Sunday, May 18, 2008

Filosofia da brevidade

Comentei aqui, há algum tempo atrás, que Aristóteles afirmava terem sido os Lacedemônios (os espartanos) os inventores da comédia. A afirmação de Aristóteles me causou estranheza porque conhecemos os espartanos, descendentes dos dórios, como um povo que abolia o cultivo do espírito. Hoje, encontrei em Platão (Protágoras) a afirmação de que os Lacedemônios são grandes filósofos, e que a alma desta filosofia é a brevidade.

Ainda bem que é a filosofia da brevidade. Caso contrário, o termo "lacônico" terá de sair do dicionário.

Lacônico significa quem fala muito pouco ou quase nada (designava quem é oriundo da Lacônia, planície onde estava Esparta e, por essa razão, significa quem é monossilábico, já que os espartanos eram treinados para expressar-se com o mínimo possível de palavras).

Só não sei como é possível filosofar em poucas palavras.

Pensando bem, é possível. Os discípulos de Sócrates dialogavam com ele em pouquíssimas palavras:

Sim.

Exatamente.

Bem o dizes, ó Sócrates.


Que queres dizer?

Absolutamente correto.

É verdade.

Tens razão, Sócrates.

Perfeitamente justo.


Só não dá para divergir em poucas palavras. Neste caso não se trata de filosofar, e sim de dizer "não porque não". Ou seja, quando divirjo em poucas palavras, afirmo minha subjetividade, e é só (porque não posso argumentar somente com um "não"). Quando confirmo com poucas palavras, filosofo.

Faz sentido. Para os lacedemônios.

5 comments:

Anonymous said...

Não era só questão de falar pouco (falar muito é dar bom dia à cavalo), mas uma questão de tentar falar muito em poucas palavras, o que era uma verdadeira arte para o espartanos, ensinada para os mais jovens através do exemplo, da observação e do silêncio. E não é à toa que Aristóteles lhes atribuía a comédia, pois falar muito em poucas palavras é nada mais nada menos que ser irônico.
Ou seja, enquanto vc, grego de outra cidade (melhor ainda se fosse um dos falastrões pedófilos de Atenas), estivesse tomando um couro dos cabeludos do Lambda, talvez escutasse apenas uma simples frase que te faria pensar por algum tempo antes de morrer:
"Será que ele acabou de tirar uma com a minha cara?"

Como sempre, um ótimo blog. Gostaria de ter essa capacidade para atualizar o meu... Abraço!

Anonymous said...

Olá Sofista,

Mesmo não tendo nada a ver com o post, te pergunto: Fez o teste do policrômetro da Veja (uii)?

Me lembro de vc ter dito que gostava bastante de testes. :)

Tá aqui.

O meu deu: Você está na esquerda moderada liberal: Acredita em um Estado forte na economia, mas não concorda com restrições à liberdade individual.

E eu que pensava que era de extrema esquerda....

bjs

Anonymous said...

Uai...

lá vai o linque...

http://veja.abril.com.br/idade/testes/politicometro/politicometro.html

sofista said...

Taprógoras! Que bom vê-lo por aqui de novo!

Muitíssimo obrigada pelos esclarecimentos a respeito de Esparta. Você tem razão, falar pouco realmente não significava dizer pouco, mas falar muito em poucas palavras. Escreva mais. Tenho muito interesse em tudo que escrever.

Sobre seu blog, vou linká-lo aqui, tá?

Inté

sofista said...

Anônimo! Quanto tempo!

Eu não havia feito esse teste mas, é claro, fui logo testar esse politicômetro. O resultado de meu teste foi: "Centro-esquerda liberal. Acredita que o Estado deve se fazer presente em alguns setores da economia e não concorda com restrições à liberdade individual."

Sei não. Acho que o Estado deve ser mínimo. Quanto às liberdades individuais, de fato é isso.

Parece que não discordamos muito. :-))

Obrigada pela dica.

bjs