Tuesday, March 29, 2005

O que fazer para não fazer

Não é tão difícil não fazer. O problema que se coloca, no entanto, reside em um problema anterior, ou seja, em saber o que fazer para não fazer. Sabemos que aparentemente incorremos numa inconsistência lógica, pois é certo que não se pode fazer e não fazer ao mesmo tempo. Entretanto, um exame mais apurado da questão revelará que o fazer da sentença proposta refere-se obviamente a um não fazer, enquanto o não fazer refere-se a um não fazer que é, claramente, o mesmo não fazer do início da sentença. Fica claro, portanto, que não há contradição real, mas aparente, já que não fazer e não fazer correspondem logicamente ao mesmo conteúdo semântico. Convém destacar, também, que a forma igualmente é a mesma.

Assim é, pois, que aprendemos a técnica não muito difícil de não fazer, dando a aparência de fazer (lembrando que, conforme já foi provado, não fazer significa exatamente o mesmo que não fazer).

Saturday, March 26, 2005

Filosofia com prazo de validade

Tenho a firme convicção de que casamento devia vir com prazo de validade: fabricado em..., válido até...

A que devemos o fracasso dos casamentos? À idéia de que serão duradouros! Mas nada como um dia após o outro para mostrar que o que começa bem geralmente acaba muito melhor.

Penso que o mesmo se devia dar com as filosofias. Todas elas, sem exceção, deviam carregar uma etiqueta com data de fabricação e prazo de validade. O prejuízo de não se respeitar o prazo de validade de remédios e alimentos é a intoxicação séria. Uma filosofia com prazo de validade vencido não provoca o mesmo efeito? O problema é que confundimos validade com vaidade e, para a vaidade, não há validade.

E lá se vão as filosofias, engrossar a fila das religiões.

