Friday, September 30, 2005

Construindo pirâmides

Já imaginou tudo o que envolvia a construção de uma pirâmide, no Egito Antigo? O jogo linkado no título nos dá uma boa idéia do processo.

Você terá de escolher a localização da pirâmide, o material a ser utilizado, o tipo de estrutura, o número de escravos, arquitetos, oficiais etc, etc.

Especialmente interessante é a orientação pelas estrelas.

Aproveite para aprender também a mumificar em http://www.bbc.co.uk/history/ancient/egyptians/mummy_maker_game.shtml

Thursday, September 29, 2005

Reação de Maillard

Por que choramos ao cortar cebolas?

O químico Emiliano Chemello explica. Se entendi, o responsável pela choradeira é um tal propanotial-S-óxido, mas o melhor de tudo é a solução: um tiocomposto. No caso, uma cebola transgênica.

Tudo bem, entendi. Mas não é muito mais fácil, digamos, não olhar? Ou dispensar logo a cebola e substituir por um daqueles copinhos de tempero pronto?

Wednesday, September 28, 2005

Liberdade sub-tropical

É verdade que o clima tem importância, porquanto nem a zona quente nem a zona fria favorecem a liberdade do homem.

George W. F. Hegel

(In Roche & Barrère, Manual de Disparates dos Filósofos, p. 107).

Tuesday, September 27, 2005

Relógios humanos

Eis os homens: relógios; uma vez montados, funcionam sem saber porquê.

Schopenhauer, O Mundo Como Vontade e Representação.

Sunday, September 25, 2005

Dicionário de Acrônimos

Você sabe o que é um acrônimo? Conhece algum?

Sim. Conhece vários, ainda que não saiba.

Se não acreditar em mim, consulte o dicionário de acrônimos linkado no título.

Pesquisei PQP e encontrei Puta Que Pariu (Portuguese, Brazil).

Há outros. Muitos outros.

Saturday, September 24, 2005

Restos do banquete

No momento, tudo isto poderá ter o encanto de um novo molho ou de uma nova safra, mas os restos de todo o banquete acabam por deteriorar-se e as últimas gotas esquecidas no fundo da garrafa são sempre azedas.

Oscar Wilde - De profundis.

Friday, September 23, 2005

Biografia da mentira

Dizem que só conhecemos alguém quando entendemos suas mentiras.

Tente colocar isso em prática. Não dá não.

E se a compreensão também for uma mentira?

Wednesday, September 21, 2005

Coisa de grego (3): o homem invisível

Lembra da série de TV O homem invisível?

E o filme?

E o desenho animado?

Engana-se quem pensa que isto é invenção de Hollywood.

Hades, o senhor do mundo subterrâneo, raramente precisava sair de seus domínios e visitar o mundo governando pelo sol. Mas, quando o fazia, usava um capacete presenteado pelos Cíclopes, que o tornava invisível.

Presente de grego. Coisa de grego.

Tuesday, September 20, 2005

Os deuses ainda devem estar loucos

Caiu algo do céu, lá em Porto Reconquista, um vilarejo argentino, próximo à fronteira com o Uruguai.

Sim, os deuses enviaram uma pedra aos habitantes da pequena Reconquista. Azul, do tamanho de uma bola de futebol. Linda. Apetitosa. Enviada talvez pelos deuses astronautas.

O presente não chega a ser uma coca-cola, mas é uma pedra azul, brilhante, com um líquido no interior. Linda. Apetitosa.

Não chega a ser uma brastemp, mas Reconquista também não é Kalahari.

Enfim. Apetitosa.

A pedra foi lançada de um avião. Os deuses, que habitam pássaros gigantes, concederam esta graça aos mortais: enviaram sua própria urina, misturada a um tantinho de detergente, claro. Detergente azul, claro.

A mistura detergente + urina resultou na cor esverdeada da pedra quando se partiu ao tocar o solo. Cristalizou com a queda. Claro.

Houve quem bebesse o líquido do interior. Claro. Quem vai recusar a urina dos deuses? (aposto que Lacan pensava na urina dos deuses ao falar em dejeto do real).

Ora pois.

Não é que Wilde tinha razão? A vida realmente imita a arte.

Monday, September 19, 2005

Verde que te quero verde

Olha só. Queria saber como se escreve "verde" em latim, talvez porque não tenha nada prá fazer, talvez porque quisesse escrever em latim a frase "a lua é feita de queijo verde". Comecei e terminei no verde. Muito cansativo fazer todos os cálculos: nominativo aqui, segunda declinação, particípio ali, terceira, existia queijo em Roma?, o "de queijo verde" é nominativo porque o verbo é de ligação e o predicado é predicativo? Mas o predicado nominal não é o caso genitivo? Particípio é nome? Se for nome, então o predicado é nominal, daí genitivo. Mas, se não for nome, então o predicado é verbal. Se for verbal, então uso o ablativo? Mas neste caso o que faço com o verbo de ligação?

