Ainda sobre Bayard e sua tese genial.
As restrições que ele enumera merecem uma consideração, né? Então vamos lá.
a) Vivemos em uma sociedade em que a leitura ainda é sacralizada.
Isto não é verdade. Vivemos em uma época de turistas intelectuais, isto sim. O livro, assim como a academia, deixaram de ser sagrados. Agora, dentro da academia e em círculos intelectuais, é claro que a leitura é sacralizada. Mas é fácil livrar-se desta "opressão social": se não quer ler, saia da academia, mané.
b) É praticamente proibido não ler certos livros;
Sim, para um professor de literatura é obrigatório conhecer a boa literatura. Não necessariamente uma obra em particular, ou um autor em particular, mas tem sim de conhecer aquilo de que fala. Por que um médico tem de conhecer bem o que diz respeito à sua profissão e um professor de literatura não precisa ler? Será apenas por que o médico pode matar e a ignorância não mata necessariamente?
c) É necessário ter lido um livro para ser capaz de falar sobre ele.
É necessário sim, mané. A não ser que queiramos transformar qualidade em espetáculo.
Por fim, o que mais me incomoda na tese de Bayard é o fato de que ela carrega nas entrelinhas a afirmação de que um profissional de ciências humanas não precisa dominar o conteúdo com o qual trabalha; basta o conhecimento superficial e a boa retórica, porque afinal de contas as humanidades não passam disso. As demais ciências é que são sérias.
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2 comments:
Acredito que ele queira aparecer. Talvez ele tenha, sei lá, pretendido dizer que miuta gente que não leu está dando aula e criticando e elogiando. Será ironia dele?
Quanto à academia, bem, tenho a impressão de que ela está mesmo muito fechada, ou seja, nas palavras dele, obrigando a se ler certos livros. A sala está realmente fechada, é preciso entrar um arzinho.
Oi John!
Você tem razão; é possível que o autor esteja sendo irônico, é possível que queira denunciar uma prática. Mas o ponto se mantém: se a tese é válida, então posso comentar o livro sem tê-lo lido.
Pelas resenhas que li, o autor começa o livro dizendo que não gosta de ler, e se sente pressionado pela obrigação moral de fazê-lo.
Concordo que a academia precisa ser mais aberta. Mas obrigar os alunos a ler certos livros é uma coisa; aceitar que um professor de literatura não conheça boa literatura é outra bem diferente. Se a tese é séria, então esse professor é charlatão.
O livro não existe em português, mas pretendo lê-lo no futuro. Para falar com conhecimento de causa. :-)))
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