Wednesday, July 08, 2009

Unreal-ity shows (2)

Ateus, incrédulos e descrentes do poder do Reality Show, esta é para vocês! Façam suas apostas: imã, rabino, sacerdote da Igreja Ortodoxa Grega ou monge budista? Quem será o mais persuasivo? Que religião você quer ter, com o bônus de ter sua conversão transmitida em rede nacional (da Turquia) e quiçá internacionalmente?

Vai perder essa chance?

Bem, lamento dizer, mas é para poucos. Primeiro, há poucos ateus. Segundo, os ateus que vão participar do Reality Show que tentará convertê-los a uma religião serão escolhidos cuidadosamente, o que exclui a grande maioria. Terceiro, os escolhidos deverão ter o desejo sincero de ganhar o prêmio, ao final do programa, quando se converterem. Exclui quase todos os interessados, claro.

Quem não quer ganhar o prêmio?

Quem quer perder, depois de chegar lá?

Ninguém, claro. Ou vamos começar a acreditar no choro que sucede à revelação da própria estultícia, ou da má-fé?

Há sempre a possibilidade de haver um ateu ansioso para se converter, claro. Mas então não será ateu; apenas terá o perfil adequado.

Em qualquer caso, o show terá o resultado esperado: provará aos convertidos de todo o mundo que todo ateu que se preze quer mais é ficar rico, famoso ou assumir que no fundo é tudo ressentimento, superado com um belo choro diante as câmeras de TV. E fará uma multidão de crentes dizer: "eu não disse?", "eu não disse?"

11 comments:

Rodrigo Cássio said...

Eis a hegemonia! Ateus não o são simplesmente porque querem, mas porque ainda não foram salvos pela verdade.

E eles ainda agruparam várias religiões para "darem conta do recado". rs

Curiosamente, eu estava a escrever sobre isso lá no meu blog. Passe lá.

Abraço

sofista said...

Rodrigo,

Eu acompanho regularmente seu blog e alguns outros que você indica. Como sempre, muito bom. Quando terminar a tese, se é que a terminarei um dia, pretendo abrir outro espaço e abandonar este. A proposta inicial deste espaço, e que mantenho, é de servir para minha diversão, mas já se vão mais de quatro anos e algo mudou. Hoje sinto necessidade de escrever mais seriamente. Acho que uma tese, além de emagrecer, tira o humor de qualquer um. :-)))

Bem. É verdade: ateus podem até ser boas pessoas, como ouvi por aí. O problema é que ainda não enxergaram a verdade. Mas discordo de você em um ponto: ateísmo, em meu entendimento, não é uma questão de escolha. Quando se trata de uma escolha, acredito, não é ateísmo de fato. Mas é só uma opinião.

sofista said...

Olá, Deh

Um Reality Show em que religiosos de todas as tribos fossem desafiados a abandonar suas crenças seria falta de respeito, sim, mas funcionaria também para reforçar a crença.

Se os crentes continuassem crentes, com exceção de um ou outro, valeria a firmeza da fé (mesmo que apenas um continuasse fiel). Testemunho ao vivo, a cores e em rede nacional.

Se os crentes se tornassem ateus, todos eles, seria uma total falta de respeito, mas sobretudo obra do diabo. Ganharia força imediatamente uma teoria da conspiração do tipo mensagem subliminar em desenhos animados e canções de rock, elaborada astutamente pelo diabo em pessoa, para nos desviar da fé.

Melhor deixar prá lá.:-)))

Obrigada por passar por aqui e por escrever.

Rodrigo Cássio said...

Oi Sofista!

Quando disse que os ateus o são porque querem, pensei exclusivamente na liberdade que, formalmente, lhes garante a legitimidade do ateísmo num Estado laico. Esse "querer" não diz nada sobre os motivos de quem quer; ele apenas assinala que, legalmente, é possível ser ateu sem ser alvo do ímpeto convertor dos religiosos.

Em todo caso, eu entendo o ateísmo como algo próximo de uma escolha, ao menos em um caso: quando o ateu crê que Deus não existe. Aqui, trata-se de uma crença, assim como a do crente que crê na existência de Deus. Por mais que ateus ou crentes pressuponham boas razões para suas crenças, não deixo de pensar nelas como uma escolha.

É algo como o argumento da aposta de Pascal. Se não podemos saber se Deus existe ou não, devemos apostar na sua existência, pois só temos a ganhar com isso. A meu ver, essa aposta, seja feita a favor ou contra a existência, assemelha-se a uma escolha.

O ateísmo não é uma escolha quando se trata de não acreditar na existência de Deus. Aqui, de fato, não há qualquer crença. É uma posição próxima do agnosticismo, por causa disso.

O que pensas?

Sobre o blog, eu só não gostaria que você deixasse de escrever com o bom humor costumeiro. Tem muito talento para isso!

sofista said...

