Saturday, April 30, 2005

Caixão é para mortos

No século XVIII acontecia com certa frequência de alguém ser enterrado ainda em vida, por engano. Para evitar que isso acontecesse, usou-se o seguinte procedimento: amarrava-se uma cordinha no dedo mindinho do morto que, por sua vez, estava presa (a cordinha) a uma estaca, ao lado da sepultura, com um sininho na ponta. Se o "morto" acordasse, bastaria mover o dedo mindinho, que o sino avisaria o coveiro. Inteligente, não?

Agora imaginem uma ventania. Que trabalheira! Teriam de desenterrar todos os mortos, porque os sininhos estariam enlouquecidos.

Além do medo de barata, só tenho outro medo irracional: acordar em um caixão. Pensando seriamente no problema, resolvi tomar uma atitude: avisei a todos de minha família que quero ser cremada. Assim, não corro risco algum.

Mas a surpresa, mesmo, foi com a reação da família: "ah, então se estiver viva, porque só vai acordar em um caixão se não tiver morrido realmente, quer que a matemos?"

Ué... Se eu acordar em um caixão, alguém vai saber? E nesse caso não vou morrer do mesmo jeito? Se quiser cuidar disso, tem de ser enquanto estou viva, né não? E, depois, eu só quero ter certeza de que vou estar mesmo morta.

Mas, já que ser cremada está fora de questão, sugeri o sininho. Tipo amarrar uma cordinha no meu dedo mindinho, para que eu possa avisar sem fazer muito esforço. Economia de oxigênio, né? Dá prá esperar mais tempo pelo socorro.

Qual nada. A reação da família foi ainda pior. Nem me deixaram explicar direito o que deveriam fazer. :-)))

De um jeito ou de outro, tive de desistir da empreitada. Mas fiquei pensando: e se acontecer mesmo de eu acordar em um caixão? Pior ainda, em um caixão cheio de baratas? Ai! Pode não. Não, não, não.

Talvez escreva um bilhetinho. Mas e se ninguém encontrar?

Velharias 2: Trotes

TROTES COM CALOUROS SÃO NECESSÁRIOS

Crescem as evidências de que, sem exercícios, a capacidade intelectual do calouro fica reduzida

Em meados da década de 60 cientistas de todo o mundo despertaram para uma questão preocupante, que vem se intensificando a cada ano: a grande leva de calouros que a Universidade produz, em oposição à significativa redução no número de veteranos predadores, espécie hoje ameaçada de extinção.

Embora o fenômeno ainda não tenha atraído a atenção de cientistas brasileiros, é certo que alguns de seus desdobramentos já vêm instigando os pesquisadores, em especial no que tange à prática dos chamados "trotes universitários". Estes, segundo nos mostram as pesquisas recentes no setor, vêm sofrendo severas e constantes ações restritivas e punitivas. Entretanto, como veremos a seguir, os trotes exercem um efeito bastante salutar sobre a capacidade cognitiva dos calouros.

Definições

A universidade é o local com condições mais favoráveis para a produção de calouros. Evidentemente há calouros em quase todos os lugares, mas, por alguma razão ainda desconhecida, não são chamados calouros. Nas universidades, entretanto, a cada ano centenas deles invadem as salas de aula cheios de fantasia sobre seu habitat natural.

Como são uma espécie gregária, os calouros sempre andam em bandos. Todos os anos, em maior quantidade durante o verão e em menor durante o inverno, eles abandonam seu lugar de origem e migram para a universidade, onde imediatamente se agrupam em panelinhas. São pacíficos, ordeiros e bem intencionados, mas muito bobinhos.

Em princípio, verificou-se que os calouros são invariavelmente carecas, o que sugere um estranho ritual de iniciação que exclui as fêmeas. Esta ausência parece indicar uma espécie de organização patriarcal entre eles, mas os estudos nessa área ainda são insuficientes e só dispomos de alguns dados preliminares. O que sabemos com certeza é que as fêmeas, mesmo excluídas do ritual, se adaptam melhor ao novo habitat, talvez pela ansiedade em provar que têm talento e cintura fina.

Estímulos Nervosos

Uma experiência realizada com ratos de laboratório comprovou que os calouros respondem imediatamente a estímulos nervosos positivos e negativos, desde que convenientemente motivados. Em 1997 foram feitos estudos comparativos, colocando um calouro num corredor polonês e outro na sala de aula. O que se pôde constatar é que o cérebro do calouro que permaneceu na sala de aula continuou em seu estado cognitivo primitivo, por não ter sido submetido a estímulos nervosos. O calouro do corredor polonês, no entanto, respondeu imediatamente aos estímulos nervosos pulando janelas, saltando muros ou simplesmente correndo, o que significa excelente capacidade cognitiva e resposta sensorial imediata, quando adequadamente motivado.

No entanto, a possibilidade remotíssima de acabar com a espécie, o que resultaria em grave desequilíbrio ecológico aos campi, vem reduzindo gradativamente a incidência de trotes.

A ciência moderna ainda não comprovou, mas é bastante provável que haja uma terceira espécie nos campi, ainda não identificada, que seria predadora de veteranos, principalmente daqueles que se dedicam a trotes como o do corredor polonês.

Usar ou Perder

Em 2003 o Dr. Arnold Schwarzenegger, neurologista da Universidade da Califórnia, comprovou que a inatividade provoca deterioração mental. Em contrapartida, o mesmo Dr. Schwartzenegger garantiu que os trotes provocam uma espécie de alongamento do cérebro dos calouros.