Tudo que você queria saber sobre o Graal e nunca teve coragem de perguntar

Os cientistas que corajosamente ainda abraçam a fé vêm especulando há séculos sobre o destino do Graal. O que eles ainda não sabem é que a peça, única, foi fabricada nos idos de Akenáton, faraó do Egito, e consagrada ao culto do deus Áton, em substituição aos vários utensílios utilizados em libações para diversos deuses. Com a destruição do templo por aquele povinho que não queria nada com um deus que se dizia único, um sobrevivente da família real e fiel adorador de Áton o escondeu antes de ser morto. Moisés, ao matar o egípcio, roubou a preciosidade pensando em vendê-la no caso de passarem fome no deserto (a quem ele venderia, só Moisés poderia dizer). Bem, Moisés roubou o Graal, mas não precisou vendê-lo porque veio o maná, mas acabou tendo uma briga séria com Aarão, seu irmão, quando este quis derreter o Graal para usá-lo no bezerro de ouro que estavam fabricando. Contrariado, Moisés foi para o monte e sumiu por lá, junto com o Graal. Não acharam o corpo de Moisés porque um incauto o enterrou, pensando que era um indigente, e achou que o Graal ficaria bem na estante da sala, quando chegasse à terra santa e pudesse enfim
ter uma sala. Assim, o Graal foi levado para a terra santa, preservado pela mesma família, que não tinha idéia de seu valor. Um dos descendentes do ramo que saiu da Judéia tornou-se mago e, junto com dois amigos magos, empreendeu uma jornada até a cidadezinha de Nazaré, onde ouviu dizer que nasceria o rei dos reis. Queria presenteá-lo com o mais puro ouro, mas como era pobre, a única peça de ouro que possuía era o Graal. A família protestou, mas não teve jeito. O mago que queria ser rei levou a taça de ouro para presentear o bebezinho, pensando prudentemente em sua descendência, que um dia poderia cair nas graças do futuro Grande Rei em virtude desse sacrifício pessoal e familiar. José quis aproveitar para vender o ouro aos fariseus do templo, mas Maria gostava muito de recolher relicários e sempre pensava primeiro no filhinho, que não tinha nada
além do Graal (porque o incenso eles queimaram e a mirra não servia prá nada mesmo). Não seria correto que os pais se apropriassem do que pertencia ao filho. Então Maria ensinou a criança a ver o Graal como um sinal de boa sorte. Não devia, portanto, separar-se dele jamais. E Jesus assim o fez. Durante toda sua curta existência, carregou seu tesouro escondido no alforje. Só decidiu-se a usá-lo ao celebrar, na última ceia que faria, seu iminente desprendimento da carne (e, dizem as más línguas, também do espírito). Era uma ocasião especialíssima. Então, bebeu vinho no Graal, misturado com o sangue dele e de todos os discípulos, num pacto de ajuda mútua após a morte. Mas como ia mesmo morrer, porque a idéia de ser rei dos judeus não foi muito bem aceita, ficou sem saber o que fazer com o Graal. Deu-o a seu irmão Tiago, que se engalfinhou com João dizendo "é meu", é meu!" e venceu a luta. Após a morte de Cristo, Tiago, muito desconfiado de que João tentava roubar o tesouro, resolveu
fugir da Judéia e foi parar na Bretanha. Ali, foi surpreendido, quando tentava enterrar o Graal, por soldados romanos que interpretaram mal o que ele fazia e o mataram. Como Tiago tentava cavar um buraco às margens de um rio, ao ser atingido por uma lança romana, caiu no rio, que tornou-se da cor de sangue a partir de então. O Graal caiu no rio junto com Tiago e a água o lavou sem querer. Mas isso não tem importância, porque os romanos não sabiam mesmo que aquela sujeira pregada na taça era o sangue de Cristo e, mesmo que soubessem, não teriam dado valor suficiente à relíquia. Todo o esforço de Tiago em preservar o DNA de Cristo foi-se neste episódio trágico da queda no rio. O Graal ficou limpinho e continuou seguindo o curso do rio sozinho, até não se sabe onde. Então uma bruxa celta o recolheu vários quilômetros depois e passou a usá-lo em suas bruxarias. Passando o objeto de sétima filha para sétima filha, a última, já na Espanha, esbarrou com o temível Torquemada, piromaníaco, que transformou a região num fogaréu danado de infernal. A bruxinha inadvertidamente tropeçou em um galho de árvore que um lenhador desatento e surdo não percebeu que havia deixado cair e puf... entrou de cabeça na fogueira, morrendo por asfixia porque, ao invés de tirar a cabeça do fogo imediatamente, decidiu primeiro tirar a sacolinha com o Graal dos ombros. O Torquemada, ao passar por ali, encontrou a sacolinha ainda intacta e, curioso, descobriu que em seu interior havia uma coisa parecida com taça, muito velha e suja (a bruxinha tinha por princípio não lavar a taça das poções mágicas) e aparentemente sem qualquer utilidade. Só podia ser mesmo coisa de bruxa, pensou, com horror. Melhor levá-la para a rainha Isabel, de quem era confessor, que enviaria o funesto achado ao papa Inocêncio VII para exorcizá-la. E foi o que fez. O Graal foi parar então em Roma, mas Inocêncio VII estava velhinho demais para dar importância a coisas mundanas e entregou o achado a um de seus cardeais, que sofria de TOC e não suportava a idéia de exorcizar o Graal antes de limpá-lo bem. Assim fazendo, descobriu que tratava-se de uma taça de ouro muitíssimo antiga. Devia haver demônios muito antigos e poderosos ali, já que a taça havia sido preservada, e só um demônio para fazer um objeto tão antigo vir parar em suas mãos. Talvez o próprio Asmodeu! Não convinha a um homem de tão pouca fé enfrentar demônios ferozes. Assim, resolveu levar o achado aos monges recolhidos no mosteiro de Saint Michel para que eles fizessem o trabalho sujo. No entanto, esqueceu que só se chega lá por mar e que a maré alta é perigosíssima. Quando lembrou, já era tarde. Sucumbiu amaldiçoando a taça demoníaca, mas esta foi levada pela maré alta à praia do Monte Saint Michel e resgatada pelos monges. Sem conhecimento de sua origem, os monges julgaram que haviam sido presenteados pelo próprio Deus. Como ninguém consegue entrar em certos aposentos do mosteiro de São Miguel até hoje, tudo o mais que se possa dizer a partir daí é especulação. A taça desapareceu no interior do mosteiro, transformada em relicário dos deuses. Quem a localizou e quem passou, séculos depois, a informação à CIA, que contratou secretamente Jackson Pollock para que codificasse sua localização, é um mistério. Mas a verdade é que o próprio Pollock criou sua série de números como uma mensagem cifrada da localização do Graal. Os números marcam a longitude e a latitude da taça. E foi por isso que ele morreu. Sua morte, assim como a de Diana, não foi um mero acidente de carro gerado pelo excesso de álcool do motorista, mas uma trama bem arquitetada para fazer desaparecer o autor do mapa. A CIA, ansiosa por se livrar de quem sabia demais, ajeitou o acidente de carro fatal antes de Pollock revelar o segredo. Mas esse foi o descuido fatal da Agência de Inteligência: deu um jeito de queimar o arquivo antes de perguntar a ele como ler o mapa. Sem saber o que fazer, a CIA decidiu expor os quadros em um dos lugares mais visitados por estrangeiros nos Estados Unidos: o World Trade Center. Colocaram agentes disfarçados para vigiar diuturnamente o foyer das torres, onde os quadros estavam expostos, a fim de capturar um estrangeiro desavisado que prestasse atenção em demasia à série de números (convenientemente distribuída entre os dois prédios, para impedir que fosse decifrado). O resto é o que se sabe. De alguma forma, Osama conseguiu descobrir que a série era o mapa do Graal e achou que os americanos babacas estavam brincando com ele, expondo daquela forma a localização da preciosidade. Furioso, deu um jeito de destruir as torres e o mapa. E o Graal perdeu-se para sempre.

