Escrevi neste espaço, há algumas semanas, que encontro frequentemente um entendimento do conceito de Indústria Cultural que julgo equivocado.
Esse post gerou alguns comentários. Chamo a atenção para um deles, em que fui informada de que uma doutora em Adorno dizia que a Indústria Cultural nos faz comprar sapatos. Assisti ao video e de fato a afirmação está lá, não exatamente com relação a sapatos, mas no sentido que me foi indicado.
Como não sou especialista em Adorno, preferi ir à fonte e checar minha compreensão, que simplesmente insistir nela.
Bem, reli "A Indústria Cultural", o "Resumé sobre Indústria Cultural" e o "Sobre a Música Popular" e insisto: indústria cultural não diz respeito a sapatos, celulares, roupas etc. Trata-se da apropriação de "produtos" artísticos e do engenho humano pela lógica do capital. Em outras palavras, trata-se de oferecer ao público mercadorias culturais, no sentido restrito (repito: música, cinema, literatura), que não são materiais, e sim simbólicas.
Vender sapatos, celulares, roupas, carros, e utilizar a propaganda para isso, é o que a indústria tradicional faz. Ela nos torna consumidores, ela transforma o sujeito em consumidor. Isso não é IC; é a essência da sociedade capitalista, que faz com que qualquer coisa seja potencialmente mercadoria, e só tenha valor como mercadoria.
Adorno extrai dessa lógica a sua apropriação da arte e da cultura. Essa é a Indústria Cultural. É parte do sistema capitalista e funciona na mesma lógica, mas seu produto é outro. A Indústria Cultural não vende sapatos simplesmente. Quando muito, vende produtos materiais relacionados a produtos culturais, porque é um sistema que integra horizontal e verticalmente, mas o que ela produz, divulga e vende nem mesmo é o filme, a literatura barata ou a música ligeira. O que se vende e se compra, no fim das contas, são ideologias.
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1 comment:
Oi, Sofista,
Desejo-lhe muita paciência e persistência nesse momento da tese. Sei que meu solipso desejo não ajuda, mas sou solidário.
Quanto à Indústria Cultural muitos leem indústria e esquecem do cultural, daí não entenderem que Adorno não está falando de coisas, mas de ideologias.
Abraços,
Weber
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