Saturday, April 30, 2005

Velharias 2: Trotes

TROTES COM CALOUROS SÃO NECESSÁRIOS

Crescem as evidências de que, sem exercícios, a capacidade intelectual do calouro fica reduzida

Em meados da década de 60 cientistas de todo o mundo despertaram para uma questão preocupante, que vem se intensificando a cada ano: a grande leva de calouros que a Universidade produz, em oposição à significativa redução no número de veteranos predadores, espécie hoje ameaçada de extinção.

Embora o fenômeno ainda não tenha atraído a atenção de cientistas brasileiros, é certo que alguns de seus desdobramentos já vêm instigando os pesquisadores, em especial no que tange à prática dos chamados "trotes universitários". Estes, segundo nos mostram as pesquisas recentes no setor, vêm sofrendo severas e constantes ações restritivas e punitivas. Entretanto, como veremos a seguir, os trotes exercem um efeito bastante salutar sobre a capacidade cognitiva dos calouros.

Definições

A universidade é o local com condições mais favoráveis para a produção de calouros. Evidentemente há calouros em quase todos os lugares, mas, por alguma razão ainda desconhecida, não são chamados calouros. Nas universidades, entretanto, a cada ano centenas deles invadem as salas de aula cheios de fantasia sobre seu habitat natural.

Como são uma espécie gregária, os calouros sempre andam em bandos. Todos os anos, em maior quantidade durante o verão e em menor durante o inverno, eles abandonam seu lugar de origem e migram para a universidade, onde imediatamente se agrupam em panelinhas. São pacíficos, ordeiros e bem intencionados, mas muito bobinhos.

Em princípio, verificou-se que os calouros são invariavelmente carecas, o que sugere um estranho ritual de iniciação que exclui as fêmeas. Esta ausência parece indicar uma espécie de organização patriarcal entre eles, mas os estudos nessa área ainda são insuficientes e só dispomos de alguns dados preliminares. O que sabemos com certeza é que as fêmeas, mesmo excluídas do ritual, se adaptam melhor ao novo habitat, talvez pela ansiedade em provar que têm talento e cintura fina.

Estímulos Nervosos

Uma experiência realizada com ratos de laboratório comprovou que os calouros respondem imediatamente a estímulos nervosos positivos e negativos, desde que convenientemente motivados. Em 1997 foram feitos estudos comparativos, colocando um calouro num corredor polonês e outro na sala de aula. O que se pôde constatar é que o cérebro do calouro que permaneceu na sala de aula continuou em seu estado cognitivo primitivo, por não ter sido submetido a estímulos nervosos. O calouro do corredor polonês, no entanto, respondeu imediatamente aos estímulos nervosos pulando janelas, saltando muros ou simplesmente correndo, o que significa excelente capacidade cognitiva e resposta sensorial imediata, quando adequadamente motivado.

No entanto, a possibilidade remotíssima de acabar com a espécie, o que resultaria em grave desequilíbrio ecológico aos campi, vem reduzindo gradativamente a incidência de trotes.

A ciência moderna ainda não comprovou, mas é bastante provável que haja uma terceira espécie nos campi, ainda não identificada, que seria predadora de veteranos, principalmente daqueles que se dedicam a trotes como o do corredor polonês.

Usar ou Perder

Em 2003 o Dr. Arnold Schwarzenegger, neurologista da Universidade da Califórnia, comprovou que a inatividade provoca deterioração mental. Em contrapartida, o mesmo Dr. Schwartzenegger garantiu que os trotes provocam uma espécie de alongamento do cérebro dos calouros.

A idéia de que músculos ociosos acabam por atrofiar-se é antiga. Bichinhos criados com poucos desafios tornam-se ineptos para o estudo e para a vida. Assim, segundo o especialista, a prática de atividades desafiadoras pode auxiliar os calouros a enfrentar dificuldades ou situações vexatórias, melhorando seu desempenho escolar.

A grande questão da atualidade é, portanto, evitar que os trotes desapareçam, posto que sua ausência implica no surgimento de uma sub-raça de calouros, estagnada intelectualmente.

Os Predadores

Os calouros sentem-se vitoriosos na batalha por uma vaga. Julgam que sua cabeça cheia de teoremas, fórmulas e revistas playboy os levará ao altar da fama. Mas eis que esta espécie tão cordata e obsequiosa esbarra em um perigoso inimigo, dono do espaço a ser conquistado: os temíveis veteranos, predadores de calouros.

Os veteranos, embora cruéis, atacam suas vítimas apenas nas primeiras semanas. Convivendo com seus aparentados, os macacos, sentem-se ameaçados por este invasor, movidos por um estranho "complexo de castração".

Embora várias teorias tenham surgido para explicar o fenômeno, tentaremos nos concentrar nas duas principais: alguns pesquisadores suecos, ainda anos 80, provaram que o cérebro do veterano regride 1,5 pontos por ano na escala de QI. Uma regressão pouco significativa, mas que parece ser a força motriz dos trotes.

Outros pesquisadores descobriram que o quociente intelectual de um indivíduo é inversamente proporcional à quantidade de fios de cabelo que ele possui. Ou seja, cada fio de cabelo, ao brotar no couro cabeludo, bloquearia a passagem de oxigênio para o cérebro. Assim, numa longa cabeleira teríamos um cérebro sem oxigenação, o que é suficiente para explicar porque os veteranos preferem o bosque às salas de aula.

Esta teria sido a razão que levou alguns renomados cientistas a admitir publicamente que a careca do calouro é uma provocação aos veteranos. Desta forma, os trotes não passariam de uma reação involuntária a uma provocação também involuntária.

Novos Avanços da Ciência

O grande sonho da Calouromedicina, ramo da ciência relativamente novo, é estabelecer um paralelo entre a memória do calouro e sua compulsão por imitar, tendo em vista que os calouros de hoje serão os predadores de amanhã.

Observa-se uma verdadeira explosão de pesquisas na área. Nos anos 70, pesquisadores do Instituto de Massachussets, EUA, deram os primeiros passos neste sentido, mas não conseguiram resolver o problema. Em vista disso, apenas alguns mapas parciais vem sendo traçados.

Como não é possível realizar experiências com o cérebro humano, os cientistas têm recorrido a animais com sistemas nervosos bem simples, como as lesmas, que possuem apenas memória hábil e, portanto, um cérebro bastante similar ao do calouro.

O método básico consistia em treinar a memória das lesmas em laboratório, com trotes semelhantes aos praticados nos corredores universitários, visando induzi-las a praticar essas ações em seus semelhantes. O curioso da pesquisa é que as lesmas se recusaram a massacrar seus iguais, o que comprova mais uma vez a espantosa semelhança entre lesmas e calouros, porque, como sabemos, estes últimos jamais praticam trotes entre si.

Aprendendo a Reagir

Como já dissemos, a Calouromedicina é uma ciência nova, com um vasto campo de trabalho ainda inexplorado e um número ilimitado de incógnitas que talvez somente a geração futura consiga desvendar. Em vista disso, resta-nos dar um conselho aos calouros: sejam predadores também. Façam amanhã o que fazem com vocês hoje. Mas cuidado para não acabar com a espécie.

2 comments:

Anonymous said...

caloromedicina é cadeira da filosofia, ou é veterana de outra espécie?

sofista said...

Oi Anônimo!

Calouromedicina é um ramo da ciência que, apesar de especialíssimo, abrange calouros de todas as áreas e, claro, seus predadores, os veteranos.

O problema com os veteranos de filosofia é que não são predadores (não os veteranos típicos). Por que será? Consciência? Ética? Moral? Desinteresse pelo empírico e pelo existente?