Tuesday, November 28, 2006

Receita para controlar o próprio destino

Maquiavel tem uma receita ótima para se lutar contra as artimanhas da fortuna: trate-a como mulher. Bata nela; esforce-se para contrariá-la, seja feroz, audaz e evite a timidez. Só isso, e a sorte estará do seu lado.

"Estou convencido do seguinte: é melhor ser impetuoso do que tímido, porque a fortuna é mulher, e é necessário, para dominá-la, bater-lhe e contrariá-la. Vê-se que ela se deixa vencer mais pelos que agem assim do que pelos que agem friamente; e, como mulher, é sempre amiga dos jovens, porque são menos tímidos, mais ferozes e a dominam com maior audácia" (O Príncipe XXV).

Thursday, November 23, 2006

Cemitério de Aliens

Depois da "Terapia de Grupo para Portadores da Síndrome da Pós-Abdução por Extra (ou Intra)-Terrestres", só faltava mesmo haver um cemitério de aliens.

A idéia não é nova, não, mas é americana, claro. Parece que os americanos nunca vão superar sua herança puritana; estão sempre dispostos a acreditar em tudo, de Elvis Presley a deuses gregos, de pés grandes a batata frita com a imagem de Cristo. Uma das esquisitices mais combatidas por Carl Sagan é a obsessão por marcianos esverdeados que capturam humanos para experiências e sei lá mais o quê. O argumento mais forte de Sagan contra essa obsessão é que, com milhares e milhares de planetas e tantas galáxias, a possibilidade de uma nave extra-terrestre vir parar na terra uma vez, ou várias vezes, é perto de zero.

Bem, quer-se acreditar. Mesmo que esta seja uma história já fora de moda de tão boba, existe, no estado do Texas, o que os americanos crédulos chamam de cemitério de aliens. Segundo se diz, uma espaçonave extra-terrestre espatifou-se contra um moinho de vento, no século XIX. A criatura do espaço foi devidamente enterrada, claro. Os habitantes do local eram tão gentis que preferiram enterrar logo a criatura e sumir com os vestígios da espaçonave, para depois anunciar aos quatro ventos que ela morreu ali.

Monday, November 20, 2006

Você é sensitivo?

Você sabe, antes de atender, quem está do outro lado da linha quando o telefone toca?

Já sonhou com alguém que não via há muito tempo e logo reencontrou essa pessoa?

Conegue visualizar com os olhos da mente onde estão objetos e pessoas?

Sabe o que alguém vai dizer antes que comece a falar?

Sabe o que um tal Tickle vai servir para os amigos no jantar que preparou?

Adivinhou que desenho há sob uma carta virada, sem nunca tê-la visto antes?

Sabe de que cor são os olhos do tal Tickle?

Acertou quando disse que o tal Tickle acabou de comprar um carro usado?

Respondeu "não" a todas as perguntas?

Então você um sensitivo!

Vá por mim: qualquer um que fizer o teste linkado no título deste post é sensitivo só de ter feito o teste. Eu respondi "não" a tudo - a maior parte das perguntas eu nem li, porque o teste é longo e chato, então marquei logo "never" e "no". O que não podia ser "never" e "no", chutei, e olhe só!, descobri que tenho uma enorme habilidade para visitar, com a mente, lugares desconhecidos. Isso significa que sou capaz de ajudar a polícia a encontrar fugitivos. Não é ótimo?

Pensando bem, há boas chances de que eu seja mesmo sensitiva. Saí chutando as respostas ou dizendo "não" e mesmo assim acertei! Pois então. E mais: meus poderes recém-descobertos me dizem que basta fazer o teste para ser sensitivo.

Saturday, November 18, 2006

Resposta ao Anônimo (a)

Anônimo (a):

Ainda refletindo sobre a passagem que destacou.

