Tuesday, July 12, 2005

Fácil ou impossível

Cícero (aquele, de Roma) queria comprar uma casa. Como não tinha dinheiro suficiente, aceitou um presente secreto de dois mil sestércios de Sura, que era na ocasião uma das partes em um julgamento.

Antes que a casa fosse adquirida, o caso foi descoberto e tornado público. Cícero foi acusado de receber propina.

Abalado com o escândalo, é claro que ele negou tudo veementemente: "A acusação que me fazem é tão falsa que, se eu tivesse recebido o dinheiro, teria comprado a casa".

É claro que convenceu.

Logo depois, a compra foi efetuada.

Quando a mentira foi exposta ao Senado, Cícero foi chamado a se explicar. Se não havia recebido propina, com que dinheiro comprara a casa? Era sabido que não tinha o suficiente. Por que mentiria, se houvesse agido corretamente?

Mas Cícero defendeu-se com um argumento inusitado: "Vocês certamente são homens imprudentes se não sabem que um bom administrador de seu lar deve negar que deseja comprar algo, quando há tantos interessados em adquirir a mesma coisa".

Pensando bem, faz sentido: se não demonstra interesse em comprar a casa, o preço cai. Se o preço cai, então o dinheiro que tem será suficiente, o que significa que a propina não é necessária. Portanto, é inocente do que o acusam.

Ele ficou com a casa, sim. E com a fama de bom orador.

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Já dizia o futuro ex-deputado Roberto Jefferson: certas coisas são fáceis ou são impossíveis. Eis aí algo que não é fácil para o PT.

Só não sei se isso é bom ou ruim.

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