Thursday, March 15, 2007

Sokal X Baudrillard

Alan Sokal pregou uma peça nos intelectuais, em 1996: publicou um artigo em revista especializada, com o título "Atravessando as Fronteiras - Em Direção a uma
Hermenêutica Transformativa de Gravidade Quântica". Não dizia coisa com coisa e exagerava no jargão supostamente científico. O artigo foi recebido com aplausos, comentado, elogiado, revisado. Alguns meses depois o próprio Sokal revelou a farsa: escreveu um outro artigo, onde apontou as deficiências, erros e imprecisões propositais do primeiro, que havia sido tão bem recebido, sem ter sido de fato entendido. A peripécia colocou em cheque tanto filósofos da ciência e psicanalistas quanto toda a comunidade acadêmica. Seus alvos principais eram Lacan, Deleuze e Kristeva. Logo em seguida escreveu "Imprecisões Intelectuais" junto com Jean Bricmont em que relata a experiência e faz críticas mais diretas a alguns intelectuais.

Independentemente da qualidade do livro, que é uma leitura imprescindível, Sokal faz uma crítica em especial de que não posso concordar. Segue abaixo um trecho da entrevista que deu à Folha (o texto completo está no link do título deste post).

Diz ele sobre Baudrillard:

FOLHA - O que o sr. critica na obra e nos textos de Baudrillard?

SOKAL - Muitos dos textos dele são escritos em um estilo pomposo que
parece ser profundo, mas cujo significado preciso (no caso de haver
algum) está longe de ser claro. Bricmont e eu concluímos nossa análise
dos abusos de Baudrillard afirmando que "se encontram nas obras dele
uma profusão de termos científicos, usados com displicência em relação
a seus significados, e, acima de tudo, em um contexto em que são
claramente irrelevantes. [...] Além disso, a terminologia científica
vem misturada com um vocabulário não-científico, que é empregado com
igual falta de rigor".


Fico me perguntando se Sokal e Bricmont não sabem o significado da palavra "metáfora". Meu objetivo não é defender Baudrillard, ou qualquer outro filósofo francês (amantes de metáforas), mas observar que, quando Baudrillard fala em metástase, obviamente não o faz em um contexto científico, mas apenas se utiliza do campo semântico desta palavra (ou seja, a expansão de um tumor, a propagação de algo nocivo) para ilustrar o que quer dizer sobre a cultura. Não se trata de empregar o termo em seu contexto, ou de usá-lo com rigor, porque não se trata de falar em metástase exatamente, mas de usar esta idéia para explicar outra coisa.

Posso estar enganada, mas não percebo a relevância desta crítica em específico. Ao contrário, me parece muito mais uma exigência de que o termo científico seja usado com rigor científico. Mas peraí. Não é isto que Baudrillard quer, e nem é aí que ele está.

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