A idéia de que músculos ociosos acabam por atrofiar-se é antiga. Bichinhos criados com poucos desafios tornam-se ineptos para o estudo e para a vida. Assim, segundo o especialista, a prática de atividades desafiadoras pode auxiliar os calouros a enfrentar dificuldades ou situações vexatórias, melhorando seu desempenho escolar.

A grande questão da atualidade é, portanto, evitar que os trotes desapareçam, posto que sua ausência implica no surgimento de uma sub-raça de calouros, estagnada intelectualmente.

Os Predadores

Os calouros sentem-se vitoriosos na batalha por uma vaga. Julgam que sua cabeça cheia de teoremas, fórmulas e revistas playboy os levará ao altar da fama. Mas eis que esta espécie tão cordata e obsequiosa esbarra em um perigoso inimigo, dono do espaço a ser conquistado: os temíveis veteranos, predadores de calouros.

Os veteranos, embora cruéis, atacam suas vítimas apenas nas primeiras semanas. Convivendo com seus aparentados, os macacos, sentem-se ameaçados por este invasor, movidos por um estranho "complexo de castração".

Embora várias teorias tenham surgido para explicar o fenômeno, tentaremos nos concentrar nas duas principais: alguns pesquisadores suecos, ainda anos 80, provaram que o cérebro do veterano regride 1,5 pontos por ano na escala de QI. Uma regressão pouco significativa, mas que parece ser a força motriz dos trotes.

Outros pesquisadores descobriram que o quociente intelectual de um indivíduo é inversamente proporcional à quantidade de fios de cabelo que ele possui. Ou seja, cada fio de cabelo, ao brotar no couro cabeludo, bloquearia a passagem de oxigênio para o cérebro. Assim, numa longa cabeleira teríamos um cérebro sem oxigenação, o que é suficiente para explicar porque os veteranos preferem o bosque às salas de aula.

Esta teria sido a razão que levou alguns renomados cientistas a admitir publicamente que a careca do calouro é uma provocação aos veteranos. Desta forma, os trotes não passariam de uma reação involuntária a uma provocação também involuntária.

Novos Avanços da Ciência

O grande sonho da Calouromedicina, ramo da ciência relativamente novo, é estabelecer um paralelo entre a memória do calouro e sua compulsão por imitar, tendo em vista que os calouros de hoje serão os predadores de amanhã.

Observa-se uma verdadeira explosão de pesquisas na área. Nos anos 70, pesquisadores do Instituto de Massachussets, EUA, deram os primeiros passos neste sentido, mas não conseguiram resolver o problema. Em vista disso, apenas alguns mapas parciais vem sendo traçados.

Como não é possível realizar experiências com o cérebro humano, os cientistas têm recorrido a animais com sistemas nervosos bem simples, como as lesmas, que possuem apenas memória hábil e, portanto, um cérebro bastante similar ao do calouro.

O método básico consistia em treinar a memória das lesmas em laboratório, com trotes semelhantes aos praticados nos corredores universitários, visando induzi-las a praticar essas ações em seus semelhantes. O curioso da pesquisa é que as lesmas se recusaram a massacrar seus iguais, o que comprova mais uma vez a espantosa semelhança entre lesmas e calouros, porque, como sabemos, estes últimos jamais praticam trotes entre si.

Aprendendo a Reagir

Como já dissemos, a Calouromedicina é uma ciência nova, com um vasto campo de trabalho ainda inexplorado e um número ilimitado de incógnitas que talvez somente a geração futura consiga desvendar. Em vista disso, resta-nos dar um conselho aos calouros: sejam predadores também. Façam amanhã o que fazem com vocês hoje. Mas cuidado para não acabar com a espécie.

Velharias 1: Filosofia para a morte das baratas

Esta é dos meus tempos de Cronista da Folha de Alface:
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DA IMORTALIDADE DA ALMA DAS BARATAS

Um diálogo entre Sócrates e Símias, convenientemente esquecido por Platão

SÓCRATES
Diga-me, ó Símias: não é precisamente a alma desligada e posta fora do corpo que caracteriza o que chamamos filosofar?

SÍMIAS
Isto é correto.

SÓCRATES
E não crês que as baratas têm uma alma desligada do corpo?

SÍMIAS
Certamente que sim.

SÓCRATES
E que, da mesma forma, sua alma é posta fora do corpo?

SÍMIAS
Precisamente.

SÓCRATES
Se é assim, concordas então que é preciso conhecer as baratas para bem filosofar?

SÍMIAS
Se tu o dizes, é porque é verdade.

SÓCRATES
Vejamos, então, caro Símias: por¬ventura a ausência de baratas não é próprio das casas em que seus moradores têm horror a elas?

SÍMIAS
Necessariamente.

SÓCRATES
E que, assim como há o desprezo pelas baratas, há também o desprezo pelos filósofos?

SÍMIAS
Bem o dizes.

SÓCRATES
Basta, então, que tenhas a bondade de refletir um momento sobre este animalzinho para que percebas toda a sua grandeza.

SÍMIAS
Que queres dizer, ó Sócrates?

SÓCRATES
Sabes que, assim como acontece com a alma do filósofo, a alma das baratas se inclina para o que está acima delas?

SÍMIAS
Por certo que sim. Elas se esforçam para voar.

SÓCRATES
Bem o compreendes, ó Símias. Mas, semelhantemente aos homens, nem todas podem voar, ainda que, no tocante às baratas, seja evidente que todas elas se inclinem nesta direção. Compete-nos, pois, no exercício da busca à verdade, investigarmos primeiramente este animalzinho.

SÍMIAS
Como és sábio, ó Sócrates!

