Sunday, February 19, 2006

Qual é a lógica?

Quando me perguntam se acredito em Deus e respondo que sou agnóstica, sou confrontada, invariavelmente, com a minha completa ausência de bom senso:

"Então como é que você explica isso ou aquilo?"

ou

"Quando acontece alguma coisa, você recorre a quê?"

Confesso que não entendo essa lógica. Qual é a relação entre necessidade, vontade, crença e existência objetiva?

O argumento implícito nas perguntas é o seguinte:

Quem não acredita em Deus não tem respostas para os enigmas da existência;
Ora, é preciso haver respostas.
Por conseguinte, é preciso crer em Deus.
Logo, Deus existe.

Ou ainda:

A crença em Deus nos ajuda em momentos difíceis
Ora, todos nós passamos por momentos difíceis na vida
Portanto, todos nós precisamos da ajuda de Deus
Logo, Deus existe.

Será que ninguém percebe como esse argumento é tolo? Esta lógica do eu quero, eu preciso, eu acredito, então acontece é própria da infância.

Isto não significa, claro, que eu tenha alguma coisa contra a existência de Deus (muito ao contrário) ou que ele não possa existir de fato. O que não faz sentido é a afirmação, ainda que implícita, de que Deus existe porque é preciso que exista.

Acrescente-se ainda que a desconfiança ou a ausência de crença não pressupõem, em nenhum grau, a obrigatoriedade de se oferecer resposta a todos os enigmas do universo. Eu posso duvidar e conviver com a ausência de respostas, não posso?

Ou não?

2 comments:

Anonymous said...

Olá Sofistae,

Esse é exatamente o problema com a crença institucionalizada (embora, eventualmente encontremos quem não participa de nenhuma instituição religiosa e utiliza os mesmos argumentos referidos por ti). Quem acredita, acredita que existe porque acredita que existe, e ponto. Depois ficam perplexos quando grupos religiosos saem pelo mundo ateando fogo em quem acredita de outra forma.

sofista said...

Weber!

Sim, acreditam que existe porque acreditam que existe. Com uma lógica como essa, qualquer coisa se justifica, inclusive sair por aí, matando infiéis. Mundo louco esse nosso, né? O consolo é que já foi pior.