Wednesday, May 09, 2007

Arquitetura da Destruição

Revi recentemente o documentário "Arquitetura da Destruição", de Peter Cohen. Realmente extraordinário.

A tese principal, defendida com maestria, é que o nazismo não tinha, de fato, um projeto político, mas sim um projeto estético, de embelezamento do mundo. O projeto político tornaria possível a realização desse projeto estético, que deveria se estender para a arte (aceitando-se apenas a que representasse a beleza física ou natural), a medicina (pela eugenia, com todas as suas consequências), a higiene corporal (capaz, por si só, de eliminar a luta de classes), o saneamento urbano (pela eliminação de pragas, bactérias e vírus, tanto os da cidade quanto os do Estado - os judeus), a arquitetura, a cultura e a moral.

O que originou o nazismo e possibilitou sua propagação, contaminando todo um Estado com sua ideologia, sempre foi um mistério. É claro que pode ser explicado por razões econômicas, políticas, culturais, etc., mas a tese defendida pelo filme é de longe a mais consistente, com embasamento em documentos de época e na propaganda nazista.

Vale a pena ver. Serve como antídoto.

4 comments:

Anonymous said...

Assisti a uns 4 anos e gostei bastante, só que não encontro mais esse vídeo.

bjs.

sofista said...

Oi Anônimo,

O filme saiu em dvd. O mercado livre está (ou estava) vendendo uma cópia vhs. Não é fácil encontrá-lo, realmente, mas é possível.

Bjs

Anonymous said...

E dá para dizer que este projeto de embelezamento atesta de vez a influência capital de Nietzsche sobre os nazistas.

sofista said...

Oi John! Sim, de fato há influência de Nietzsche sobre o nazismo. Mas acho que a influência de Hegel é mais marcante. É de Hegel a idéia de Terceiro Reich, em que o povo alemão, instruído, livre, auto-consciente, racional etc., tem a obrigação moral de divulgar a boa nova e fazer com que todos os outros Estados sejam como a Alemanha. É também de Hegel a idéia de que a arte já cumpriu seu papel espiritual e, por isso, morreu. Daí para concluir que é preciso resgatar a bela arte, a do passado, e que a arte do presente é degenerada, é um pulo. Existe no nazismo tanto a idéia de além-do-homem quanto a lógica hegeliana de progresso moral da humanidade.