Monday, March 21, 2005

Elvis não morreu!

Alguém já ouviu falar dos Presleyterianos, aqueles caras que acham que Elvis não morreu; foi abduzido, como Maria?

Pois é. Segundo os adoradores de Elvis Presley, Elvis é Jesus Cristo reencarnado. E não é que a coisa toda tem lógica?

Vejam só:

a) Cristo fala de amor; Elvis também.
b) O corpo de Cristo sumiu; o de Elvis, ninguém viu.
c) Cristo foi à montanha e falou ao povo; Elvis foi à TV e cantou ao povo;
d) Cristo tinha 33 anos quando morreu; Elvis tinha 43.
e) Cristo viveu em Jerusalém; Elvis em Wonderland.
f) Cristo foi apedrejado; Elvis foi vaiado.
g) Cristo encantou multidões; Elvis cantou para multidões.
h) A mãe de Cristo foi abduzida; o próprio Elvis o foi.
i) Cristo foi mal compreendido; Elvis também.
j) Cristo se cercou de marias-madalenas; Elvis também.
k) Cristo continua encantando multidões; Elvis continua cantando para multidões.
l) A mensagem de Cristo sobreviveu ao homem; as músicas de Elvis também.
m) Cristo não foi aceito em sua época como filho de Deus; Elvis também não.

Ergo... Elvis é o novo Cristo!

Então, pergunto:

1: Por que adoramos saci-pererês e não o mico-leão-dourado?
2: Qual é o plural de mico-leão-dourado?
3: Por que a divinização precoce de Elvis nos faz viver melhor?
4: Por que a sacralização do raio que o parta me faz viver melhor?

O passado já era

Estive pensando sobre o que eu gostaria de ver do passado.

1. Os sofistas? Ah, sim, claro. Mas de que iria adiantar, se não falo grego, menos ainda o antigo? Afinal, para os gregos só o grego é... grego! Se a viagem ao passado durasse pelo menos uns três meses (tempo mínimo para aprender a me comunicar, mas insuficiente ainda para entender o que me interessa), até lá eu já teria um monte de outros problemas. :-)) Bem, talvez servisse para que eu ficasse sabendo o que aconteceu com os textos dos sofistas e, quem sabe, recuperá-los. Mas aí eu corro o risco de descobrir que era tudo porcaria mesmo. Não, não. Melhor deixar como está.

2. Ver e falar com Layne Staley (Alice in Chains) e ouvi-lo cantar "won´t you come and save me, save me"(Man in the box)? Daí eu diria: "ô fio, vai dar não. Ou você se salva sozinho, ou nada feito. Não é que eu não queira, não, viu? É que não vai dar, mesmo". Mas aí eu pensei: se o cara saísse daquele fuzuê autodestrutivo e ficasse bem legal, como é que conseguiria escrever aquelas maravilhosas músicas depressivas e cantar tão bem parecendo um bebê chorando pelo colinho da mamãe? Pois é, não conseguiria. E aí, ele ficaria prá lá de deprimido por não conseguir mais escrever músicas depressivas, e escreveria músicas depressivas sobre não poder escrever músicas depressivas. Mas como continuaria escrevendo, deixaria de ficar deprimido por não escrever, mas se deixar de ficar deprimido, não escreve. Se não escreve, fica deprimido. Se fica deprimido, escreve. Mas, se escreve,não fica deprimido por não escrever, e aí não consegue escrever. Ui! Olha eu aí, no meio dessa roleta russa! Melhor deixar quieto.

3. Quem sabe conhecer Amenófis IV e dizer: "deixa disso, moço. É melhor vários deuses que um só. Dilui a fantasia". E aí ele diria, se estivesse em um de seus melhores momentos: "filhinha, prestenção: para um só deus basta UM sacerdote. Sacou?" Ah, tá.

Moral da história: lamentavelmente, o passado é imutável.