SÓCRATES
Se estamos de acordo sobre este ponto, passemos então ao seguinte. Não há, a meu ver, algo que seja mais verdadeiro que isto: que o vôo da barata é rasante e que ela mantém o trasei¬ro levemente inclinado num ângulo de 35 graus.

SÍMIAS
Sim, por certo.

SÓCRATES
Consideremos, pois, que freqüentemente ela se desequilibra e vem parar direto em nossas costas ou cabeças.

SÍMIAS
O que dizes é a mais pura verdade.

SÓCRATES
Por conseguinte, não há absolutamente razão alguma para que as baratas possuam asas e voem.

SÍMIAS
Absolutamente nenhuma.

SÓCRATES
Sendo assim, devemos considerar as razões que levariam uma barata a ter asas e tentar voar.

SÍMIAS
Mas de que forma, ó sábio Sócrates, esta investigação nos levará à compreensão do que chamamos filosofar?

SÓCRATES
Diga-me antes, caro Símias, o que entendes por filosofar.

SÍMIAS
Parece-me, Sócrates, que consiste na busca da verdade.

SÓCRATES
Bem o compreendes, ó Símias. Sendo assim, diga-me: quando investigamos as baratas, não estamos, ao mesmo tempo, procurando compreender a verdade sobre as baratas?

SÍMIAS
É o que parece, quando tu o dizes desta forma.

SÓCRATES
Sendo assim, parece-nos que devemos investigar antes outra questão e, respondendo à segunda, venhamos a responder à primeira, o que nos levará a outra questão, respondida após termos encontrado respostas para as demais.

SÍMIAS
Parece-me um tanto confuso, ó Sócrates.

SÓCRATES
E é, com efeito. Diga-me, Símias, não é verdade que tudo o que existe, existe de algo e para algo?

SÍMIAS
Ouço com prazer tua explicação.

SÓCRATES
Não ignoras tu que a barata, ao ver um retrato de si mesma, pode recordar a si mesma?

SÍMIAS
Seguramente que sim.

SÓCRATES
Sendo assim, o ponto de partida da barata é precisamente seu ponto de chegada.

SÍMIAS
Assim, pois, o que pretenderias, ó Sócrates? Acaso afirmas sem dúvida que existe o igual em si mesmo e que a barata, quando recorda, recorda seu igual?

SÓCRATES
E por que não, com efeito? Não concordamos anteriormente que a alma é superior ao corpo?

SÍMIAS
Não tenho a tua sabedoria, caríssimo Sócrates, nem a tua memória.

SÓCRATES
Com certeza tens, mas não o sabes. Em todo caso, não concordas que estes animais, como existentes, existem de algo e para algo?

SÍMIAS
Por certo.

SÓCRATES
Por conseguinte, as baratas existem de outras baratas e para outras baratas?

SÍMIAS
Naturalmente que sim.

SÓCRATES
Assim, pois, obtemos este princípio geral da criação, segundo o qual é das coisas que vem as coisas e, assim como são as pessoas, são também as criaturas.

SÍMIAS
Perfeitamente.

SÓCRATES
Temos disto urna prova magnífica: interroga-se uma barata. Se as perguntas forem bem conduzidas, por si mesma ela dirá como são as coisas.

SÍMIAS
Tens razão, ó grande Sócrates.

SÓCRATES
Entretanto, ó Símias, há algo mais a ser investigado. Se as baratas vêm de outras baratas, é correto dizer que o conhecimento que possuem e não sabem que possuem vêm de outros conhecimentos de outras baratas.

SÍMAS
Por Héracles, vejo que tens razão.

SÓCRATES
E o fazes, Símias, porque, assim como as baratas, tens memória, embora não o soubesses até bem pouco.

SÍMIAS
Compreendo, Sócrates, e percebo agora quão parecidos somos com os insetos.

SÓCRATES
É verdade, mas não te esqueças de que, assim como alguns insetos se distinguem de outros insetos, alguns homens se distinguem de outros insetos.

SÍMIAS
Assim, pois, pergunto novamente: o que pretendes, ó ditoso Sócrates?

SÓCRATES
Não te aborreças, caro Símias. Procura em ti mesmo as respostas.

SÍMIAS
Tu afirmaste, ditoso e sábio Sócrates, que estes animais deveriam entregar seus próprios corpos ao abandono.

SÓCRATES
Bem o recordas.

SÍMIAS
E, entregando a si mesmo ao abandono, encontraria a si mesmo?

SÓCRATES
Parece-me claro que este animal somente alcançaria o açúcar verdadeiro se renegasse sua condição de barata existente.

SÍMIAS
Assim, ó Sócrates, crês que as baratas somente seriam verdadeiramente baratas renegando sua existência?

SÓCRATES
É precisamente o que acabei de afirmar.

SÍMIAS
E que, por conseguinte, seria necessário que morressem para que vivessem?

SÓCRATES
É o que digo.

SÍMIAS
Esclareça-me pois, ditoso Sócrates, de que forma precisamente a filosofia para a morte das baratas pode de fato resultar na morte das baratas.

SÓCRATES
Tua pergunta demonstra toda tua sabedoria, Símias. Entretanto, para que te responda, precisamos antes investigar outra questão e, respondendo a esta por meio de outra, retornemos ao questionamento que tu tão sabiamente fizestes. Só então poderemos saber com absoluta certeza de que forma a filosofia das baratas pode efetivamente contribuir para inspirar nelas o desejo espontâneo de morrer. Tenhas um pouco mais de paciência, caro Símias, e retornemos à questão anterior. Assim, pois, vejamos que...

