Monday, December 18, 2006

Pré ou pós?

Ouço com bastante frequência a máxima de que um filósofo antigo e medieval antecedeu um outro, contemporâneo ou mesmo moderno. Algo como dizer, por exemplo, que Protágoras, o sofista, é pré-kantiano (tese de um tal Theodor Gomperz, historiador). É claro que esta tendência se registra apenas naqueles casos em que um filósofo considerado "menor" exerceu influência sobre o pensamento de um filósofo considerado "maior".

O que me incomoda é exatamente o entendimento de que o primeiro filósofo é limitado porque não chegou até onde poderia ter chegado, e que foi preciso um outro, maior, para extrair das premissas do primeiro as suas consequências possíveis. Isto supõe que os filósofos não estão sujeitos a determinações históricas e culturais, que não são filhos de seu tempo. O óbvio, para mim, é que Hegel é posterior a Heráclito, e não que este antecipa aquele.

Aliás, esta é uma visão bastante hegeliana, de que a filosofia é um grande sistema que incorpora premissas contraditórias porque cada uma delas representa um passo em direção a um estágio superior, como se os filósofos estivessem todos subindo uma escada, mas cada um sobe apenas um degrau e diz: "Já fiz a minha parte. Agora é com você, que enxerga mais além por estar um degrau acima".

Este entendimento também deixa entrever a visão de que a filosofia hoje prescinde do estudo de seus antecessores. Basta a filosofia moderna e contemporânea. Os demais são pré.

Para mim, os contemporâneos é que são pós. Não há como entendê-los bem sem entender os conceitos fundamentais com os quais trabalham, e estes conceitos estão na história da filosofia.

O gigante cego de Schopenhauer (de Newton, mais precisamente), enxergando com os olhos do anão em seus ombros, não tem nada nada a ver com isso.

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