Tuesday, August 14, 2007

Professor sofre (1): a arte

Desconfio que a arte, assim como a política, o futebol e a religião, também tem fanáticos. É que disse outro dia, em sala de aula, que Platão considerava a arte inútil. A reação não apenas foi incompreensível (já que estava apresentando uma opinião), mas também hostil. Expliquei a posição de Platão, esclareci que nossa cultura associa valor a utilidade, deixei claro que "ser inútil" não é o mesmo que "não ter valor" (ainda que possa ser assim em Platão), mas não adiantou. Imediatamente surgiram defensores apaixonados da arte, que consideram a filosofia uma sandice, um descalabro, uma bobagem. Sobretudo, houve quem se sentisse pessoalmente atingido. Mas ora. Eu não ataquei a mãe de ninguém, não falei que Deus não existe, não disse que Lula é um molusco. Mesmo assim, ameacei o mundo de alguém. Incompreensivelmente, porque é só uma opinião.

O caso já ficou no passado, mas continuo espantada. Ainda não tinha percebido que existe também a religião da arte, ou a arte da religião.

2 comments:

Zé Ricardo M. said...

O mais engraçado é a tendência das pessoas discutirem as pessoas, não as idéias. Quando você apresenta uma idéia e te atacam, é o auge dessa tendência.

sofista said...

Oi Zé Ricardo!

Que bom que passou por aqui. O blog anda um tantinho esquecido, por falta de tempo, mas devo escrever com mais frequência a partir de dezembro.

É verdade. Isso acontece, acredito, porque discutir idéias implica o risco de se deixar convencer pelo argumento contrário. Um mecanismo de defesa. Mesmo assim, lamentável, porque impede a crítica e a autocrítica e nos mantém escravos de nossas verdades.

Brigadim por escrever.