Sunday, April 29, 2007

Déjà vu (1): Danae

Lendo sobre o povo anasazi, grupo indígena americano já desaparecido, em muitos aspectos parecido com os maias, encontrei em seus mitos uma semelhança relevante com os mitos gregos.

"Anasazi" é uma palavra de origem navaja, que significa "povos antigos". Os anasazi desapareceram como os maias e, como eles, talvez tenham sido dizimados por uma grande seca, ou talvez uma catástrofe natural os tenha expulsado de seu lugar de origem, o que resultou em miscigenação e perda da identidade. De qualquer forma, o que me interessa são os mitos deste povo.

Há uma primeira divindade, a Mãe-Terra, semelhante a Gaia, da mitologia grega, e a Deusa-Mãe dos mînóicos. Até aí nada de mais. É natural que todas as culturas antigas, inteiramente dependentes da agricultura e sujeitas às intempéries, tivessem deuses ligados à fertilidade do solo e à fúria da natureza.

Há também a crença em espíritos que habitam o corpo e animais sagrados, com poderes especiais. Tudo bem, todos os povos antigos acreditavam nisso. A angústia da finitude e o medo dos animais explicam bem esse ponto.

Há igualmente mitos em torno do sol e das constelações. Certo, isso era importante para a agricultura e para a crença numa certa estabilidade: minha cabana continuará de pé amanhã se os deuses assim o quiserem, e o desejarão se os agradarmos.

Os anasazi eram observadores do sol, que acreditavam ser uma divindidade masculina. Os egípcios também. A lua, por sua vez, é feminina, porque seu brilho é menor. Coisa de sociedade patriarcal. Nada de novo.

O impressionante, para não citar todos os casos, é a história de uma jovem virgem, trancafiada em uma espécie de torre. A única visita que recebia era dos raios de sol, que passavam pela abertura no teto, inalcançável para a jovem. O sol, então, a engravidou e ela gerou um filho do deus.

Este mito é muito semelhante ao de Danae, da mitologia grega: a jovem Danae, virgem, é trancafiada em um torre por seu pai, porque uma profecia dizia que o filho que ela gerasse mataria o avô e tomaria seu lugar. Zeus, do céu, avista Danae, lamenta seu sofrimento e se encanta com sua beleza. Então a visita, em forma de chuva de ouro, e a engravida. O filho gerado é Perseus.

Tenho uma explicação para isso também: não há quem possa segurar a juventude. Mas que a semelhança é espantosa, é.

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