Friday, April 29, 2005

Santa Ceia

Pois é, nem só de batata vive o filho do homem. Bastou aparecer em uma batatinha frita, e Cristo já virou arroz de festa. Anda circulando esfomeado por esse mundão de meu deus cheio de fast food, pizzas, cachorros quentes, pastéis de rodoviária e geladeiras. Desse jeito não tem Cristo que agüente. Vai acabar engordando.

Mas a vantagem de Cristo engordar é que vai ficar irreconhecível, o que significa que podemos voltar a comer em paz, sem culpa ou arrependimento.

Eis as últimas de Cristo:

- Pão: Em 2002, na Índia, a imagem de Jesus foi vista em um pedaço de pão. Até aí nada de mais. Afinal, pão é o corpo dele, né?
- Peixe empanado: o canadense Fred Whan achou a conta do almoço alta demais, mas pagou com o milagre da refeição: um peixe empanado com a imagem de Jesus Cristo.
- Ostra: em 2003 o italiano Matteo Brandi encontrou uma ostra com o rosto de Cristo e está esperando comprador. Mal encontrou Jesus e já vai vender...

Ah, e não é só Cristo não. A mãe resolveu dar as caras também:

- Sanduíche: Em 1984, a americana Diane Duyser descobriu que seu sanduíche vinha com o selo da Virgem Maria. Prova: dez anos se passaram, e nada de mofo. No ano passado, um cassino comprou o sanduíche por US$ 28 mil... Esse é o verdadeiro testemunho da fé: uma vida que mudou radicalmente depois do encontro com Maria.

E olha ali o Alá:

- Em 2004, palestinos encontraram a palavra Alá no pêlo de um cordeiro. Em árabe, claro. Acreditem em mim, esse cordeiro nunca vai ser normal.

Aí estão os links:

Pão: http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/south_asia/2484195.stm

Peixe empanado: http://www.globetechnology.com/servlet/
story/RTGAM.20041124.gtnats24-8/BNStory/Technology

Ostra: http://tv.terra.com.br/jornaldoterra/interna/
0%2C%2COI49926-EI1039%2C00.html

Sanduíche: http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/
internacional/2004/11/23/jorint20041123006.html

Cordeiro: http://www.palestinetoday.org/gallery/March-0004/March_24_04_allah_spelled_out_in_Arabic_on_Hebron
_lamb_coat_Photo_By_Nayef_Hashlamoun

Thursday, April 28, 2005

Sapo não!

A internet é mesmo maravilhosa. Pesquisei no Google a palavra "sapo", porque queria encontrar o site português com esse nome, e sabem o que descobri, assim, por acaso? Que uma mulher iraniana pariu um sapo cinza! É mole ou quer mais? Não deve ter sido um parto difícil, né? A coisa é escorregadia. Difícil é saber o que fazer com o bichin depois.

E ainda tem gente culpando a sujeira da piscina... Eu, hein? Haja sujeira.

Freud, socorro! Vá lá beijar a coisinha (Bettelheim e os irmãos Grimm que o digam); vá lá chover sapos, mas parir o bichin é coisa prá lá de Bagdá. Ou prá cá? Whatever. Tô fora. Piscina, never more.

Ah, o link com a foto da belezinha? Claro, por que não? Clique no título.

Tuesday, April 26, 2005

Não compre salmão, compre saúde

E por falar em problema, lembrei da barraquinha de Antífon.

Antífon era um sofista grego, que viveu entre os séculos V e IV a.C. Não sabemos quase nada sobre ele e pouca coisa restou do que escreveu (alguns fragmentos reunidos sob o título Alétheia). É possivel que ele e Antífon de Ramno, orador e político ateniense de grande expressão, executado em 411 a.C., tenham sido a mesma pessoa, mas não se sabe com certeza.

O que sabemos é que ele abriu uma barraquinha na cidade de Corinto, anunciando que podia curar todas as doenças. A idéia era a seguinte: todos os males, sejam do corpo ou da alma, podem ser tratados por intermédio da palavra.

Esta era uma idéia recorrente na sofística, e um registro mais preciso disso está no Górgias de Platão e no Elogio de Helena do próprio Górgias, mas o curioso a respeito de Antífon é que ele chegou a transformá-la em um pequeno negócio. Certamente não oferecia saúde de graça, e muito menos vendia a preço de banana. Considerando o perfil dos sofistas, dificilmente. Devia ser negócio mesmo. O fato é que ele oferecia seus serviços em uma espécie de sala, ou barraca, perto da praça do mercado, no centro de Corinto.

Fico imaginando a barraquinha de Antífon, com um anúncio do tipo “Curo todos os males sem dor ou anestesia geral”, ao lado de barraquinhas de peixe, hortaliças, adereços, sandálias, mantas, incenso etc. Só pode ter sido bem sucedido.

Fim dos problemas com a língua portuguesa

Sabe aquelas dificuldadezinhas com que a gente sempre esbarra, ao escrever? Sim, aquelas dúvidas sobre concordância, regência, pontuação, conjugação? Lembra do primeiro grau, em que tínhamos de saber se uma conjunção era subordinada ou coordenada, mas nunca sabíamos o que fazer com ela? Tá lembrando daquela coisa "eu ouvia, tu ouvias, ele ouvia, nós ouvíamos e vós, o que 'estavam' fazendo mesmo?"

Pois é, chegou a ultra-hiper-super solução para todos os problemas com a língua portuguesa, absolutamente todos: é só usar hieróglifos, ora essa! Como é que ninguém pensou nisso antes?

