Friday, May 22, 2009

Hérmias, o filósofo

E por falar em religião filosófica, ou filosofia religiosa, ou muito pelo contrário, lembrei de Hérmias, o filósofo, que escreveu Escárnio dos filósofos pagãos no começo de nossa era.

Nada sei sobre o autor, mas não importa. O que interessa saber está no texto: Hérmias faz uma passagem bem humorada pela filosofia grega, procurando a verdade. Cada filósofo com que se depara o convence da verdade, mas logo encontra outro e então concorda com uma posição contrária à anterior, e assim sucessivamente.

No fim das contas, está confuso, "sem saber em quem acreditar", e encontra Jesus. Pronto. Eis a verdade.

Considero este registro o melhor exemplo da diferença entre filosofia e religião: Hérmias procura a quem seguir. Como ele próprio diz, quer acreditar em alguém. Tenta acredita em todos os filósofos, mas percebe que isto é impossível, porque as doutrinas são rivais e mutuamente excludentes. Então fixa-se na doutrina cristã, que julga ser verdadeira por não ter oposição real. Em alguns momentos, chega a dizer que "acreditou no dogma" do filósofo tal, e que quase se atirou no Etna junto com Empédocles.

Hérmias não entendeu o que leu. Estava procurando a quem seguir, queria um dogma em que pudesse acreditar, e procurou no lugar errado. Passou pela filosofia, se é que passou, mas não entendeu nada. A contradição, a oposição de idéias, ele julga que são sinais de falsidade, de inverdade. O que ele entende como não-contraditório, a doutrina cristã, é verdadeiro exatamente por isso.

Não conheço outro texto tão expressivo, do ponto de vista da separação entre filosofia e pensamento mítico, como esse.

Hérmias queria uma verdade pela qual pudesse viver. Encontrou.

Vaya con dios.

Com a minha benção.

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