Friday, March 02, 2007

Ironia do destino

Coincidências não existem. Ao menos, é o que ouço quase todos os dias. Seja como for, Aristóteles conta que um tal Mítis, que havia sido responsável pela morte de um escultor, estava um dia observando uma das esculturas do morto quando o inesperado aconteceu: ela caiu sobre ele e o matou. Terá sido uma vingança dos deuses? Será que o próprio artista matou o causador de sua morte?

Coincidências existem, sim, para quem não acredita em Papai Noel, duendes ou justiça cósmica. Para o restante da humanidade, é apenas coincidência demais.

Eis o trecho da Poética em que Aristóteles narra o incidente:


56. Como, porém, a tragédia não só é imitação de uma ação completa, como também de casos que suscitam o terror e a piedade, e estas emoções se manifestam principalmente quando se nos deparam ações paradoxais, e, perante casos semelhantes, maior é o espanto que ante os feitos do acaso e da fortuna (porque, ainda entre os eventos fortuitos, mais maravilhosos parecem os que se nos afiguram acontecidos de propósito — tal é, por exemplo, o caso da estátua de Mítis em Argos, que matou, caindo-lhe em cima, o próprio causador da morte de Mítis, no momento em que a olhava —, pois fatos semelhantes não parecem devidos ao mero acaso), daqui se segue serem indubitavelmente os melhores os mitos assim concebidos.

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