Rodrigo,

Talvez eu esteja avaliando a partir de minha experiência pessoal, mas realmente não creio que alguém escolha ser ateu. Você pode escolher ser crente, porque isto é uma decisão pessoal (o que admito com reservas), mas o ateísmo, no meu entendimento, é o resultado de um longo processo de desconstrução de mitos, o que não acontece de uma hora para outra, e nem pode ser o resultado de uma escolha: "Agora não creio mais em Deus". Acho que não acontece assim ou, se acontece, é qualquer outra coisa, menos ateísmo.

O que se pode escolher, eu penso, é o reconhecimento e a admissão para si mesmo do resultado desse processo.

"Em todo caso, eu entendo o ateísmo como algo próximo de uma escolha, ao menos em um caso: quando o ateu crê que Deus não existe. Aqui, trata-se de uma crença, assim como a do crente que crê na existência de Deus."

Discordo inteiramente. Não se trata de crença. Trata-se da convicção de que não há Deus, ou vida após a morte, ou vida anterior à vida, ou sobrevida da alma etc. etc. Quando penso na morte, eu a compreendo como vazio, como ausência de consciência, como nada. Não se trata de acreditar; trata-se de compreender. Posso até estar equivocada na minha compreensão, mas é uma compreensão, não uma crença.

sofista said...

"Por mais que ateus ou crentes pressuponham boas razões para suas crenças, não deixo de pensar nelas como uma escolha."

As razões que podemos elencar para argumentar em favor do ateísmo são posteriores. Elas aparecem depois que a compreensão chega. Não são anteriores. Para mim, pelo menos, ateísmo é processo, não epifania.

sofista said...

"É algo como o argumento da aposta de Pascal. Se não podemos saber se Deus existe ou não, devemos apostar na sua existência, pois só temos a ganhar com isso. A meu ver, essa aposta, seja feita a favor ou contra a existência, assemelha-se a uma escolha."

A aposta de Pascal é estratégia para se dar bem no além. Como não acredito no além, não vejo sentido em negociar com o que não existe, acalmar minha consciência e morrer em paz achando que, seja o que for que acontecer, vou me dar bem, porque analisei cuidadosamente todas as alternativas e escolhi a mais vantajosa. :-)))

Se fosse uma questão de escolha, talvez eu até escolhesse uma crença bem leve, acolhedora e se possível racional, para ficar bem agasalhadinha no frio e ter uma vida cheia de sentido e uma morte feliz. Mas realmente não funciona assim. Isso tudo virou coelhinho da páscoa.

sofista said...

"O ateísmo não é uma escolha quando se trata de não acreditar na existência de Deus. Aqui, de fato, não há qualquer crença. É uma posição próxima do agnosticismo, por causa disso."

Não sei se entendi. Aqui me parece que você se contradiz. Quanto ao agnosticismo, pretendia fazer um comentário a seu post ainda hoje, mas acabei deixando o tempo passar por aqui. Vou ao seu blog amanhã e falamos sobre o agnosticismo por lá.

Rodrigo Cássio said...

Oi Sofista,

O que talvez você não tenha entendido na última frase minha que citou é a diferença entre dois ateísmos, na qual o meu comentário procurou se sustentar: (1) o de quem afirma a não existência de Deus; e (2) o de quem nega que Deus existe. Diferenciando em termos, o ateísmo "1" é "afirmativo": ele afirma que Deus não existe; já o ateísmo "2" é "negativo": ele nega a existência, sem afirmar a inexistência.

A diferença entre afirmar a inexistência e negar a existência, por certo, só faz sentido se excluirmos desse problema categorias como a de "compreensão", que você usa no seu comentário. Para que sejam válidos os termos que usei, é preciso assumir o problema do Ser de Deus como passível de crença, e não de demonstração objetiva.

Entendo que o ateísmo pode se justificar a partir de evidências, conduzindo o sujeito à compreensão de que a inexistência de Deus é mais provável que a existência. Mas o provável não é, ainda, uma prova. Ao menos com o ponto de partida de Pascal eu imagino que concordamos: Deus, não podemos prová-lo.

Como objeto de crença, o ateísmo positivo afirma a inexistência de Deus porque se convence da inexistência divina, a partir de evidências ou argumentos possíveis. Já o ateísmo negativo, de maneira diferente, não está convencido com os argumentos acerca da inexistência, apesar de que não se convence também com os argumentos acerca da existência.

A partir do que você caracteriza como "compreensão", imagino que poderia me contestar afirmando a objetividade das razões que levam o ateu a proclamar a inexistência de Deus; objetividade que não há no caso da defesa da existência. Nesse ponto, talvez, só poderíamos resolver essa questão transferindo-a para o campo da teoria do conhecimento, e problematizando noções como a de metafísica e de verdade.

Espero teu comentário lá no blog sobre o agnosticismo. Se quiser responder esse meu novo comentário lá, diretamente, fique à vontade.

Rodrigo Cássio said...

ERRATA, pra ficar mais legível:

"Como objeto de crença, o ateísmo positivo afirma a inexistência de Deus porque se convence DISSO, a partir de evidências ou argumentos possíveis."

sofista said...

Rodrigo,

Continuamos, então, em seu blog.