Ih, já cansei. Preciso disso não.

Mas, procurando o verde latino, fiz uma descoberta: amarelo-esverdeado é galbinus, a, um e cinza-esverdeado, glaucus, a, um. Mas "Galba" não é o nome daquele general que sucedeu a Nero? E "Glauco" não é um nome romano bastante comum?

E aí fui pesquisar de novo, para saber qual é a ligação entre o Galba/imperador e a cor verde. Achei algo ainda mais interessante: Galba, ae significa, entre outras coisas, verme e barrigão. Sim, barrigão. Confira em http://lysy2.archives.nd.edu/cgi-bin/words.exe?galba

A vida é mesmo uma caixinha de surpresas. Quem diria que eu acabaria por saber como se diz “barrigão” em latim?

Mas melhor ainda é saber que nunca vou precisar dessa informação.

Sunday, September 18, 2005

Múmia de pelúcia

Sempre achei belo um fantasma esvoaçante, azul. Belo, mesmo. Estou falando de experiência estética. Simples assim.

Do mesmo modo, sempre achei um esqueleto no mínimo engraçadinho. Gracioso, digamos. Branquinho, magrinho, sorridente... Por que não?

Quando adolescente, só saía de casa acompanhada de um caixãozinho com um esqueletinho dentro, até o triste dia em que deram fim aos dois (ao caixão e ao esqueleto).

Em aula de ciências, quando estudante, o que realmente me fascinava era o esqueleto de um metro. Falo sério! Sempre quis ter um.

Outra belezinha que também acho fascinante é a múmia. Compete em beleza com o esqueleto, mas é mais difícil de encontrar. Se eu tivesse uma múmia, ela não desapareceria misteriosamente como todos os meus esqueletinhos.

Mas dá prá entender: esqueleto todo mundo é, e vai ser mais ainda um dia. Múmia, dificilmente.

Que posso fazer? Gosto e pronto.

Conselho não, tá?

Saturday, September 17, 2005

O pai da idéia

Descobri quem disse que a lua é feita de queijo: foi um tal John Heywood, em 1546.

Heywood era escritor e viveu durante os reinados de Henrique VIII e Maria I. Em uma de suas peças, escreveu que "A lua é feita de queijo verde". A intenção era, obviamente, expressar um sentimento em relação à lua. Mesmo assim a coisa virou mania e, com variações, tornou-se crença. Sim, crença. Já houve tempo em que se acreditava que a lua era mesmo feita de queijo.

Tudo bem, vá lá. Acredita-se em tudo. Só não entendi porque o queijo tem de ser verde.

Friday, September 16, 2005

Prá não dizer que não falei de flores

A propósito ainda de Agostinho: pensando bem, a castidade reduz a população mundial, aumenta os recursos naturais, preserva o meio-ambiente, diminui a criminalidade, reduz a pobreza, torna possível uma distribuição de renda mais igualitária, diminui as filas nos bancos, aumenta o número de vagas nos estacionamentos gratuitos, descongestiona o Orkut, aumenta a oferta de vagas nos empregos públicos e nas universidades e diminui o número de vereadores, deputados e senadores. Resumindo: a castidade é a solução para todos os problemas.

Isso não é uma boa coisa?

Aposto que Fibonacci concordaria comigo.

Thursday, September 15, 2005

Amar é... (2): ser casto!

Aurélio Agostinho, que viveu no século IV de nossa era, tinha um modo bastante peculiar de pedir algo a Deus: quero, mas esperumpoquin.

Agostinho devia achar que, para obter uma graça, seria melhor começar a pedir logo cedo. Isso não significa que Deus não fosse atender, ou que demorasse para ouvir. Pedir desde a infância ou a adolescência para obter a graça na velhice talvez tivesse o propósito de dar-se tempo suficiente para formar a convicção. Quero dizer: agora tenho certeza. Quero mesmo.

Bem, fosse como fosse, o fato é que ele tinha um grande, enorme desejo: o desejo de não ter mais desejo. Ou pelo menos de controlá-lo.

