Monday, April 10, 2006

Os gnósticos e o capeta (1)

Os antigos gnósticos, que sobreviveram até os primeiros séculos de nossa era, acreditavam que a matéria é má e que a totalidade, a verdade, o bem, a justiça e a perfeição pertencem ao mundo imaterial. Muito bem. Mas, se o imaterial é bom e perfeito, como explicar a origem do material, que é mau e imperfeito?

Há duas hipóteses possíveis: ou o mal deriva do bem, ou não.

Portanto:

1. Se o mal deriva do bem, então há algo de mal no bem. Se há algo de mal no bem, o bem não é tão bom assim. Ora, isto não pode ser. Logo, não é verdade que o mal deriva do bem.
2. Se o mal não deriva do bem, então o mal deriva do mal. Mas, se o mal derivar do mal, então há duas forças equivalentes no universo: o mal e o bem. Ora, o mal não pode se equivaler ao bem. Portanto, o mal não deriva do mal.

a) Perfeito. Supondo a correção dos passos dados até agora, a consequência é a eliminação das duas hipóteses. O que fazer, então? Rever o conectivo. Isto é, rever a operação exclusiva "ou-ou". Há uma terceira possibilidade.

Então:

i. O mal deriva do bem;
ii. O mal não deriva do bem;
iii. Nenhuma das alternativas anteriores.

b) Mantendo que as alternativas anteriores sejam absurdas, é necessário inferir a terceira (já que esta alternativa inclui todos os casos possíveis em que 1 e 2 não se verificam). Certo? Errado. Tudo errado a partir de a.

Revendo a: eu parti da suposição de que as inferências 1 e 2 estavam corretas, mas a inferência 2 não está. Eu comecei com a afirmação de que, se o mal não deriva do bem, então o mal deriva do mal. Não necessariamente, né? Há outras possibilidades dentro da hipótese "O mal não deriva do bem".

Mas a grande pergunta, a pergunta que não quer calar, é: o que o capeta tem a ver com tudo isso? Qual é o propósito de todo esse blá-blá-blá?

Ora, prestenção. O bem (o lógico, o racional, o razoável) pode gerar em seu interior o mal (a má-fé, o engano, o artifício), ou o engano deriva de outra fonte?

Não é importante saber disso?

Então.

Não perca a resposta neste mesmo blog, no próximo post.

2 comments:

Anonymous said...

Aí amiga,

Agora só falta a "descoberta" (eu sugiro invenção, mesmo) do "Evangelho de Jesus" (o próprio) onde ele negaria tudo o que vem sendo dito sobre ele. Ele não ressuscitou porque não teria morrido ou se morreu, teria morrido mesmo etc. Hehehe. E as controvérsias sobre como ele teria escrito tais coisas? Se morreu como teria escrito que morreu mesmo? Se não morreu então enganou todo mundo? Seria muito bom.

sofista said...

Oi Weber!

:-)))

Pois é, acharam o Evangelho de Judas e Dan Brown escreveu O código Da Vinci. Logo, os gnósticos estão na moda. :-)))

Acho que eles gostam do capeta. Tudo se explica a partir da existência do tal daimon, o demoniozinho de cada um de nós. O melhor da história é que não se trata de expulsar o daimon, mas de libertá-lo. Que inversão, hein? Quando sair (eheh) o Evangelho Segundo Jesus Cristo, a ciência já terá avançado tanto que descobriremos que ele (JC) nem chegou a existir no plano físico. Era tudo holograma. :-)))