Considerando apenas o objeto: supondo um existente qualquer, numa série finita de manifestações. Em sua primeira aparição, o objeto é obviamente desconhecido para o sujeito. Se a série de aparições for finita, em algum momento o objeto será conhecido inteiramente. Se isso fosse possível, então aquela primeira aparição, quando o objeto era desconhecido, não poderia se repetir (o que é conhecido não pode aparecer como desconhecido).

Então, há quatro possibilidades:

1. O objeto nunca aparece, de nenhum modo.
2. O objeto se mostra imediata e inteiramente ao sujeito.
3. O objeto se revela progressivamente, em uma série finita de aparições, até se revelar inteiramente.
4. O objeto nunca se revela inteiramente.

O primeiro caso é facilmente descartado, porque se o objeto nunca aparecesse ao sujeito, não haveria conhecimento, e basta a afirmação “a é diferente de b” para negar esta hipótese.
O segundo também não é possível, porque implicaria que sujeito e objeto são estáticos, o que sabemos não ser o caso.
O terceiro é absurdo porque, uma vez conhecido o objeto, cessam as aparições (neste caso a ciência algum dia saberia tudo e não haveria nada mais a ser descoberto). Mas o ponto principal é que só conhecemos um objeto quando o conhecemos inteiramente, o que não pode ser (pelas razões apresentadas anteriormente).
5. O quarto item é o único aceitável. Neste caso, é forçoso que a série de aparições seja infinita, porque se o objeto se revela parcialmente a cada momento, só o conhecemos parcialmente. Uma nova aparição sempre é possível.

Wednesday, November 15, 2006

A lógica da loteria

Nunca consegui ter disciplina suficiente para jogar na loteria, ou para checar o resultado, e nunca acreditei na possibilidade de ganhar. Mas isso mudou há três anos. Quero dizer, passei a considerar que posso talvez quem sabe ganhar. A disciplina continua a mesma.

Minha irmã, que joga há mais de dez anos, sempre argumentou a favor da loteria literalmente usando a falácia de Monte Carlo: "o fulano ganhou; logo, serei a próxima. Apostei e acertei quatro números. Logo, da próxima vez acertarei cinco". Eu sempre argumentei que o raciocínio é falacioso; que os resultados são aleatórios, que ninguém vai ganhar da próxima vez porque quase ganhou antes, etc, mas nunca adiantou muito. Ela continuava jogando toda semana, invariavelmente, e então... ganhou. Não ficou rica; ganhou apenas o suficiente para comprar uma casa, reformá-la e mobiliá-la. E então, o golpe final em minha lógica: "Viu? Ganhei! Eu não disse que estava chegando perto?"

Mas o que mais a irritou, quando ganhou, foi o cálculo que tentei fazer dos custos, o que inevitavelmente reduziria o benefício: "quantos anos você jogou? Quanto apostou por semana? Então, você gastou tanto e obteve tanto. Diminuindo o quanto gastou do que ganhou, na verdade seu ganho foi x, muito abaixo do valor do prêmio".

A resposta veio com o fato: "Ganhei, não foi? Então?"

Pois é. Então.

Ela continua jogando, e lá vem a falácia de Monte Carlo outra vez: se ganhou uma vez, vai ganhar novamente. Argumentei que a possibilidade de ganhar novamente é remotíssima, mas ela acha que está chegando mais perto, que está quase lá e que, se meus argumentos falharam uma vez, é porque não são bons mesmo.

Lamentavelmente, contra fatos não há argumentos.

Sunday, November 12, 2006

Loteria lógica

Tive uma idéia absolutamente imbecil ontem, mas ainda não consegui me livrar dela. Fiquei me perguntando se posso usar as tabelas de verdade da lógica para testar a probabilidade de ganhar na loteria.