A oração em que o filósofo pede a Deus que o torne casto é digna de nota:

"Eu, jovem, tão miserável, sim, miserável desde o despertar da juventude, tinha-vos pedido a castidade, nestes termos: 'Dai-me a castidade e a continência, mas não ma dais já', temendo que me ouvisses logo e me curásseis imediatamente". (Confissões)

Resumindo: "Senhor, fazei-me casto, mas não já."

Como ele mesmo diz, teve receio de ser atendido.

É.

Faz sentido.

Wednesday, September 14, 2005

A verdade sobre a mentira

Descobri uma verdade inegável: a grande estrela da história da humanidade, especialmente quando o público está envolvido, é a mentira.

Hmmm-hmmm.

Ela está lá, determinando os rumos da história, orientando os políticos, interferindo nas relações entre patrões e empregados, ajudando os filhos a escapar da vigilância dos pais, patrocinando o comércio, a arte, a publicidade, a internet, o casamento, o amor, a religião, o poder.

O bom da história é que, se nem sempre é possível (ou conveniente) identificar a mentira, na maior parte das vezes é possível identificar o mentiroso.

Ah...

A técnica, complicadíssima, tem algumas regras simples, acessíveis a todos nós, pobres mortais, que não queremos ser enrolados por uma conversa pra boi dormir.

A regra mais interessante é o “aumento substancial de "ah" e "hum" enquanto se está a falar”.

Hmmm.

Isso é tão fácil, tão fácil, mas tão fácil, tão absurdamente fácil de identificar, que é risível alguém ainda ter coragem de mentir.

Ah...

Mas o bom mentiroso é capaz de disfarçar o sintoma, certo?

Hmmm.

O importante, se entendi bem, é atentar para o padrão de comportamento e para o conjunto de sintomas.

Em todo caso, identificar o mentiroso é como ver o mundo através da luneta mágica. E depois, sempre haverá alguém ansioso para ouvir mentiras, desde que belas e verdadeiras.

Tuesday, September 13, 2005

Extra... Extra... Extraterrestre!

É um pássaro? Um avião? O superman?

Não! É apenas um ET, que apareceu em uma nuvem após a tempestade, foi fotografado e pode ajudar a enriquecer alguém. Não dá prá ter certeza se vai ajudar muito, porque ET´s não são tão lucrativos quanto Maria, Jesus Cristo ou Alá. Mas deve render uns trocados.

Melhor que nada.

Monday, September 12, 2005

Filosofia engorda

Depois que parei de fumar, uma verdade tornou-se evidente: filosofia engorda.

Ler, ler, ficar sentada lendo e escrevendo, pensando, só pensando, lendo, escrevendo e beliscando alguma coisa, lendo, pensando, escrevendo, lendo, pensando, escrevendo, lendo, lendo de novo, pensando...

Ih. Já engordei só de pensar nisso.

Preocupada com o problema, fiz o seguinte cálculo: cada bombom de trufas tem 500 calorias em média. Cinco em um dia significam 2.500 calorias a mais. Duas horas lendo equivalem a duas horas a menos de academia, o que significa deixar de perder em torno de 400 calorias. Então, se eu deixo de perder 400 calorias, estou ganhando 400 calorias. Assim, se eu passar duas horas lendo um tratado de filosofia e comendo bombons de trufas (apenas por hipótese, claro), eu teria um saldo de 2.900 calorias a mais.

Em uma semana minha dedicação à filosofia seria bastante visível.

Sunday, September 11, 2005

É possível viver sem o MSN

Há vinte nomes em meu messenger, mas nunca falo com todos ao mesmo tempo. Nem é preciso. A metade já é suficiente para me deixar com a sensação de que a internet destruiu a comunicação ao fragmentar as conversas e as relações. No mínimo, perdeu-se a continuidade.

Como é possível manter uma conversa linear, produtiva, interessante, com o programa chamando a cada cinco segundos? Como é possível manter uma conversa que seja realmente significativa se ela é intercalada com nove, dez, onze outras conversas paralelas?

Vai ver que parei no tempo.

É possível viver sem o MSN.

É possível ter amigos sem o MSN.

É possível navegar na internet sem o MSN.

É possível, mas vamos deixar como está.

Saturday, September 10, 2005

The dark side of the moon

A BBC garante que há algo errado com o lado escuro da lua: não é tão escuro assim. Ou melhor, o lado da lua que a terra não vê não é sempre escuro.

Portanto, que ninguém mais se refira ao "lado escuro da lua", mas sim ao "lado às vezes escuro da lua".

Não é por nada não, mas e daí?

Wednesday, September 07, 2005

Aposto que não

Ninguém pode negar, em sã consciência, que Pascal (filósofo, 1623-1662) fosse dotado de grande senso prático e talento natural para o comércio.

