Thursday, June 11, 2009

X-phi

Já dizia Bachelard que a filosofia é segundo discurso em relação à ciência. Não tenho certeza, mas aparentemente esta é a proposta da filosofia experimental.

Digo que não tenho certeza porque nas leituras que fiz (poucas, e apenas na internet) ainda não ficou claro para mim o que é a X-phi. O que pude inferir até agora é que se trata de um projeto que pretende "empiricizar" a filosofia, para usar um neologismo. Como isto não é possível sem recorrer à ciência e a métodos empíricos de observação e experimentação, a conclusão a que posso chegar é que esta proposta, se possível, efetiva a noção de segundo discurso: nada se pode inferir sem o recurso da pesquisa científica.

Muito bem.

A filosofia é, por excelência, conceitual. Ter como objeto os conceitos, as abstrações, o próprio pensamento, é o que a define, e não creio que isto seja meramente um caso de apego à tradição. O pensamento filosófico é anterior à cultura científica, na medida em que busca fundamentos, pressupostos e identifica e avalia critérios.

Isto significa, em minha opinião de leiga em filosofia experimental, que uma abordagem empírica (e, portanto, indutiva) destrói o que diferencia a filosofia de outros saberes: o fato de ser inteiramente dedutiva. A verdade empírica, por mais importante que seja, não é verdade lógica, porque indutiva, probabilística.

A não ser que tenham encontrado um modo de "empiricizar" a filosofia preservando seu caráter dedutivo, acho improvável que a filosofia mantenha suas caraterísticas próprias ou independência em um projeto "experimental".

2 comments:

Rodrigo Cássio said...

De fato, pelo texto que você linkou, essa X-Phi parece ser qualquer coisa, menos filosofia.

Incomoda-me esse tom de novidade do texto. Penso que os modismos intelectuais são desfavoráveis à filosofia, pois fazem parecer que ela é sobretudo paradigmática, quando, no fundo, é necessariamente fundamental e radical (no sentido de raiz).

Resta-me, portanto, procurar alguma razão em Bachelard. Pois não a vejo.

sofista said...

Oi Rodrigo!

O bom dos modismos é que eles vão embora. :-))) E concordo com você: parece tudo, menos filosofia.