Clique no título desta mensagem e poderá fazer isso em três tempos.

É claro, ninguém vai conseguir ler, mas pense pelo lado positivo: ninguém saberá também quando errou.

Monday, April 25, 2005

Pirateando íbis

Quem acha que pirataria é coisa nova, que a tecnologia trouxe a reboque, engana-se redondamente. Arqueólogos encontraram em uma tumba, no Egito, um número impressionante de íbis mumificadas, em bom estado de conservação. Até aí nada de novo. A íbis era um animal sagrado. Por ser um pássaro, representava a liberdade. Os egípcios da época dos faraós tinham o costume de presentear os mortos, especialmente os ilustres, com uma íbis mumificada, para que o pássaro concedesse ao espírito do morto a liberdade, ou qualquer coisa assim. Bem, esse morto recebeu centenas de pássaros mumificados. O curioso da história toda é que, após o exame de raio X dos animais mumificados, descobriu-se que a esmagadora maioria era falsificada. Dentro das bandagens havia de tudo, menos pássaro.

Conclusão? A pirataria é coisa velha, velhíssima.

Será que as famílias que compraram os animais embalsamados para presentear o morto sabiam que estavam comprando gato por lebre? Provavelmente não, já que só especialistas sabiam mumificar e, depois de concluído o trabalho, dificilmente alguém iria examinar o que havia por trás das bandagens. Já que a íbis era um animal sagrado, é pouco provável que alguém ousasse sequer desconfiar da prática.

Mas também pode ser que soubessem e que comprassem assim mesmo porque devia custar bem menos que o original (tipo uns 10%, para valer a pena o sacrilégio). O morto, é claro, haveria de perdoar a pequena falha.

O que vale é a intenção, né?

Saturday, April 23, 2005

É perigoso estudar grego

Há armadilhas perigosíssimas para quem se inicia no estudo do grego. Evitar ler qualquer coisa em voz alta é o segredo para escapar delas. Mas, se tiver de ler, prepare-se. Tome fôlego, respire fundo, crie coragem e, sobretudo, esteja pronto para qualquer eventualidade. Nunca se sabe o que vai dizer, quando estiver concentrado em decifrar o que está lendo.

Mas não desanime. Pensando no bem-estar do aluno empolgadíssimo e nada previdente, preparei um manual de regras básicas para que ele não meta os pés pelas mãos na aula de grego:

1. Comece tomando cuidado com o alfabeto. A letrinha θ, correspondente ao “th” inglês, chama-se “theta”. A pronúncia é théta, viu? Prestenção.

2. O verbo ακουω (eu escuto) é outra encrenca das boas. Leia-se, na primeira pessoa do singular, acúuo. Claro, pode ser o nosso verbo defectivo “acuar” na primeira pessoa do singular, mas sabe-se lá. Melhor evitar, né?

3. Agora, se não me escutar, triste mesmo será tentar dizer esse dito cujo na terceira pessoa do plural do indicativo ativo: ακουουσιν (pronuncia-se acúuzin e significa “eles ouvem”). Melhor fugir pela tangente: diga "eles são surdos". Claro, também pode soar como alguém lá do sertão de meu deus tentando dizer “a cozinha” ou “acuso sim”, mas vá por mim. Inclua-se fora desta antes que seja tarde demais.

4. Não tenha pressa em pronunciar o verbo de ligação ειμι (ser/estar) na primeira pessoa do plural do imperfeito, porque pode acabar jogando um iota (i) onde há um éta (e): Ημεν pronuncia-se “émen”, tá?

5. Fuja de qualquer situação em que tenha de perdoar em grego. Olha só o que lá pelas tantas terá de dizer: συγχωρησον! Algo como “sinrrórezon”, com a dificuldade adicional de que o "X" (a letra khi) é aspirado. Impronunciável, né? Melhor tomar cuidado com o que vai dizer.

Mas o mais interessante é a palavrinha ωταριον: otárion. Quando a vi pela primeira vez, pensei: nossa, então é daí que vem o otário! Pois é, engano meu. Otarion significa orelha. É, isso mesmo, orelha. Daí fiquei pensando: será que “otário” é aquele que escuta mas não ouve?

Sim, estou prestando atenção na aula.

Bem, há muito mais, mas vou creditar as preciosidades mais perigosas na conta das coisas que não se diz e não se escreve nem de brincadeira, se se quiser manter a boa educação.

Para concluir: alguém já se sentiu incomodado em sair por aí dizendo “bom dia” a todo mundo que vê, ou eu sou a única? Sei não. É cacofônico demais pro meu gosto. Alguém devia consertar essas coisas. Vai que a gente erra... E aí? Quem é que paga a conta?

Embarquei na nau dos loucos e viajei

Hoje tive um sonho extraordinário. Sonhei que havia enlouquecido.

Bem, não exatamente. Eu tinha enlouquecido mesmo, mas como estava realmente louca, achava que não. :-))) Explico: eu percebia uma situação de um modo peculiar, bastante peculiar, o que incomodava as pessoas. Insistiam em dizer que as coisas não eram como eu as via, mas não adiantava. Então me internaram em uma instituição, contra minha vontade, e fui direto para uma salinha de dois metros quadrados. :-))) Quando me vi entre quatro paredes, com todo mundo insistindo que eu não estava em meu juízo perfeito, inclusive um médico prá lá de doido, comecei a duvidar de mim mesma. E entender que estava mesmo louca.

Nesse instante preciso, acordei.

O sonho da loucura acabou exatamente quando comecei a compreender. Ou seja, quando a razão falou mais alto.