O assunto é a crença em Deus (o que, diga-se de passagem, é infinitamente mais interessante e importante que sua existência), que Pascal resolveu com o seguinte raciocínio:

Situação 1: Você crê em Deus e ele existe.
Resultado: Beleza. Você morre e Deus está ali para recebê-lo e recompensá-lo.

Situação 2: Você crê em Deus e ele não existe.
Resultado: Você morre e nada acontece. Claro, se Deus não existe, você morre mesmo. Podia ser melhor, mas tudo bem. É a vida.

Situação 3: Você não acredita em Deus e ele não existe.
Resultado: Nada de trágico aí. Quando você morrer, não terá de prestar contas de coisa alguma, porque terá morrido mesmo.

Situaçao 4: Você não acredita em Deus e ele existe.
Resultado: Ixi. Quando morrer, vai dar de cara com ele. É que, se Deus existe, o inferno também existe, né?

Pensando bem, é melhor apostar na existência. Isto é: melhor apostar na crença. Vive-se bem e, ao morrer, pode-se viver melhor ainda.

Friday, September 02, 2005

Odeio Altman

Sim, eu confesso! Confesso, confesso: odeio Altman, Bertolucci e essa linguagem superfície-imitando-a-profundidade de filmes como Elefante, Aos treze, De olhos bem fechados, Tempestade de Gelo e todos, todos, todos (eu disse todos) os filmes de Robert Altman (evidentemente não assisti a todos, mas isso é só um detalhe).

Eu me refiro àquele tom pretensamente profundo, com diálogos lentos, lentíssimos, pausados, de subjetividades profundamente profundas e frases de efeito substanciais, ditas entre quatro paredes, secretas, verdadeiros espelhos da alma, bem ao estilo "gostaria de ver meu namorado em um vestido", vindo do fundo da alma, compreende?

Pois é. Se o modo como falamos revela o modo como raciocinamos, vai ver que o modo como expressamos nossos pensamentos diz da profundidade destes pensamentos. Altman deve achar que um filme lento, monolítico, de diálogos-monólogos intercalados com longos períodos de silêncio (pra que a gente perceba que as personagens estão pensando) é, por isso mesmo, pleno de conteúdo.

Águas paradas são profundas, certo?

Errado. Isto é exceção.

Alguém pode, por caridade, informar ao Altman o que até um mosquitinho da dengue sabe?

Thursday, September 01, 2005

Samara envelheceu

Que pena. Hoje, só se faz filmes como antigamente.

Lembra daquela garotinha emburrada, de cabelos desgrenhados, mazinha, invencível e morta, bem morta, de O Chamado?

Pois é. Acredite: Samara saiu da TV, envelheceu, virou mãe e foi morar no telhado/sotão de uma casa, junto com o filhinho, onde se divertem do único modo que sabem: assustando e matando.

A musa japonesa está em O Grito, em nada diferente de O Chamado. Ei-la novamente: o mesmo cabelão embaraçado, o mesmo temperamento obstinado, a mesma história sem pé nem cabeça que termina assim mesmo: sem pé nem cabeça.

É verdade, há duas vantagens em O Chamado: os simbolismos na fita VHS que ninguém pode ver e a cena em que Samara sai da TV.

Eu gostaria de saber que fixação é essa dos japoneses por crianças e mulheres de cabelos desgrenhados. De onde vem?

Fiquei pensando, já que não tenho mesmo o que fazer: a morte, para os japoneses, deve ser implacável como a vingança da mulher, irracional como o cabelo desgrenhado das Samaras e inconsequente como a criança brincando de cabra-cega.

E já que fui tão longe, atrevo-me a ir mais longe ainda: Samara voltará. Não em O Chamado 2; não em O Olho 2; não em O Grito 2, mas na pele da velhinha de noventa anos, inválida, que os filhos jogaram escada abaixo em protesto contra a lei que proíbe aos filhos abandonar seus velhos à própria sorte no alto da montanha e, em prostesto também pelo fim da montanha, esquartejaram e guardaram os restos mortais da velhinha embaixo da pia da cozinha. Indignada, a velhinha tornou-se ódio. Vai matar qualquer um que abrir a torneira. Qualquer torneira. Claro, haverá sempre alguém com medo de abrir uma torneira depois de assistir ao filme.

Ainda bem que a casa está abandonada. Mas, que pena!, lá vem alguém chegando de mala e cuia.

E acabei de criar o próximo filme japonês de terror.

O triste é que verei. Apesar de tudo, ainda é melhor que Sexta Feira 13, A Hora do Pesadelo, Pânico etc etc etc.