Testes vocacionais são uma farsa.
Quando cursava o segundo grau, eu sabia exatamente o que me interessava no mundo e o que queria ser. Diferentemente dos meus colegas, ou da esmagadora maioria, eu sabia que curso superior queria fazer.
No último ano do segundo grau, uma psicóloga visitou a escola e fez um teste vocacional com todos nós. O resultado, para mim, confirmou o que eu já sabia: marcante interesse por artes, literatura e ciências humanas em geral.
Errado.
Acho as meias palavras e a falta de clareza irritantes. Nunca tive a menor afinidade com poesia, ou com uma visão poética de mundo, e sabia disso. Mas o teste me pareceu exato, na ocasião. É isso mesmo, o mundo está em ordem e posso seguir placidamente o doce caminho em direção à minha grande e inegável vocação: o curso de Letras.
Erro.
Pelo menos a literatura me levou à filosofia.
No curso de filosofia, encontrei a lógica, e descobri que estava no curso errado.
De novo.
A filosofia é apaixonante quando lida com problemas teóricos de forma clara e despretensiosa, mas pode ser também um festival de lugares-comuns, obscuridades literárias, romantismos tolos e metáforas. Com frequência, não passa de uma religião disfarçada. Religião do discurso articulado, da visão de mundo percebida como correta, religião da verdade eu-fulano-de-tal-brilhante-por-entender-o-filósofo-tal-brilhante-e-dificílimo. Religião do auto-apaixonamento.
Talvez, se não tivesse começado com tantas certezas sobre minha vocação, não teria tantas dúvidas agora.
Talvez as dúvidas sejam apenas parte de um processo que não posso e não quero deter e que não me levará a lugar algum.
Só me deixará eternamente insatisfeita, o que me parece bastante satisfatório.
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