Tuesday, January 04, 2011

Bebê a bordo

A solução para todos os problemas relacionados ao trânsito, absolutamente todos, é bem simples, segundo Paul Ramsey, teórico da ética.

Aliás, simples, fácil, rápida e 100% eficaz.

Consegue imaginar qual seja?

Aposto que não.

Ramsey diz que, para controlar o trânsito, basta amarrar um bebê no pára-choque de cada carro. Imagine todo mundo dirigindo com o máximo do máximo de cuidado para não ferir ou matar o bebê, o seu e os dos outros.

Nas palavras de Ramsey, citado por Michael Walzer, em Guerras Justas e Injustas: "Suponhamos que num feriado longo do Dia do Trabalho ninguém morresse nem ficasse mutilado por acidentes nas estradas, e que o motivo para a extraordinária moderação aplicada à irresponsabilidade de motoristas de automóveis decorresse de todos eles de repente terem descoberto que estavam dirigindo com um bebê amarrado no pára-choque dianteiro".

Ramsey quer demonstrar que não basta a eficácia quando se quer resolver um problema. A solução, além de eficaz, deve ser também humana e decente.

É vero.

7 comments:

Atilio. said...

Ô exemplo esquisito.

Colocar bebês amarrados em pára-choques é humano e decente para quem mesmo?

Rodrigo Cássio said...

Genial!!

Não o Paul Ramsey. Falo da volta desse blog.

Muito bom te ler de novo, Dra. Sofista.

Abraço grande

Ulisses Adirt said...

Adorei. Citei em um texto meu (http://incautosdoontem.opsblog.org/2007/06/01/de-passagem-ao-rei/) um trecho de um artigo que eu adoro, do Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa, publicado na Carta Capital. Copio aqui: "Assim como os antigos sacrificavam colheitas, gado e até os filhos a ídolos e ícones aos quais seus sacerdotes atribuíam poderes imensos e uma profundidade insondável, a humanidade da era industrial sacrifica tempo, espaço, riquezas naturais e, às vezes, as próprias vidas a essas máquinas às quais os publicitários atribuem virtudes igualmente mágicas. Até as guerras empalidecem ante as estatísticas do trânsito, sem que isso inspire tanto horror quanto seria de esperar. Trata-se de sacrifícios humanos socialmente aceitos."

Rodrigo Cássio said...

Sofista,

Preciso falar com você. Tenho um e-mail seu, mas não sei se você ainda o utiliza. Poderia entrar em contato comigo, ou deixar o seu endereço aqui?

O meu é rodcassio@hotmail.com

Abraço,

sofista said...

Oi Atílio,

Pois é, este é um exemplo de solução eficaz, mas desumana e antiética: o trânsito melhora, mas isso é pouco. Mais ou menos o seguinte: explodir uma bomba poderosíssima em país inimigo pode acabar com a guerra, mas é uma solução no mínimo indecente.

Abraço

sofista said...

Rodrigo!

Quanto tempo!
Acabei de ver seu último comentário. Escrevo para você ainda hoje.

Saudades!

sofista said...

Oi Ulisses,

Obrigada por escrever, e por enviar o link de seu blog. Já espiei. :-)

Encontrei essa passagem em um livro de Michael Walzer, Guerras Justas e Injustas, em que ele (Walzer) argumentava, usando o exemplo de Ramsey, que a dissuasão nuclear pode até ser eficiente, mas não é ética.

A mesma idéia, como observou, se aplica à tecnologia.