Acabou a loucura, acabou o sonho.

E o pior é que sonhei mesmo. Exatamente como contei.

Tuesday, April 19, 2005

Habemus papam?

Pra encerrar a conversa:

A fumacinha branca veio. Habemus papam. Habemus Bento XVI.

Que nome interessante, não? É só trocar o 'n' por 'a' e temos o décimo-sexto beato. Isso, sem falar que Bento quer dizer “ungido”. Vem do adjetivo latino benedictus, a, um (originalmente o particípio passado do verbo benedico, benedicere, benedixi, benedictus, que significa benzer, abençoar, ungir). Trocando em miúdos: bento significa abençoado, ungido, sagrado, aprovado.

O que essa escolha pode querer dizer, considerando-se o caso anterior, em que o polonês intitulou-se ‘João Paulo II’? De João e Paulo, dois seguidores de Cristo, passamos para o Bento, cujo nome já diz ser ‘ungido’. Certo, João e Paulo viraram santos, mas foi por suas ações. O Bento já nasceu santo. Um progresso evidente.

Bem, vou deixar o homem em paz. Já está em fim de carreira mesmo e, depois, deve ser realmente muito abençoado. Chegou lá, né? E por obra e graça do espírito santo.

Extra! Extra! Racismo no Vaticano!

Peraí! Pára, pára tudo! Tem coisa errada na fumaça do papa!

A fumacinha preta lá na chaminé do papa simboliza o negativo: insucesso, impasse, desacordo etc. A fumacinha branca simboliza o positivo: sucesso, coesão, consenso, entendimento etc.

Cadê o povinho do politicamente correto prá dizer agora que fumacinha preta é racismo? E não adianta inventar desculpa, não. Ela bem que podia ser azul, verde, vermelha, roxa etc (amarelo pode não. Cor-de-rosa também é melhor evitar).

Afinal, é simbólico ou não é?

E por falar nisso, abaixo a fumacinha do preconceito! Que tal uma passeata contra o preconceito racial implícito nas noções de claro/escuro, trevas/luz, escuridão/iluminação?

A fumacinha do papa

Como todo mundo, também estou esperando ansiosamente para ver a fumacinha branca do papa. Até que enfim, né? Mas, decepção!, a fumacinha expelida ontem foi negra. Hoje também. Chegará o dia em que a fumacinha do papa será tão branca quanto a castidade? Pode até ser, mas por enquanto a coisa está preta.

Sunday, April 17, 2005

Blow Up, de Antonioni

Hoje quero falar de cinema. Sugiro a quem goste de filmes que saem do circuito ação/violência/terror que veja o filme ‘Blow up” (com o detestável subtítulo em português ‘Depois daquele beijo’), de Antonioni (1967). Aí está, em minha opinião, um grande filme. A história é baseada em um conto de Julio Cortázar e gira em torno de um fotógrafo que, com a intenção de fotografar uma cena idílica para compor as ilustrações de um livro, acaba registrando, sem perceber, um assassinato.
A riqueza do filme não está na história em si, mas na forma como é contada. As seqüências são lentas (com momentos de quase inércia), sem trilha sonora. Prepare-se. Os únicos sons do filme são os que a personagem ouve. O mundo é como ele o vê. No entanto, ao longo do filme a personagem principal vai aos poucos descobrindo que a cena que presenciara e fotografara em um parque, de um casal se beijando, não era real. A partir de ampliações das fotografias, a personagem vai aos poucos desconstruindo a imagem idílica e construindo, subjetivamente, um real que nada tem de idílico. O problema é que este real é uma síntese que se dá no interior de uma subjetividade. Por isso, não pode ser comunicada. A cena final, genial, mostra a personagem em absoluta consciência de sua solidão e, ao mesmo tempo, compactuando com o simbólico. Extraordinário.

Dizer mais é estragar a surpresa. Mas vale a pena ver. E refletir sobre o filme.

Wednesday, April 13, 2005

Nunca faça testes online

Fiz um testezinho pela internet, para saber a quantas anda minha relação com deus. Saiu 'ateísmo'. E agora? O que faço com o Elvis?

Eis o resultado: ateísmo (96%), Budismo (63%), Satanismo (63%), agnosticismo (63%), Cristianismo (33%), Paganismo (33%), Judaísmo (25%), Hinduísmo (17%), Islamismo (17%).

No mesmo site há também um teste para saber que filosofia você segue (no meu caso deu hedonismo, com 90%, olha só!) e, ainda, que desordem mental você tem. Esse último é bem safado. Eu respondi 'disagree' para tudo (claro, se é um teste para saber se você tem alguma doença mental, a melhor resposta para cada situação doentia é o não). Só que aí apareceu uma janelinha me obrigando - sim, obrigando - a escolher uma entre as opções apresentadas (já que tinha recusado todas antes). Fiz o teste duas vezes, para testá-lo (acho que isso já dá prova do meu estado mental). Da primeira, saiu 8% para depressão e 0% para o resto. Da segunda, como as opções eram outras e tinha de escolher uma, optei pela mais inofensiva: sinto que estou no controle quando passo dias em dieta rigorosa, qualquer coisa assim (o que absolutamente não é o caso). Então saiu, claro, que tenho alguma desordem ligada à alimentação, 8% e 0% para o resto.
Ou seja, burlando ou não o teste, sofro de alguma desordem mental, porque sempre terei de dizer "sim" a uma situação doentia. :-)))

Melhor deixar prá lá.

