Saturday, January 17, 2009

Prédios moralmente deficientes

Lendo Adorno, descobri que ter uma finalidade prática é, no fim das contas, uma vergonha. Sobretudo, descobri que até prédios devem ser mais recatados e esconder sua verdadeira utilidade.

"Os prédios que sobrevivem do século dezenove e cuja arquitetura ainda revela vergonhosamente a utilidade como bem de consumo, ou seja, sua finalidade habitacional, estão recobertos do andar térreo ao telhado de painéis e anúncios luminosos; a paisagem torna-se um mero pano de fundo para letreiros e logotipos" (Adorno, Dialética do Esclarecimento, Indústria Cultural).

Sei não, mas acho que já gostei de Adorno.

2 comments:

Anonymous said...

Oi Sofista!

Adorno ainda merece o seu bom gosto. Melhor que o trecho que você destacou, é o final da frase. Antes ainda, cai bem o trecho que precede essa citação. Os prédios modernos do capitalismo estão expostos, livres das placas publicitárias. Figuram como monumentos ideológicos. Os prédios antigos, contudo, estão sufocados com os outdoors e derivados. A publicidade invade o estilo, apropria-se dele. A única coisa que se salva é o imaginário que reproduz os valores do capital.

Concordo que o trecho destacado soa estranho. Parece-me um comentário que ficou fora de lugar. Mas, para alguém com teses tão terríveis (e realistas) sobre o mundo em que vivia, esses arroubos de radicalidade podem ser lidos como demonstração de resistência. Um pensamento que está em combate. Pensamento crítico. Não acha?

Um abraço! (e que bom que voltou a postar!)

sofista said...

Oi Rodrigo!

Está difícil encontrar um tempo para escrever, embora eu esteja com saudade do brogue. Tentarei escrever com mais frequencia, mas minha vida está bem desorganizada em termos de tempo. Obrigada por ainda visitar este brogue e por escrever.

Quanto ao seu comentário, de fato a frase fica comprometida assim, sem contexto. Você tem razão ao dizer que a leitura do período completo a justifica. Em todo caso, acho que as críticas de Adorno contém uma certa recusa do que tem utilidade prática imediata, e de tudo que é puro entretenimento. De um modo geral, acho suas críticas boas, mas feitas de um ponto de vista fechado.

Em todo caso, talvez seja apenas o modo como o estou lendo, de uns tempos para cá.

Novamente, obrigada por passar por aqui e por escrever. Ando devagar, mas isso vai mudar qualquer dia destes. É pura falta de tempo mesmo. Estou em um semestre bastante tumultuado.