Saturday, April 15, 2006

Chorar faz bem

Uma das experiências literárias mais marcantes que tive foi a leitura de O Estrangeiro, de Camus. Durante todo o desenrolar da história, o que nos incomoda em Mersault é o seu absoluto distanciamento emocional dos eventos de que é protagonista. Mersault vai ao enterro da mãe, mas está preocupado em observar o que acontece à sua volta; tanto faz casar-se ou não com a namorada; ele mata, mas isso não o afeta de modo algum. O julgamento de Mersault não é outra coisa senão a condenação deste distanciamento.

Quando vejo o desenrolar da história desta garota que mandou matar os pais, Suzane Richthofen, fica evidente que o que importa, a única coisa que realmente importa para a opinião pública, é saber se ela é capaz de se arrepender, de se comover, de chorar.

Francamente, que importa se essa menina está arrependida ou não? Faz alguma diferença?

2 comments:

Anonymous said...

Não, não faz. Mas "lava" a alma da opinião pública as lágrimas de "arrependimento" de seja quem for que tenha cometido algum crime.

sofista said...

Oi Weber!

Sim. No fundo todo mundo quer que um criminoso se arrependa porque a) tendo consciência de seu crime, ele sofrerá mais por tê-lo cometido; b) a consciência o humaniza e, humanizando, o coloca novamente na posição de alguém passível de ser enfrentado e/ou punido. Antes era inacessível.