Minha questão com as questões

O que considero o uso abusivo de questões tem me incomodado já há bastante tempo e pensei em escrever sobre isso, talvez como catarse; talvez, quem sabe, para convencer uma alma qualquer a ser comedida ao tratar de tantas questões e, assim, poupar ainda que modestamente meus ouvidos e meu fígado. Mas, ao começar, ocorreu-me que há tantas questões e tantos abusos em torno das questões que o melhor que eu teria a fazer, ao invés de protestar, era mesmo aderir à moda, ou seja, abusar também, e propor uma metaquestão inédita: a questão da questão.

É certo que as questões viraram questões com a preciosa ajuda de um intelectual. O habitat natural das questões é a academia, onde elas se multiplicaram e atingiram proporções inimagináveis. Fora do mundo intelectualizado, não há questões; há problemas. O desempregado não se preocupa com a questão do desemprego; via de regra, ele quer trabalhar. O esfomeado não se preocupa com a questão da fome; ele quer se alimentar. O sem-teto não se preocupa com a questão da falta de moradia; ele quer um teto. Entretanto, como os acadêmicos não são nem desempregados, nem esfomeados (salvo raras exceções), nem desabrigados, não há porque duvidar de que as questões tenham surgido no meio acadêmico, e isto é tudo que podemos dizer sobre a questão do histórico do problema.

Hoje tudo é questão. Há a questão do e-mail, a questão da internet, a questão do menor abandonado, a questão do maior abandonado, a questão do aumento da criminalidade, a questão do Lula, a questão do analfabetismo funcional, a questão do deficiente, a questão do Bin Laden, a questão do Bush, a questão da Palestina, a questão do juízo sintético a posteriori, a questão da reencarnação, a questão da saúde, a questão da doença,a questão dos animais, a questão dos E.T’s, e assim por diante. Há ainda, por incrível que pareça, a questão que se coloca a respeito da questão do imponderável, e essa é uma questão deveras importante, sobretudo para aqueles que estão envolvidos com a questão da religiosidade. Mas para estes também é importante compreender a questão do ateísmo.

Há questões fundamentais, questões relevantes, questões irrelevantes, mas é tudo uma questão de questão. É preciso, pois, que eu levante a questão de saber qual é a questão por trás da questão. Mas a pergunta fundamental, anterior a todas as outras, é: por que quero saber qual é a questão da questão?

Bem, não vou resolver a questão. Isso seria deselegante e, claro, deve-se levar em consideração a questão da prudência também, assim como a questão da boa convivência.

Em todo caso, que fique registrada a minha pequena contribuição à questão e, mais ainda, à profusão de questões, questionamentos rasos e absolutamente nenhum problema.

Monday, April 11, 2005

Perguntinha básica (1)

Se toda loira é burra, por que toda mulher quer ser loira?

Sunday, April 10, 2005

Estudo não é diversão

Há uma idéia generalizada de que o ensino, para ser eficiente, deve ser lúdico. Os alunos vão para a sala de aula esperando que o professor faça piadas, dê piruetas e seja engraçado. Quando isto não acontece, a aula é chata.

Essa mentalidade revela o desejo do aluno de ser “distraído” do conteúdo, como se estudo não fosse uma atividade séria, que exige muito esforço e dedicação.

Não tenho nada contra aulas divertidas. Tanto melhor que seja assim. O que não posso aceitar é que o professor tenha a obrigação de fazer rir, o que significa dizer que a responsabilidade pelo aprendizado é inteiramente de quem ensina. Dizer que o professor tem de ser engraçado é o mesmo que eximir o aluno de responsabilidade por seu próprio aprendizado, torná-lo passivo e pouco crítico.

Competência para divertir e distrair a audiência a gente exige de palhaços e apresentadores de programas de auditório, não de mestres. Essa inversão de papéis é nociva porque estudo não é entretenimento, e nem deve ser.

É claro, não estou afirmando que o estudo deva ser uma coisa chata, cansativa e monótona. Estou apenas chamando a atenção para o extremo oposto, quando a competência de quem ensina é medida por sua capacidade de agradar, divertir e entreter.

Saturday, April 09, 2005

Pecados no tapete da sala

Sabe aquela manchinha no tapete da sala, que não sai de jeito nenhum? Pois é, há uma explicação lógica para tudo, até para isso.

Não, não. Nada dessa história de que alguém inadvertidamente derramou algo no tapete, ele não foi lavado quando deveria, e agora a mancha não sai. Nada disso. A explicação é muito mais simples e muito mais lógica. Trata-se da mancha do pecado, que só pode ser removida pelo sangue de Jesus derramado na cruz. Duvida? Então clique no título.

Ou seja, a mancha não vai ser removida nunca, porque o sangue de Jesus já secou e desapareceu há tempos. Não está disponível nas prateleiras dos supermercados, na seção "produtos de limpeza". Vá por mim, nem adianta procurar. E, depois, não somos todos pecadores? Pois é.

Só não sei como explicar os tapetes que não têm manchas.

Em todo caso, aconselho nunca levar o tapete à lavanderia. Caso se atreva, não se esqueça de avisar que a manchinha deve ficar exatamente onde está, viu?

Ou será que você já deixou de pecar?

Thursday, April 07, 2005

Ok, você venceu. Batata frita sagrada!

Já dizia Shakespeare que “há mais coisas entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã filosofia”. E não é que ele tinha razão? Há uma batatinha frita.

