Sunday, April 17, 2005

Blow Up, de Antonioni

Hoje quero falar de cinema. Sugiro a quem goste de filmes que saem do circuito ação/violência/terror que veja o filme ‘Blow up” (com o detestável subtítulo em português ‘Depois daquele beijo’), de Antonioni (1967). Aí está, em minha opinião, um grande filme. A história é baseada em um conto de Julio Cortázar e gira em torno de um fotógrafo que, com a intenção de fotografar uma cena idílica para compor as ilustrações de um livro, acaba registrando, sem perceber, um assassinato.
A riqueza do filme não está na história em si, mas na forma como é contada. As seqüências são lentas (com momentos de quase inércia), sem trilha sonora. Prepare-se. Os únicos sons do filme são os que a personagem ouve. O mundo é como ele o vê. No entanto, ao longo do filme a personagem principal vai aos poucos descobrindo que a cena que presenciara e fotografara em um parque, de um casal se beijando, não era real. A partir de ampliações das fotografias, a personagem vai aos poucos desconstruindo a imagem idílica e construindo, subjetivamente, um real que nada tem de idílico. O problema é que este real é uma síntese que se dá no interior de uma subjetividade. Por isso, não pode ser comunicada. A cena final, genial, mostra a personagem em absoluta consciência de sua solidão e, ao mesmo tempo, compactuando com o simbólico. Extraordinário.

Dizer mais é estragar a surpresa. Mas vale a pena ver. E refletir sobre o filme.

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