Saturday, March 08, 2008

Ex-donos do saber

O saber, antes nas mãos de mestres e pais, está mudando de dono: a criança que deseja criar um perfil no Orkut jamais pedirá ao pai ou ao professor para ajudá-lo; pedirá a um coleguinha. O adulto não sabe o bastante para ajudá-la (se isto é verdade ou não, pouca importa).

Este sintoma revela algumas tendências: a de deslocamento do saber que interessa às novas gerações (pragmático, técnico, instrumental, fragmentado, e que responda apenas às exigências do momento) para as mãos dos jovens; a formação de autodidatas e, por fim, o declínio do ofício de ensinar.

Quando aprende-se a aprender (e isto a internet ensina; se bem ou mal é outra história), qual é, de fato, a necessidade de professores? Bastam tutores multimídia, que coordenem os trabalhos em um ensino teleguiado, confortável, divertido e sobretudo dinâmico. Estas caracteríticas são apropriadas a uma cultura de superfície, mas também é preciso perguntar se, para as novas gerações, faz sentido ser de outro modo.

O perfil deste novo profissional do saber deve ser o de um bom comunicador, que tenha sempre o cuidado de não cansar o aluno e de manter viva sua atenção, porque o valor de um profissional de qualquer área está para a capacidade de atrair e manter a atenção.

Mas nada disso é negativo; uma geração autodidata deve ser melhor que uma geração que terceiriza o pensamento; a lógica interna à utilização dos recursos de informática, cuja compreensão é necessária para a imersão no mundo virtual, forja um novo modo de pensar e uma nova inteligência.

O problema, se há, não é das novas gerações. O conhecimento que deterão terá como suporte o autodidatismo e a inteligência, continuamente testada no uso diário do computador.

Problema temos nós, que ainda estamos raciocinando e funcionando em uma outra lógica, quando o mundo, quer queiramos, quer não, já mudou.

No comments: