Tuesday, July 21, 2009

Onde está o Kierkegaard de Adorno?

Sempre que leio a respeito da Escola de Frankfurt, sejam livros, artigos qualificados ou resenhas, encontro uma lista de pensadores que influenciaram a escola: Kant, Hegel, Marx e Freud.

Nunca, em momento algum, encontrei nesta lista o filósofo Kierkegaard.

Quando muito, há artigos especializados sobre a relação - estreita - entre Adorno e Kierkegaard, mas que são ignorados.

Lembro de uma discussão, num curso que fiz, sobre que pensador teria exercido maior influência sobre a escola, se Marx ou Freud. Não interferi na discussão, mas apostaria minhas fichas em Kierkegaard, até porque a estrutura do ego em Freud já estava antes em Kierkegaard. Ou seja, Freud e Adorno beberam da mesma fonte.

Este é um assunto para um trabalho mais cuidadoso, mas a semelhança é espantosa. Quando Adorno fala em tédio, raiva, ressentimento, inveja, isso tudo já está em Kierkegaard. Quando fala da publicidade como princípio unificador negativo, essa expressão, exatamente desse modo, está no filósofo dinamarquês. Quando se refere a um poder abstrato que captura a subjetividade, eis Kierkegaard novamente. Quando fala de uma cultura de superfície, de manuais e livros de auto-ajuda, lá vem Kierkegaard. Quando diz que o público é nada, ei-lo de novo. Cultura que na verdade é administração? Quantitativo em lugar do qualitativo? Kierkegaard.

Crítica social do ponto de vista da comunicação de massa? Kierkegaard (aliás, o primeiro).

A lista pode ser ampliada, mas não é necessário.

Tenho uma teoria sobre esta falta: ninguém conhece realmente a obra de Kierkegaard, e menos ainda o artigo que mais influenciou Adorno, The Present Age.

Mesmo assim, basta ler a biografia de Adorno para saber que escreveu dois livros sobre Kierkegaard. Só isso já devia ser suficiente para incluí-lo na lista das referências teóricas relevantes.

Ou não?

1 comment:

Prof. Weber said...

E não conhecem Kierkegaard mesmo. Aliás, muitos filósofos importantes para aqueles que "aprendemos" durante uma graduação de filosofia como os "principais" são ignorados inteiramente.

Abraços,
Weber