Monday, May 11, 2009

Funny games

Assisti hoje ao filme "Funny Games" (em português, "Violência gratuita"). Confesso que inicialmente pensei se tratar de mais um desses filmes B em que há um torturador e um ou mais torturados, que no final viram o jogo e tudo acaba bem com a morte do bandido.

Se alguém pensa que acabei de contar o final do filme, se engana.

Isso eu vou fazer em seguida.

Portanto, se não quer saber, pare a leitura aqui.

Cuidado: spoilers!

Aviso feito, voltemos ao filme.

Como dizia, o início sugere ser um filme B, embora tenha a presença de Tim Roth, excelente ator, que sabe escolher os contratos que assina (ou seu empresário, tanto faz). Naomi Watts também está lá, mas desde King Kong não confio mais nela. E ainda há Michael Pitt, o adolescente especializado em psicopatas (vide Cálculo Mortal). Ainda não deu prá saber se é bom ator, mas psicopatas ele faz bem.

Enfim. A história é sobre dois adolescentes que aterrorizam uma família feliz, equilibrada, amorosa, classe média para alta, gente boa, casa limpa, música clássica, blá-blá-blá.

A violência dos rapazes é gratuita, absoluta, cheia de maneirismos e lúdica. É a violência pela violência. Lá pelas tantas, quando George, o pai, pergunta por que estão fazendo aquilo, Paul (o mais velho dos rapazes, Michael Pitt) começa a desfilar uma série de razões clássicas, o primeiro ponto alto do filme: infância perdida, família destruída etc. etc. A sua primeira resposta é a que vale: "não sei". Não há explicação para o que fazem, a não ser o fato de que gostam do que fazem. A razão, se existe, é a diversão. É, portanto, estética. Não moral, não social. Puramente estética.

A maneira educada com que se dirigem às vítimas, com uma fala lenta, estudada, é parte da estética da violência e de sua gratuidade: faz parte do jogo parecer outra coisa, encenar a polidez, o refinamento nas palavras e nas atitudes, assim como eles próprios são imaculadamente limpos, vestidos de branco, como jogadores de golfe. Matam, e continuam limpos. Este fato aponta para seu distanciamento dos eventos: embora sejam os protagonistas da violência, eles não estão de fato lá, nem emocionalmente, nem fisicamente.

Após mais ou menos dois terços do filme, um segundo evento importante acontece: Ann, a vítima, consegue se apropriar da arma e matar um dos rapazes, o mais jovem, Puddy ou Peter.

E então entendemos o filme.

Cuidado! Mais spoilers!

A morte de Peter faz Paul procurar desesperadamente um controle remoto que até então não havia aparecido na trama, até onde me lembre. Quando encontra o controle remoto, ele faz a cena recuar, até retornar ao momento anterior à reação da vítima. Feito isso, o filme continua, mas agora ele já sabe o que a mulher vai fazer, e a impede de agir. Tudo está bem novamente, e ele alerta a vítima de que não pode quebrar as regras.

Bem, vou poupar quem ainda lê este brogue dos eventos que se seguem. O que me interessa está aqui (e já contei o principal): é um jogo realmente. A conversa entre os dois rapazes, no barco, sobre realidade e virtualidade, apesar de rápida, retoma o fio condutor: a violência é real, mas é real no virtual.

Bom filme. Se entendi bem (e não importa se não entendi), o filme é uma crítica não somente à violência (real e virtual), mas também uma crítica à nossa indiferença diante da violência - o que o final sugere, quando tudo acontece como deve acontecer no jogo: zeramos este jogo. Vamos ao próximo.

Ou talvez não seja nada disso.

Quem se importa?

2 comments:

Unknown said...
This comment has been removed by the author.
Unknown said...

Ola,

busquei seu comentário só para ter certeza de que não perdi 2 horas da minha vida a toa, mas acho que perdi sim.

O filme ia bem, e como voce mesmo disse ficamos ali na expectativa que o torturado vire o jogo e quando isso parece que vai acontecer, eis que surge um raio de um controle remoto e aí pra mim o filme acabou.

Minha ignorancia está num grau muito alto, não consegui entender se era tudo uma imaginação ou se tudo se passava num jogo, mas só os pensamentos eram reais.

AMercatto