Friday, November 10, 2006

Comedores de batata estragada

Parece brincadeira, mas não é. Relendo os Manuscritos Econômico-Filosóficos de Marx, encontrei esta observação:

"O irlandês não conhece outra necessidade senão a de comer e, mais precisamente, a de comer batatas, e para sermos mais exatos, a de comer batatas estragadas, a pior espécie de batata". (Col. Os Pensadores, p. 23).

Não duvido que uma batata estragada seja a pior espécie de batata, mas de onde terá vindo essa informação no mínimo curiosa? Já que Marx viveu - e morreu - em Londres, deve ter absorvido a opinião dos ingleses sobre os irlandeses rebeldes, que têm a grama mais verde do planeta e, claro, as batatas menos suculentas.

6 comments:

Anonymous said...

Olá, Sofista!

Bah, essa do Marx foi boa.
As vezes grandes filósofos têm uns pensamentos bem incomuns. Me fez lembrar da indagação de Schopenhauer diante das pessoas que temem a morte. Segundo ele a morte é um aumentativo do ato de excretar. E se não tememos esse ato porque temeríamos a morte?...

Tchau

Anonymous said...

Eu de novo.

Estou com uma dúvida sobre uma passagem "O Ser e o Nada" do Sartre, agradeceria se pudesse me ajudar.

é esse:
"O existente, com efeito, não pode se reduzir a uma série finita de manifestações, poruq cada uma delas é uma relação com um sujeito em perpétua mudança. Mesmo que um objeto se revelasse através de uma só 'Abschattung', somente o fato de tratar-se aqui de um sujeito implica a possibilidade de multiplicar os pontos de vista sobre esta 'Abschattung'. É o bastante para multiplicar ao infinito a 'Abschattung' considerada. Além do que, se a série de aparições fosse finita, as primeiras a aparecer não poderiam reaparecer, o que é absurdo, ou então todas seriam dadas de uma só vez, mais absurdo ainda."

Minhas dúvidas são em relação a última frase.
-Por que as primeiras aparições não poderiam reaparecer no caso da série das aparições fosse finita? Se for por causa da constante mudança do sujeito, a pergunta seria: Por que é um absurdo elas não poderem reaparecer?
- E se não fosse como acima seria o caso das aparições serem dadas de uma só vez. Como assim? Não entendo como se chegou a essa conclusão de que, se não fosse o caso de elas não poderem reaparecer, teriam que ser dadas todas de uma vez.

Tudo bem que ele nega as duas possibilidades, mas as minhas dúvidas estão em como ele chegou a essa duas hipóteses.

Se puder me ajudar agradeceria.
E se estiver fazendo as perguntas formuladas numa leitura errada do texte, me corrija.

Bjs.

Anonymous said...

Poeteiro diáfano, zéfiro que a brisa do mar fez aportar neste pacolé, por que não resisto a ti, ó
canto preclaro? Por que quedo-me neste instante a escrevinhar esta minuta a um miramolim saltitante, tu que, com teu bodoque, atiras a mim opiniáticas diastólicas?

Olvidais tais nefelibatices ? hehehehe

sofista said...

Oi Anônimo!

E se não tememos esse ato porque temeríamos a morte?...

Respondo: porque neste ato não nos torna invisíveis a nós mesmos. Já a morte, sim. :-))) Mas, falando sério, eu estava mesmo pensando em escrever sobre isso, como está no livro IV do MCVR: se não guardamos excrementos, por que guardar cadáveres?

Eu respondo a isso tranquilamente: é que um dia todos nós seremos cadáveres, mas nunca seremos excrementos. Logo, fala o instinto de autopreservação. :-)))

Outra de Schopenhauer digna de nota, na Metafísica do Amor, é: "Trata-se (a literatura romântica) meramente de um João encontrar sua Maria", com a observação de que não é bem isso que ele quer dizer mas, para não escrever como Aristófanes, fica assim. :-)))

sofista said...

Le Sophiste!

Ò ditoso Nefelibata de tempos idos, relicário de brumas quiméricas, dignatário de meus mais sinceros amplexos, remoçativo de arqueocomplexidades, feérico êxule de acrobatismo vernacular; tu que me negaste, inclemente, tua prosopopéia molificante, tu que domaste uma vaga em tornituante mar, partiste sob a abóbada celeste e te escondeste para-além de um melífluo soprilho... Que auspiciosos éolos o restituem a estas plagas, ó saudoso aedo cumulonímbico?

sofista said...

Oi Anônimo

-- Por que as primeiras aparições não poderiam reaparecer no caso da série das aparições fosse finita? Se for por causa da constante mudança do sujeito, a pergunta seria: Por que é um absurdo elas não poderem reaparecer? E se não fosse como acima seria o caso das aparições serem dadas de uma só vez. Como assim? Não entendo como se chegou a essa conclusão de que, se não fosse o caso de elas não poderem reaparecer, teriam que ser dadas todas de uma vez. --

Se o objeto aparecesse sempre do mesmo modo, não poderia reaparecer de outro modo. E, se aparecesse sempre do mesmo modo, teria de aparecer em sua totalidade, em tudo o que ele é, mas isso não é possível.

O sujeito e o objeto coexistem; se constroem na relação mútua. Não é apenas o sujeito que muda, mas o objeto também se mostra parcialmente. Há algo do objeto que sempre escapa ao sujeito, e o sujeito, que é vazio sem o objeto, se constrói a partir da relação com ele. Essa relação muda de acordo com o modo de aparição do objeto, forçando o sujeito a reconstruir o objeto e se modificar.

Resumindo: se a série de aparições fosse finita, então eu conheceria inteiramente o objeto. Se o conheço inteiramente, não há mais nada dele a ser conhecido. Logo, a série finita acaba aqui e as aparições anteriores não podem ser repetidas. Afinal, eu já sei o que o objeto é.

Mas acontece que o objeto volta a me surpreender, porque aparece de outro modo, e vejo que não o conhecia inteiramente antes. Como a série é infinita, repetidas vezes eu o percebo de outro modo, mas nada disso invalida as aparições anteriores. Não necessariamente.

Até onde posso perceber, é isso. :-)))