Thursday, June 26, 2008

O canto do bode

Descobri que "tragédia" em grego significa "canto do bode" (Jacqueline de Romilly, A tragédia grega, p. 17).

A autora apresenta a hipótese, recusada por ela, de que "bode" se refira aos sátiros, associados ao culto a Dioniso que, por sua vez, é um deus ligado às artes.

Lembrei da piada do bode.

Ter um bode morando na sala de casa é a verdadeira tragédia.

O resto é bobagem.

Friday, June 20, 2008

Meteorosofista

Você sabe o que é um meteorosofista?

Confesso que não fazia idéia, até encontrar em Kerfeld (O movimento sofista), a explicação: trata-se de um sofista superior.


Meu problema agora é saber que sofistas são superiores, superiores em quê, e quem é que decide que sofistas são superiores.

E eu que pensava que eram todos inferiores.

Friday, June 13, 2008

Você pode ver fantasmas?

Aproveitando que deixei todas as minhas obrigações de lado para me ocupar com fantasmas, encontrei sem muito esforço um website em que fiz o teste para saber se tenho competência espiritual para ver fantasmas.

Clique no título deste post e faça o teste você também.

Isto, se não formos todos espiritualmente incompetentes.

Mas vá lá. As perguntas são no mínimo divertidas:

1. Você se recusaria a passar uma noite numa casa assombrada?
-- Ow, o que um possível medo de casa assombrada tem a ver com o fato de ver um fantasma? Ah... é porque eles estão lá! Dãããã!
Se for preciso ter medo de casa assombrada para ver fantasma, estou perdida. Não tenho medo de casas.

2. Você medita?
-- Não, fio. Mas o que isso tem a ver com fantasma?

3. Você usa preto 90% (ou mais) do tempo?
-- Ué, não. Por que? O preto atrai fantasmas?

Bem, chega.

O resultado?

Minhas habilidades psíquicas não estão inteiramente desenvolvidas.

Que novidade.

Cá entre nós: alguém precisa realmente fazer esse teste?

Só se for mesmo para fugir das obrigações.

Wednesday, June 11, 2008

Como falar com fantasmas

Ops! Outro website interessantíssimo!

Ouvir fantasmas requer método.

Ver fantasmas requer método.

Consequentemente, falar com fantasmas requer método.

Com uma lógica como essa, que posso fazer?

Pensar no que dizer ao fantasma quando o ouvir ou vir, claro!

Então.

Que posso dizer a um fantasma?

Perguntar se levou um mapa do inferno?

Se passou por uma terapia espiritual?

Se ficou internado no hospital dos espíritos?

Se já aprendeu a não ser escaldado?

Se já recebeu pés?

Se já entrou no cepo?

Se já aprendeu a beber água?

Acho que seria melhor simplesmente dizer "xô!". Se ele ouvir, resolve logo o assunto.

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No mundo da técnica, só faltava mesmo a técnica para contactar o imaginário.

Como se fosse preciso.

Tuesday, June 10, 2008

Como ver e ouvir fantasmas

Encontrei por acaso o site linkado no título que ajuda a ver fantasmas. Pensei: oba, finalmente!

Mas o site envia o esperançoso para outros websites, e não tive paciência para fazer a jornada. Queria ver fantasmas sem fazer esforço, sem ter de ler páginas e páginas de instruções. Queria ver e pronto.

Mas vai ficar para outra vez.

Vai ver que ainda não estou pronta.

Quem sabe quando aposentar eu tenha tempo para estudar a técnica.

Sunday, June 08, 2008

Farejador de plágios

Para ladrão de galinha, cerca. Para ladrão de carros, alarme. Para ladrão de casas (ops! assaltante), tranca.

E agora, senhoras e senhores, para ladrão de idéias, o magnífico, supreendente farejador de plágio!

Clique no link, baixe o programa e seja um feliz farejador de plágio.

Ou um infeliz plagiador farejado, se não farejar antes de plagiar.

Brincadeiras à parte, esta é uma nova ferramenta da internet. Ao menos, nova para mim.

Sem dúvida, de grande utilidade para professores.

E uma péssima idéia para quem não tem idéia.

Friday, June 06, 2008

Ode à preguiça

Sabemos que boa parte das fábulas infantis são gregas. Muitas são inspiradas em Esopo, especialmente as que têm animais falantes. Outra parte é inspirada nas histórias da mitologia (Eros e Psyché, p. ex., virou A bela e a fera).

Mas, olha que gracinha, Platão quase conta, no Fedro (259c), a história da cigarra e da formiga:

"Diz-se que outrora, antes do nascimento das Musas, as cigarras eram homens. Mas, quando as Musas surgiram e apareceu o canto, alguns dos homens dessa época sentiram-se de tal maneira arrebatados pelo prazer da música que, à força de cantar, descuidaram o alimento e a bebida e morreram sem dar por isso. Deles nasce, então, a raça das cigarras... Por muitas razões, portanto, devemos conversar, e não dormir, na hora do meio-dia".

A hora do meio-dia aqui, é claro, refere-se à idade adulta, entre a manhã (infância) e a tarde (velhice).

Então.

Tuesday, June 03, 2008

Escrita assassina

No Fedro de Platão, Sócrates é contrário à escrita, porque entende que ela mata o pensamento. A escrita é estática, enquanto o pensamento é dinâmico. Logo, uma vez escrito, o pensamento estratifica e morre.

Trocando em miúdos, a escrita é rigor mortis do pensamento.

Ainda bem que ninguém deu ouvidos a ele.

O legislador Sólon, que tornou compulsório o ensino da leitura e da escrita, devia estar se revirando na cova.

Veja a passagem, resumida:

"Uma vez escrito, todo o discurso rola por todos os lugares, apresentando-se sempre do mesmo modo, tanto a quem o deseja ouvir, quanto a quem não mostra interesse algum, e não sabe a quem deve falar e a quem não deve (Fedro 275d-e)."

Na sequência, Sócrates argumenta que a escrita faz com que a leitura aliene o pensamento: ninguém é capaz de pensar por conta própria, já que opiniões prontas estão à disposição de qualquer um. Isto acontece com frequência, mas o problema não está na escrita, e sim em quem se serve dela para alimentar sua preguiça intelectual e escondê-la até de si mesmo.

Menos, Pratão. Menos.

Sunday, June 01, 2008

Professor reflexivo?

Ouvi de uma colega que a nova moda entre os professores é a figura do "professor reflexivo".

Segundo a explicação, trata-se de um novo modo de conceber o educador: ele tem de pensar criticamente sua prática, sua escola e a educação como um todo. Tem de levantar dúvidas sobre seu trabalho de modo crítico e autônomo, o que é feito em reuniões em que o professor apresenta aos colegas o plano de aula, a abordagem escolhida, a metodologia empregada e os problemas que surgirem, de modo a ouvir críticas e sugestões dos colegas, e de ser capaz de elaborar, ele mesmo, críticas a seu trabalho e à sua atividade.

Não creio que essa razão, que me parece ser meramente instrumental, vá além da técnica e de um conceito de crítica que não ultrapassa o "como fazer" e se mede por resultados não qualitativos, mas quantitativos.

Ser reflexivo, no melhor sentido, significa bem mais que um exercício de crítica e auto-crítica mecânico.