a mãe, pudicamente, oculta o seio e o menino já não tem mãe. Feliz o filho que não perdeu a mãe de outro modo!

Johannes de Silentio, vulgo Kierkegaard. Temor e Tremor.

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