O raciocínio foi o seguinte: se tenho uma variável, há 50% por cento de chance de acertar (já que ela é ou verdadeira ou falsa). Se tenho duas variáveis, então (considerando somente a tabela do conjuntor, que é o caso), só há uma possibilidade em quatro. Se são três variáveis, uma possibilidades em oito. Se há quatro variáveis, então há uma possibilidade em dezesseis, e assim por diante. Então, aplicando o raciocínio à megasena, por exemplo: eu aposto cinco palpites. A possibilidade de ocorrer aquela combinação específica (por exemplo, 2 - 7 - 12 - 21 - 46) é de 1 para 16, o que daria uma média razoável. Mas então percebi que tenho de levar em consideração o conjunto de apostas possíveis, e não somente a combinação específica que apostar, o que daria uma média infinitamente maior. Como a matemática não é meu forte, desisti da empreitada, mas ainda acho que é possível, só com a lógica, calcular de algum modo as minhas chances e, quem sabe, desistir logo da idéia de ganhar na megasena e parar de jogar dinheiro fora.

Eu avisei que a idéia não era lá grande coisa. :-))

Friday, November 10, 2006

Comedores de batata estragada

Parece brincadeira, mas não é. Relendo os Manuscritos Econômico-Filosóficos de Marx, encontrei esta observação:

"O irlandês não conhece outra necessidade senão a de comer e, mais precisamente, a de comer batatas, e para sermos mais exatos, a de comer batatas estragadas, a pior espécie de batata". (Col. Os Pensadores, p. 23).

Não duvido que uma batata estragada seja a pior espécie de batata, mas de onde terá vindo essa informação no mínimo curiosa? Já que Marx viveu - e morreu - em Londres, deve ter absorvido a opinião dos ingleses sobre os irlandeses rebeldes, que têm a grama mais verde do planeta e, claro, as batatas menos suculentas.

Wednesday, November 08, 2006

Leilão de baleia

Você já pensou em ser dono de uma baleia? Ora, por que não? Querer é poder! Ou melhor, querer é poder no e-bay.

O "Mercado Livre" americano, e-bay, está leiloando os direitos sobre uma baleia. Qualquer um pode comprar, e nem é tão caro assim: com exíguos vinte dólares iniciais, você pode participar do leilão e, quem sabe, arrematar o produto. Se pensar bem, verá que suas chances são até boas. Afinal, quem quer comprar baleia hoje em dia, né?

Mas não precisa se preocupar com o lugar onde vai colocá-la. A baleia continuará no mar. Ela apenas passará a ser sua, e nenhum pescador poderá matá-la. Se acontecer de um desavisado matar sua baleia, você ainda poderá processá-lo.

E aí? Não é um bom negócio? Se a baleia continuar viva, você será responsável pela sua preservação. Se a matarem, você ainda ganha dinheiro com isso. Mas não fique muito entusiasmado. Nenhum pescador que se preze tem lá muito dinheiro, e as baleias são muito parecidas.

Monday, November 06, 2006

Qualificação sobrenatural

Ando assistindo ao programa "Psychic Detectives", da Discovery e fico me perguntando: se os médiuns, ou coisa que o valha, são capazes de resolver todos os crimes, que necessidade temos de detetives? Devíamos, isto sim, despedir todos os investigadores e contratar "sensitivos" para ocupar o lugar deles.

Eu só queria saber por que esses "psychics" não descobrem quem sequestrou o bebê de Livingstone, quem matou a "Princess Doe", quem foi "Jack O Estripador", e outros crimes sem solução da história. Mas já sei: é que a "energia de morte" já sumiu no espaço, o espírito já passou dessa para melhor e eles - os "psychics" - não têm como provar que estão certos.

Fazer o quê. Mas o que há de realmente insuportável nesse programa é a emoção dos sensitivos diante do fantasma do morto: "Ela está aqui agora, conosco, se despedindo de nós, agora que a justiça foi feita", e coisas do gênero.

O mais intrigante é a alegação de que há médiuns "qualificados" e falsos médiuns. O que "qualificaria" um médium? A estatística?

Seria patético, se não fosse trágico.