Sunday, July 19, 2009

Ainda sobre Indústria Cultural

Escrevi neste espaço, há algumas semanas, que encontro frequentemente um entendimento do conceito de Indústria Cultural que julgo equivocado.

Esse post gerou alguns comentários. Chamo a atenção para um deles, em que fui informada de que uma doutora em Adorno dizia que a Indústria Cultural nos faz comprar sapatos. Assisti ao video e de fato a afirmação está lá, não exatamente com relação a sapatos, mas no sentido que me foi indicado.

Como não sou especialista em Adorno, preferi ir à fonte e checar minha compreensão, que simplesmente insistir nela.

Bem, reli "A Indústria Cultural", o "Resumé sobre Indústria Cultural" e o "Sobre a Música Popular" e insisto: indústria cultural não diz respeito a sapatos, celulares, roupas etc. Trata-se da apropriação de "produtos" artísticos e do engenho humano pela lógica do capital. Em outras palavras, trata-se de oferecer ao público mercadorias culturais, no sentido restrito (repito: música, cinema, literatura), que não são materiais, e sim simbólicas.

Vender sapatos, celulares, roupas, carros, e utilizar a propaganda para isso, é o que a indústria tradicional faz. Ela nos torna consumidores, ela transforma o sujeito em consumidor. Isso não é IC; é a essência da sociedade capitalista, que faz com que qualquer coisa seja potencialmente mercadoria, e só tenha valor como mercadoria.

Adorno extrai dessa lógica a sua apropriação da arte e da cultura. Essa é a Indústria Cultural. É parte do sistema capitalista e funciona na mesma lógica, mas seu produto é outro. A Indústria Cultural não vende sapatos simplesmente. Quando muito, vende produtos materiais relacionados a produtos culturais, porque é um sistema que integra horizontal e verticalmente, mas o que ela produz, divulga e vende nem mesmo é o filme, a literatura barata ou a música ligeira. O que se vende e se compra, no fim das contas, são ideologias.

1 comment:

Prof. Weber said...

Oi, Sofista,

Desejo-lhe muita paciência e persistência nesse momento da tese. Sei que meu solipso desejo não ajuda, mas sou solidário.

Quanto à Indústria Cultural muitos leem indústria e esquecem do cultural, daí não entenderem que Adorno não está falando de coisas, mas de ideologias.

Abraços,
Weber