Tuesday, April 15, 2008

Ateus idiotas (3)

Kierkegaard dizia que a escolha fundamental de Adão (quer tenha ele existido ou seja apenas historinha prá boi dormir) é entre o "eu" (o homem) e o "outro" (Deus), isto é, entre a humanidade e a divindade. Essa escolha não é histórica, feita no passado e, por isso, concluída. É uma escolha de instante, que volta sempre, e nos obriga a refazê-la insistentamente, seja qual for. Somos Adão, na medida em que a todo momento somos convocados pelas circunstâncias a fazer escolhas.

O mesmo se pode dizer da saída do mito (não absoluta): a razão nasce da recusa de uma explicação de mundo; a racionalidade é, por excelência, uma recusa do mito, uma saída progressiva, não completa, de um raciocínio mítico para uma visão de mundo que não se assente na vontade, na necessidade psicológica, na fantasia, na verdade do "dito" ou no sonho.

O conhecimento nos leva necessariamente para longe do mito. Se isto não acontece, é porque criamos cataplasmas para cobrir os furos no sistema, porque não há como refletir com coragem sobre os fundamentos da crença e permanecer inabalável.

Sem o confronto com esses furos no sistema a razão vira técnica: serve à vaidade, serve aos valores individuais, serve às verdades prontas e acabadas.

Serve bem, mas é só.

No comments: