Saturday, April 28, 2007

Inversão de perspectiva

Para negar o que foi dito no post anterior, vamos falar sério.

Assistindo ao Fantástico no último domingo, vi uma reportagem sobre o analfabetismo digital. Para saber o que um adulto deva fazer, caso queira aprender a usar o computador, o repórter entrevistou uma criança. A resposta diz tudo: "Ele deve pedir a uma criança que o ensine".

Não posso deixar passar algo assim sem fazer uma observação: há, na escolha do entrevistado e na resposta, a expressão mais clara da inversão de perspectiva em curso: se nas gerações anteriores o adulto (pai ou professor) era detentor do saber e a criança ou o jovem deveria ir buscar nele a informação que deseja, agora os mais velhos é que devem pedir aos mais jovens que os auxiliem na aquisição de um saber técnico, instrumental.

É evidente que o advento do computador fez aparecer uma nova lógica. Não se trata de um julgamento de valor, mas de reconhecer um fato bastante simples: se um jovem quer aprender algo relacionado ao uso do computador, na maior parte das vezes não é ao pai ou à escola que ele pedirá ajuda. Recorrerá a um colega ou a um tutorial. E, se precisar de uma informação específica, o próprio computador lhe dará a resposta.

O saber que o pai ou professor detém tornou-se, de algum modo, o não-saber: é exatamente o que não tem importância. O que importa, eles é que ensinam aos outros e a si mesmos.

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