Saturday, May 12, 2007

Estado de natureza

Uma das teorias mais recorrentes na filosofia política é a do Estado de Natureza. Ela aparece, formulada como a conhecemos, em Hobbes, e atende a uma exigência específica do momento histórico em que viveu.

O século XVII é marcado pela revolução ocorrida na Inglaterra. O parlamento inglês havia conquistado direitos desde o século XII, mas não havia exercido de fato as prerrogativas conquistadas. Com a ascenção de Carlos I ao poder, o parlamento, insatisfeito com o rei, passou a reivindicar os direitos adquiridos e a brigar por uma parcela do poder. As razões são de ordem religiosa (a maioria do parlamento era puritana, e o rei defendia um anglicanismo mais próximo do catolicismo), política e econômica (os puritanos eram, em sua maioria, donos de terra, e tentavam ampliar suas posses através da possessão ilegal de terras vizinhas. O rei proibiu essa prática, o que deixou o parlamento bastante descontente).

Carlos I defendia uma monarquia absolutista, sem interferência do parlamento. Para sustentar seu ponto de vista, digamos assim, alegava (com o apoio de teóricos) que esta é a vontade divina. Ou seja, o rei tem o direito, conferido por Deus, de governar sozinho. O nascimento seria a prova desta vontade divina, já que nada acontece sem que Deus assim o deseje.

Thomas Hobbes, embora fosse partidário do poder absoluto do monarca, além de ter ligações com a família real (foi preceptor do filho de Carlos I, que tinha um retrato do filósofo em seu quarto), não aceitava a tese de direito divino dos reis. Era preciso, então, provar logicamente que os homens são originalmente iguais e livres, que ninguém tem o direito natural de mandar e ninguém tem o dever natural de obedecer. A tese do Estado de Natureza servia perfeitamente a esse propósito.

2 comments:

Anonymous said...

Pois é, pois é, pois é...originalmente iguais não quer dizer para sempre iguais e muito menos que a desigualdade social seja injustificável racionalmente e mesmo que não possa ser justa.

sofista said...

Oi John! Não sei se entendi bem seu ponto. Pode-se sustentar de modo consistente que a desigualdade social seja insuperável (acho que Montaigne fez isso), mas não creio que seja possível defender racionalmente a sua justiça. Que argumentos você usaria para defender que a desigualdade social é justa, ou que possa ser justa?