Explico: nos Estados Unidos alguém foi abençoado com o milagre da aparição de Cristo numa batatinha frita, talvez enquanto saboreava um lanche altamente calórico em um destes MacDonald’s da vida. Certamente não era uma destas tirinhas engorduradas, as tais French Fries. Só mesmo um milagre para alguém encontrar um rosto ali. Não; deve ter sido, com certeza, uma batatinha daquelas bem redondinhas, secas e achatadas, as Potato Chips (a distinção é relevante, tá?).

Mas o que quero saber mesmo é o seguinte: diante de um milagre tão extraordinário, o que terá feito o homem agraciado? Será que comeu a batata? Afinal, para que serve uma batata frita? Mas também pode ter pensado que isto é um sinal claro de que Jesus ama as batatas, ou o MacDonald’s, ou quem sabe a gordurinha localizada, ou o colesterol, ou até os americanos, já que essas coisas só acontecem por lá. Mas ele também pode ter examinado a porção inteira, procurando os rostos de Maria, João, José, Pedro etc. Não encontrando, será que procurou também nos pratos, copos, guardanapos, talheres? Ou simplesmente guardou a preciosidade para divulgação posterior, quando se tornaria conhecido como “o homem da batata frita sagrada”?

Certo, eu nunca vi Jesus em uma batatinha, mas eu sei por que. Primeiro, não sei que rosto Jesus tinha, então como saber se é mesmo ele? Depois, não tenho olhos para ver, nem ouvidos para ouvir. E, por último, sou descuidada demais. Sempre que comer batatinha frita, devo examinar uma por uma cuidadosamente, né? Vai que é Cristo...

Monday, April 04, 2005

Erraram no genitivo

Em 2000 foi encontrada, no Paquistão, uma múmia adornada em ouro, bem conservada, com uma inscrição cuneiforme dizendo tratar-se da filha do Grande Rei Xerxes.

A descoberta abalou o mundo científico e ameaçou mudar a história da humanidade. Os persas, até onde se sabe, não mumificavam seus mortos ilustres. Como um seguidor de Zoroastro faria algo assim? Pensou-se que o rei persa talvez tivesse contratado embalsamadores egípcios para a tarefa, já que havia contratado escultores egípcios para adornar Persépolis, mas isso também parecia absurdo. Em todo caso, descobriu-se que a mumificação não podia ser obra dos antigos egípcios. Havia diferenças significativas. Restava saber se era obra dos persas.

Lá pelas tantas, um estudioso da escrita cuneiforme percebeu um detalhezinho insignificante, mínimo, sem importância alguma, na inscrição: na construção da frase "Rhodogune, do Grande Rei Xerxes filha" FALTAVA O SUFIXO NA PALAVRA REI QUE INDICAVA O CASO GENITIVO! Isto é, a frase, como estava, dizia mais ou menos o seguinte: "Eu sou Rhodogune, Grande Rei Xerxes filha". Nada de mais, né? Mas isso mudou tudo. Nenhum escriba persa cometeria um erro de gramática tão elementar. Conclusão? A múmia é falsa! Claro, podia não ser persa, mas ainda assim ser antiga. Então fizeram o teste com carbono 14. O que descobriram? Que a mulher mumificada havia morrido em 1996. Sim, 1996! Isso mesmo, a data é essa.

Como não se tratava de antiguidade, retiraram as bandagens e fizeram uma tomografia. Alguns indícios apontaram para a possibilidade de a mulher ter sido assassinada com o propósito de tornar alguém rico (se fosse verdadeira, a múmia valeria 30 milhões de dólares). Ou seja, o caso que exigiria uma revisão nos livros de história virou assunto de polícia.

Fiquei me perguntando, após ler sobre esse episódio, se a religião pode realmente tornar os homens melhores. Claro, a religião tem uma função política, mas nisto ela não está sozinha. O argumento de que as religiões são capazes de tornar os homens moralmente melhores só serve para elas. Mas será mesmo assim? Como pode um país profundamente religioso, quase teocrático, junto com o Irã (este, sim, uma teocracia), ser o maior ‘fabricante’ de múmias falsas do mundo? Ora, para haver múmias é preciso haver mortos. Para haver mortos, é preciso haver corpos mortos que, em princípio, deviam ser respeitados. Isso, sem falar na possibilidade horrenda de que pessoas sejam mortas para virar relíquias de colecionadores.

Sunday, April 03, 2005

Yes, nós assistimos ao Big Brother

Como esse é mesmo o lugar do patético, vamos ao Big Brother.

Na semana passada o país assistiu e participou ativamente de um programa de quinta, com votação de quinta. Todas as vezes em que meu controle me levou ao Big Brother, o professor baiano estava chorando. É verdade que não havia uma grande decisão a tomar, nada que afetasse o destino do país, mas ainda me espanta ver nossa infinita capacidade de confundir lágrimas com sinceridade e de achar que quem chora merece colo. Lembrei dos comerciais da Bombril, com aquela figurinha franzina, falando que vai perder o emprego se a matrona que o assiste não comprar o produto que ele vende. Os anos em que o comercial ficou no ar, com o mesmo apelo emocional, prova o quanto ele é eficiente. Chore, identifique-se como minoria, mostre-se um coitadinho sofredor em um mundo cruel, e eis a vitória. Gente, o que é isso? Peste emocional às avessas?

Um viva às lágrimas! Afinal, o que mais há para se dizer? Yes, nós assistimos ao Big Brother! Yes, nós vimos o coitadinho chorar! Yes, nós vimos o coitadinho levar a bolada! Yes, nós lemos a reportagem de duas páginas da Veja! Yes, nós temos um herói nacional, que sobreviveu à sordidez com lágrimas! Yes, ele vai a Paris! Yes, ele vai escrever outro livro! Yes, ele vai vender! Yes!