Tuesday, May 22, 2007

Gracinha de natureza

O século XVIII tinha uma confiança ilimitada na razão humana e, sobretudo, numa razão natural: o mundo é ordenado e trabalha para o melhor (tese aristotélica, aliás). Mesmo assim, é curioso que Kant considere a natureza como uma espécie de entidade com um único propósito: servir ao homem. Na passagem citada a seguir, um trecho de um longo parágrafo sobre a engenhosidade da natureza em proporcionar ao homem condições de se manter e de ter uma vida boa, Kant afirma que, nas regiões onde não há madeira, a natureza a envia por mar. O objetivo? Prover aos homens veículos de transporte, armas e cabanas.

Que espécie abençoada! O mundo só existe para servi-la.

Mas Kant engana-se: a natureza não é sábia. Se fosse, não teria se esforçado tanto para preservar a única espécie que a pode destruir.


"A previsão da natureza suscita, porém, a máxima admiração em virtude da madeira que ela arrasta flutuando até estas regiões sem flora (sem que se saiba ao certo de onde vêm); sem tal material, eles não poderiam construir os seus veículos de transporte, nem as suas armas ou as suas cabanas".
(KANT, À Paz perpétua, suplemento primeiro).

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