Wednesday, July 29, 2009

Bat-porcaria (1)

Apesar de ter alguma simpatia pelo gótico, sempre detestei o Batman. Na verdade, detesto todos os super-heróis, de Superhomem e Hulk a Indiana Jones. Acho intoleráveis esses tipos mascarados e vingadores, que acabam virando defensores dos seres humanos destituídos de poderes, inteligência e força. Para piorar, a um super-mocinho, um super-vilão ainda mais insuportável, cheio de desejo de matar, matar, matar, desde que o faça de modo sofiscado, para dar ao mocinho a chance de escapar.

Pois bem.

De tanto me indicarem, tomei coragem para assistir ao novo Batman, de Christopher Nolan. "O melhor de todos", segundo a propaganda. Sem dúvida melhor que o primeiro, que um dia me atrevi a assistir. Minha impressão deste primeiro filme do Batman, com Michael Keaton, é que ele redefiniu o ridículo. De tão ruim, chega a ser constrangedor. Ah, sim, Jack Nicholson era o coringa. Mas, pelo amor de qualquer coisa, o que há nesse tal Coringa que agrada tanto? Alguém pode me explicar esse fascínio por um personagem tão opera buffa? Tão tipo, tão linear?

O fascínio por essa coisinha chamada Coringa é tão grande que Jack Nicholson chegou a avisar Heath Ledger, o novo Coringa, para tomar cuidado com a personagem. O que é isso? Loucura coletiva? Heath Ledger morre, e eis a maldição do Coringa!

Compreensível. Já faz tempo que Howard Carter encontrou Tutankhamon.

Enfim. Eu já não gostava do Batman, como disse, e não vi nada de novo em Batman - O cavaleiro das Trevas, exceto um detalhezinho, sintoma dos novos tempos: o herói atropela a ética para fazer o bem. Ao menos isso servirá como exemplo em aulas de ética para adolescentes. Pode-se perguntar qual é o limite da ética, e se ela eventualmente contradiz a si mesma. É preciso, às vezes, escolher entre o certo e o certo, hierarquizando, priorizando valores? Neste caso, a ação escolhida pode ser considerada ética?

Já estou até imaginando a aula: Batman devia matar o cachorro? Sim!

É correto matar alguns, ou deixar morrer, para salvar muitos? Sim!

É correto torturar para obter informação? Sim!

Falando sério, o pior de Batman é que ele representa a truculência policial em sua luta contra o crime. Desde que o fim pretendido seja nobre, os meios são no mínimo toleráveis.

Policiais devem adorar o Batman.

No mais, Gotham City é depósito de lixo humano e concreto. Talvez por isso agrade tanto: é o faroeste urbano, onde tudo se resolve à bala pós-guerra fria, munida com sensor para não errar o alvo. E, claro, muita testosterona.

Moral da história? Só a tecnologia salva.

O resto é efeito especial.

Agora, por favor, parem de me indicar esse filme.

1 comment:

Prof. Weber said...

Super-heróis, em geral, são a versão "kitsch" do "kitsch" do pensamento moderno. São hipoícones hipertravecos (restos travestidos de cultura) de uma era sem criatividade. Lineares e previsíveis, servem para "preencher" o vazio contemporâneo com o "mindfucking" da indústria cultural pop. Ou seja, são o "bullshit" por excelência.
Desculpe, mas não resisti a esculhambar o discurso pós-moderno.


Abraços,
Weber