Wednesday, April 13, 2005

Minha questão com as questões

O que considero o uso abusivo de questões tem me incomodado já há bastante tempo e pensei em escrever sobre isso, talvez como catarse; talvez, quem sabe, para convencer uma alma qualquer a ser comedida ao tratar de tantas questões e, assim, poupar ainda que modestamente meus ouvidos e meu fígado. Mas, ao começar, ocorreu-me que há tantas questões e tantos abusos em torno das questões que o melhor que eu teria a fazer, ao invés de protestar, era mesmo aderir à moda, ou seja, abusar também, e propor uma metaquestão inédita: a questão da questão.

É certo que as questões viraram questões com a preciosa ajuda de um intelectual. O habitat natural das questões é a academia, onde elas se multiplicaram e atingiram proporções inimagináveis. Fora do mundo intelectualizado, não há questões; há problemas. O desempregado não se preocupa com a questão do desemprego; via de regra, ele quer trabalhar. O esfomeado não se preocupa com a questão da fome; ele quer se alimentar. O sem-teto não se preocupa com a questão da falta de moradia; ele quer um teto. Entretanto, como os acadêmicos não são nem desempregados, nem esfomeados (salvo raras exceções), nem desabrigados, não há porque duvidar de que as questões tenham surgido no meio acadêmico, e isto é tudo que podemos dizer sobre a questão do histórico do problema.

Hoje tudo é questão. Há a questão do e-mail, a questão da internet, a questão do menor abandonado, a questão do maior abandonado, a questão do aumento da criminalidade, a questão do Lula, a questão do analfabetismo funcional, a questão do deficiente, a questão do Bin Laden, a questão do Bush, a questão da Palestina, a questão do juízo sintético a posteriori, a questão da reencarnação, a questão da saúde, a questão da doença,a questão dos animais, a questão dos E.T’s, e assim por diante. Há ainda, por incrível que pareça, a questão que se coloca a respeito da questão do imponderável, e essa é uma questão deveras importante, sobretudo para aqueles que estão envolvidos com a questão da religiosidade. Mas para estes também é importante compreender a questão do ateísmo.

Há questões fundamentais, questões relevantes, questões irrelevantes, mas é tudo uma questão de questão. É preciso, pois, que eu levante a questão de saber qual é a questão por trás da questão. Mas a pergunta fundamental, anterior a todas as outras, é: por que quero saber qual é a questão da questão?

Bem, não vou resolver a questão. Isso seria deselegante e, claro, deve-se levar em consideração a questão da prudência também, assim como a questão da boa convivência.

Em todo caso, que fique registrada a minha pequena contribuição à questão e, mais ainda, à profusão de questões, questionamentos rasos e absolutamente nenhum problema.

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