Sunday, January 15, 2006

A maldição da corrente

Antes de haver internet, lembro-me de receber cartas que me prometiam riqueza instantânea ou garantiam fracasso iminente, dependendo única e exclusivamente do modo como eu agiria em relação a elas: se as repassasse a dez, vinte pessoas, ótimo; ficaria rica. Se as ignorasse, perderia o emprego. Se apenas as esquecesse em algum canto, teria algum aborrecimento de menor importância. Mas, se eu me atrevesse a destruí-las, então algo terrível me aconteceria.

Um papel, algumas linhas escritas, e eis o sagrado.

Na era da internet, com a facilidade de envio e o custo zero, as correntes se multiplicaram. O discurso, no entanto, é o mesmo, apelando primeiro para a curiosidade do leitor; depois para o seu interesse, acenando com alguma vantagem; depois para o medo, prometendo algum prejuízo e, por fim, o que interessa a quem criou a corrente: o pedido para que seja reenviado.

Pronto! Só isso, e recebo pelo menos uma dessas bobagens por semana. Fico me perguntando se quem me envia acredita no que leu (no caso de ter lido, claro).

Suponho que o fato de ter recebido a corrente atesta que ela tem, no mínimo, o poder de se multiplicar. E de se manter no domínio do sagrado, alimentada pela lógica do "por via das dúvidas", mas isto significa ter medo do que um pedaço de papel pode fazer. Ou melhor, um e-mail.

No fundo, ninguém espera que a corrente traga felicidade, mas todo mundo que a reenvia de boa fé acredita secretamente que ela possa trazer infelicidade.

A boa notícia é que, hoje, quebrar a corrente só exige dois toques do mouse. Três, para confirmar.

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