Que Kant não devia rir muito, ou apreciar o riso, é altamente provável. Mesmo assim, ele tinha uma teoria a respeito:
Em tudo o que pode suscitar um riso vivo e abalador tem que haver algo absurdo (em que, portanto, o entendimento não pode em si encontrar nenhuma complacência). O riso é um afeto resultante da súbita transformação de uma tensão expectativa em nada (Crítica da Faculdade de Julgar 52, 225).
Em outra passagem ele diz que, se a expectativa resultar em alguma coisa, o que vem a seguir não é o riso, mas a frustração. Portanto, tem de resultar em nada.
Faz sentido. Mas, por melhor que fosse em definir o riso, Kant certamente não era tão bom em provocá-lo, exceto por sair para caminhar todos os dias exatamente à mesma hora, fazendo a cidade inteira acertar os relógios à sua passagem.
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2 comments:
Não sei bem onde eu li que esse menosprezo pelo humor vem dos tempos de Platão. Será?
Freud, se não me engano, dizia que o cômico é quando, por um curto tempo, conseguimos nos desvencilhar das cobranças morais de uma sociedade, um momento de liberdade, é daí o prazer e o riso. Ou não? Sei lá, faz tanto tempo que nem me lembro se era isso... :))))
No carnaval fiquei pulando poça d'agua. Choveu o feriado todo. Não faz mal, para dormir estava ótimo. :))))
Bjs Sofista.
Oi Anônimo!
Eu não me lembro de ter lido nada em Platão que fosse contra o humor, e particularmente acho que isso não vem dele. Acho que é algo mais medieval, porque o riso não é compatível com a vida de sofrimento que o cristianismo impõe, ao menos originalmente. Aquela coisa de sentar-se na roda dos escarnecedores, etc. Mas ainda sobre Platão, o que me lembro de ter lido que envolve o riso é sobre os artistas, na República, livro III. Diz mais ou menos o seguinte: se um desses artistas vier à nossa cidade, vamos rir com ele, nos divertir com ele e depois mandá-lo de volta ao lugar de onde veio. :-))) Esta passagem não é contra o riso, mas contra a arte. Mas posso estar enganada. Quanto a Aristóteles,chegou a escrever sobre a comédia. Não sei, não posso dizer com certeza, mas acho que Platão não tinha problema com o humor, exceto em casos específicos (por exemplo, um soldado que vive às gargalhadas - só que isso não é exatamente contra o humor). Giovanni Reale escreveu sobre Platão defendendo a tese de que seus diálogos não são sérios, são mais uma brincadeira, algo assim. Acho isso improvável, também.
Quanto a Freud, li pouco. Não conheço essa referência.
Eu continuo achando que a aversão ao humor tem mais a ver com a vida monástica, e menos com o homem grego, filósofo ou não.
Quanto ao carnaval, de qualquer forma, pulou. :-)))) Eu usei o feriado prá adiantar um trabalho, mas fiz pouco progresso. Tá difícil. :-)))
Bjs!
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