Sunday, May 15, 2005

Coisa de grego (1): o gesto

Já que estou falando de Aristófanes, há uma passagem curiosa, em As Nuvens (630), peça escrita em 423 a.C.:

Sócrates: “Hum, talvez possa aprender os ritmos mais depressa!...”
Estrepsíades: “De que me servirão os ritmos para o pão de cada dia?”
Sócrates: “Antes de tudo, para ser um homem de espírito na sociedade, alguém que é capaz de perceber dentre os ritmos qual o enóplio e, ao contrário, qual o dátilo”.
Estrepsíades: “O dátilo? Por Zeus, mas eu sei!”
Sócrates: “Então diga... (apontando o dedo indicador). Qual é o outro ‘dátilo’ além deste dedo aqui?”
Estrepsíades: “Outrora, quando criança, eu usava este aqui...” (erguendo o dedo médio).

E a nota da tradutora, Gilda M. R. Starzynski, Coleção Os Pensadores, vol. 2, Abril Cultural, 1972: “O gesto de erguer o dedo médio, apontando-o a alguém, significava que se considerava essa pessoa como um devasso, habituado a práticas contra a natureza”.

É isso mesmo, ou estou entendendo tudo errado? Impensável Sócrates recebendo esse tipo de resposta. Ao menos, em um diálogo de Platão.

Parece que somos muito mais gregos do que imaginamos.

Quem diria?

3 comments:

Anonymous said...

ow! vc tá postando direto hein? Ontem eu não consegui entrar aqui e hj tem texto demais pra ler.. ô beleza. Vamos lá.. :p

obs: "a proposito", essa do dedinho foi boa! Não era só Socrates que dava um de "nãotoentendeeeendo", me explica? hahahahahaha

sofista said...

Ué, Dani, tô postando uma vez por dia, quase todo dia. Não é tanto assim, não. Pelo menos, o trabalho de ler é infinitamente menor que o trabalho de escrever. :-)))

De qualquer forma, faça o seguinte: dê uma espiada no cardápio à direita e escolha o que te apetecer, se algo lhe apetecer. O resto, deixa prá lá. :-))))

Anonymous said...

Por que nao:)