Monday, August 01, 2005

Faraós e arraiolos

Encontrei esta passagem no tratado sofista anônimo Dissoi Logoi (ou Duplos Argumentos), escrito em torno de 400 a.C.:

"(17) Os Egípcios não consideram apropriadas as mesmas coisas que os outros povos: em nosso país observamos que convém às mulheres bordar e trabalhar , mas no deles é decente que os homens assim o façam; às mulheres, convém fazer o que os homens fazem em nosso país."

Esquisito... A passagem diz claramente que no Egito de 400 a.C. os homens bordavam e as mulheres cuidavam do mesmo que os homens gregos, ou seja, da guerra e da política.

O autor do tratado pretende defender o relativismo cultural, ao modo do que Heródoto já havia feito na História. Para comprovar sua tese, ressalta a diferença de costumes entre os gregos e os demais povos. É de se supor, portanto, que estivesse falando não somente do que era tido como verdadeiro, mas também sabido e notório.

Mesmo assim, é no mínimo bizarro supor que no Egito Antigo as mulheres lutassem ou governassem, e que os farós ficassem em casa (leia-se nos palácios) bordando. Não, não. Há alguma coisa errada aí.

Vai ver que a solução do mistério encontra-se no significado de "bordar".

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