Wednesday, May 25, 2005

Prurido cognitivo

Você já passou dias e dias tentando pensar em outra coisa que não seja o pocotó da eguinha? Sua mente insiste, contra sua vontade, no “pocotó, pocotó, pocotó” e você bem que tenta, mas o pocotó não vai embora de jeito nenhum? Faça o que fizer, pense o que pensar, e lá está o pocotó, atormentando sua mente?

Não, não. Estou falando do pocotó mesmo.

Pois é, você não está sozinho. Acontece o mesmo com o resto da humanidade. Sabia disso, né?

A novidade dos cientistas a esse respeito é que esses pocotós ficam em nossa cabeça porque criam uma espécie de “prurido cognitivo”. Como a coisa não é localizada, não há cataplasma que resolva. Nem mesmo um cataplasma cognitivo.

Sempre achamos que o jeito é esperar passar. Ledo engano. É possível, sim, retirar o pocotó da cabeça sem dor, cirurgia, ventosaterapia, sangria cognitiva ou qualquer procedimento mais agressivo. Só não é possível evitar os efeitos colaterais.

Há uma estratégia que promete sucesso, a “técnica de substituição”. Quando o pocotó vier, comece logo a repetir: “vida, minha vida...” ou ainda “quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar...”

Pense bem. O que é melhor?

O problema é que logo você terá de fazer a mesma coisa com a Sandra Rosa Madalena, substituindo por “macho, macho man”, e esta por “Florentina, Florentina, Florentina de Jesus, não sei se tu me amas, pra que tu me seduz”, que você sempre poderá apagar de sua mente depressinha se ficar repetindo “Telma, eu não sou gay”. Abandone a Telma em seguida e vá para a festa no apê.

E vá tocando a vida assim. Eu garanto: alternativa é que não vai faltar.

Eu sei, a solução não é das melhores; a gente fica pulando de galho em galho, né? Mas o bom da coisa toda é que não se fixa em nenhum. E, claro, não vai ficar pensando só no pocotó.

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