Saturday, May 16, 2009

Deadwood

Para quem gosta do gênero western, a série Deadwood, da HBO (que também produziu Roma) é uma excelente opção. Ainda acho que Roma é melhor, mas Deadwood tem muitas qualidades. A principal e, creio, também seu defeito, é o realismo.

Enquanto o oeste selvagem é visto no cinema com romantismo, saudosismo e maniqueísmo, Deadwood tem cenários feios, sujos e, embora haja uma tendência ao maniqueísmo, a trama e os personagens acabam se revelando mais complexos do que inicialmente pareciam ser. A proposta de realismo é o grande mérito da série, mas há excessos, que revelam muito mais um olhar moderno e cínico do oeste que propriamente fidelidade histórica.

É claro que se trata de uma obra de ficção, mas a proposta, que se baseia em eventos, contexto e personagens históricos, pretende ser realista. A violência, a falta de higiene e os conflitos de poder em uma terra sem lei, em que não se morre de causas naturais, parecem historicamente adequados. Mesmo assim, ainda acho que há exagero na apresentação dos personagens, na violência (em quase todo episódio alguém morre assassinado) e na superexposição do sexo. Moderno demais, ou pagão demais.

Comparada a Roma, Deadwood é bem mais contida nos aspectos que mencionei. Mas Roma é pagã. Deadwood, uma cidade sem lei do final do século XIX, é cristã. Embora se situasse, literalmente, no limite da civilização, ainda é cristã. Por isso, o tom me parece um tanto exagerado. A figura de Calamity Jane, que de fato existiu, é bem caricata. Wild Bill é retratado como um homem de grande caráter e uma certa docilidade, apesar de matar para viver. Seu assassino, o "covarde Jack MacCall" é um sujeitinho medíocre e cretino, o Eróstrato do oeste. Seth Bullock é o bom moço - o clássico tipo um dos eneagramas - que quer consertar o mundo mas esconde uma ira assassina e se deixa corromper aqui e ali. E Al Swearengen, um tipo conhecido pela virulência e pelas atrocidades que cometeu, na série aparece mais humanizado, apesar de matar ou mandar matar em quase todos os episódios. Há um certo fatalismo no personagem, que em vários momentos afirma não gostar do que faz. É um tipo trágico, que segue seu destino "de homem", como diz, e de menino criado em bordel. Seu rival no negócio de bordéis, Cy Tolliver (um dos personagem fictícios, até onde posso saber) é mais refinado, mas bem mais linear na vilania.

A oposição entre o bom moço Seth Bullock (que organizou e moralizou a cidade histórica) e o vilão Al Swearengen (dono do bordel Gem Theater), ambos figuras históricas, em alguns momentos caminha em sentido contrário: Al tem suas razões para agir como age (a história de vida infeliz e a obsessão com o lucro) que quase justificam sua crueldade, enquanto o bom moço é dominado pela fúria, muito mais que pelo desejo de justiça.

De qualquer modo, a série é mesmo muito boa, especialmente na primeira temporada. A partir da segunda o tom exagerado fica ainda mais evidente, mas há coerência na história. É interessante também acompanhar o desenvolvimento da cidade, permeado por acontecimentos históricos como a epidemia de varíola, o assassinato de Wild Bill e os conchavos, assassinatos e subornos para conseguir a legalização (já que o vilarejo se encontrava em território indígena, e não fazia parte da União).

Para quem gosta do gênero, é imperdível.

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