Saturday, August 26, 2006

Caridade contraditória

Em suas Confissões Agostinho faz uma análise interessantíssima do sentimento de compaixão:

Ainda que o dever da caridade aprove que nos condoamos do infeliz, todavia aquele que fraternalmente é misericordioso preferiria que nenhuma dor houvesse de que se compadecesse. Se a benevolência fosse malévola - o que é impossível -, poderia aquele que verdadeira e sinceramente se inclina aos sentimentos de compaixão desejar que houvesse infelizes para se compadecer." Livro III, 2, 3.

Se entendi, a idéia fundamental é que a caridade é uma coisa muita estranha, porque é preciso que haja infelicidade alheia para que possamos nos condoer dela.

No fim, como toda filosofia cristã que se preze, salvam-se todos (sobreviventes, mortos e feridos), mas fica a percepção, genial, de que a compaixão sempre carrega consigo uma certa satisfação por estarmos em condição de senti-la.

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