Wednesday, November 15, 2006

A lógica da loteria

Nunca consegui ter disciplina suficiente para jogar na loteria, ou para checar o resultado, e nunca acreditei na possibilidade de ganhar. Mas isso mudou há três anos. Quero dizer, passei a considerar que posso talvez quem sabe ganhar. A disciplina continua a mesma.

Minha irmã, que joga há mais de dez anos, sempre argumentou a favor da loteria literalmente usando a falácia de Monte Carlo: "o fulano ganhou; logo, serei a próxima. Apostei e acertei quatro números. Logo, da próxima vez acertarei cinco". Eu sempre argumentei que o raciocínio é falacioso; que os resultados são aleatórios, que ninguém vai ganhar da próxima vez porque quase ganhou antes, etc, mas nunca adiantou muito. Ela continuava jogando toda semana, invariavelmente, e então... ganhou. Não ficou rica; ganhou apenas o suficiente para comprar uma casa, reformá-la e mobiliá-la. E então, o golpe final em minha lógica: "Viu? Ganhei! Eu não disse que estava chegando perto?"

Mas o que mais a irritou, quando ganhou, foi o cálculo que tentei fazer dos custos, o que inevitavelmente reduziria o benefício: "quantos anos você jogou? Quanto apostou por semana? Então, você gastou tanto e obteve tanto. Diminuindo o quanto gastou do que ganhou, na verdade seu ganho foi x, muito abaixo do valor do prêmio".

A resposta veio com o fato: "Ganhei, não foi? Então?"

Pois é. Então.

Ela continua jogando, e lá vem a falácia de Monte Carlo outra vez: se ganhou uma vez, vai ganhar novamente. Argumentei que a possibilidade de ganhar novamente é remotíssima, mas ela acha que está chegando mais perto, que está quase lá e que, se meus argumentos falharam uma vez, é porque não são bons mesmo.

Lamentavelmente, contra fatos não há argumentos.

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