Wednesday, May 28, 2008

Hê pornê

Quem leu Platão sabe bem que os sofistas eram prostitutas do saber, já que vendiam conhecimento.

Mas, como bem observou o historiador Grote (e Bertrand Russell, em sua História da Filosofia), o que ninguém parece perceber é que um professor moderno, ao cobrar para ensinar, e sobretudo repetir que quem recebe para ensinar não passa de pornê do saber, está afirmando que ele próprio, o douto imitador de Platão, é uma prostituta (ou prostituto, tanto faz).

Se cobrar para ensinar é prostituição, então quem ensina sob pagamento é o quê, fio?

Lembrei daquele político americano que disse, indignado com um adversário: "Esse idiota devia ser escoiceado até a morte por um asno, e eu sou o indicado para fazer isso".

Bastante reflexivo, sem dúvida.

No sentido mais puro.

De espelho, quero dizer.

4 comments:

Anonymous said...

Olá Sofista,

Só não entendo essa coisa de achar que tudo que é feito em troca de dinheiro tem a ver com prostituição.
Uai... prostituição não é relativo a sexo (ou eu que estou por fora)?
Apesar que teve aquela professora americana que "namorava" uns guris da classe em que ensinava. Mas acho que era colégio público, então eles não pagavam por isso (pelo menos, não diretamente).

bjs.

sofista said...

Oi Anônimo!

É verdade, essa associação entre pagamento e prostituição não faz sentido hoje, mas fazia na Grécia de Platão, em que era vergonha um aristocrata receber pagamento por um trabalho, qualquer que fosse. Isso era próprio da classe dos metecos, estrangeiros que viviam de atividades remuneradas. Mas o problema original é a aversão ao trabalho, considerado indigno da nobreza. Típico de sociedade escravocrata. No caso dos sofistas, a coisa ainda ficava pior porque o comércio se dava com o conhecimento, restrito até então aos sábios e à nobreza ociosa. Mas este juízo de Platão - a prostituição do saber - não era compartilhado pela maioria.

O absurdo é repetirmos esses juízos até hoje. Resquícios de antigos valores aristocráticos, sobre os quais um intelectual tem a obrigação de refletir, ao invés de simplesmente repetir, como papagaio, e achar tudo lindo.

bjs

Anonymous said...

Oi Sofista,

É verdade. Não me liguei nesse fato.

bjs.

sofista said...

Oi Anônimo!

Ixi. O seu comentário era sobre a relação entre receber dinheiro e prostituiçao e fui parar na aversão da nobreza de sangue por trabalho. Dei voltas, mas eu concordo inteiramente com o que disse: essa relação é absurda. Prá explicá-la, talvez seja necessário ir a sociedades patriarcais e coisa e tal. De qualquer modo, é sem sentido mesmo.

Bjs