Tuesday, January 24, 2006

A bolha protetora da EcoSport

Presenciei, há alguns dias, um episódio lamentável na porta de minha casa: primeiramente surgiu um rapaz de bicicleta, sendo perseguido à curta distância por uma EcoSport preta. Exatamente na frente de minha casa a EcoSport atropelou o rapaz de bicicleta, propositalmente.

Sim, atropelou.

Em seguida o motorista, que estava sozinho, desceu do carro, bateu no ciclista (sim, aquele que tinha sido atropelado há um minuto), perguntando onde estava o toca-fitas do carro e, como o rapaz dizia não saber de nada, o dono da EcoSport obrigou o ciclista a entrar no carro e arrancou, levando-o junto.

Pelo que entendi, porque foi tudo muito rápido, o motorista esperava que o rapaz atropelado (cambaleante, por sinal) o levasse até a porcariazinha de um toca-fitas que teria acabado de roubar.

Avisamos a polícia.

Quando chegou, a primeira coisa que o policial disse, depois de escutar a história e ver a bicicleta torta, é que o dono do carro devia ter feito o serviço direito (leia-se: devia ter matado o ciclista). E acrescentou que, se tivessem sorte, esse bandido iria aparecer morto na manhã seguinte. Menos um, disse. Menos um, concordaram os outros policiais.

Tive a nítida impressão de que o mundo deveria fazer eco com os policiais: ah, sim; menos um. Pois é, um bandido a menos nas ruas.

Acrescente-se um "aleluia"?

Tentei argumentar que ninguém pode agir contra a lei, como havia feito o dono do carro. O policial me respondeu que a lei em vigor é velha demais; não funciona. Melhor matar mesmo.

Cá entre nós, a falange vermelha (acho que o nome era esse) não dizia exatamente isso? Se todo mundo agir do mesmo modo, os policiais não terão de caçar ladrão de galinha, mas isso é tudo?

Mas o bandido era mesmo bandido? Muito provavelmente. Afinal, estava de bicicleta.

A história toda, como disse, aponta para uma circunstância bem simples: o ciclista roubou, junto com outra pessoa, o toca-fitas da EcoSport. O dono viu e saiu em perseguição dos dois. Um dos supostos ladrões veio parar em minha rua, fugindo da perseguição, mas não estava com o toca-fitas. Então o dono do carro o obrigou a acompanhá-lo mesmo ferido (ainda que não gravemente) em perseguição ao companheiro, para resgatar o objeto roubado.

Certo. Acho que entendi.

A grande ironia é que chamamos a polícia para que ajudasse de algum modo o ciclista.

2 comments:

Anonymous said...

fui roubado ontem e pensei em fazer omesmo... passava por cima e matava mesmo MENOS UM! MENOS UM! Que se foda..ladr]ao [é ladrão..... Parabéns a policia hauehu que apoiou!

sofista said...

Oi Anônimo

Mesmo que você queria matar o ladrão, continua sendo um absurdo que policiais façam isso. Policial é para cumprir a lei. Se aceitamos esse absurdo, que representantes da lei não respeitem a lei, então é o retorno à barbárie: cada um por si e Deus prá quem matar mais.