Thursday, October 05, 2006

Por que?

Ninguém pode negar que é algo inusitado a USP oferecer cursos de Latim e Grego, se levarmos em conta a crise por que estão passando as humanidades, mas estranho mesmo é que o curso de Latim tenha tido um aumento de 154% na procura, nos últimos cinco anos.

Certo, latim desenvolve o raciocínio lógico e aumenta a compreensão da língua nativa, mas em termos bem práticos, serve para ler Horácio no original, ensinar frases de efeito para advogados e... e é só.

Puxa. Por que há tão pouco interesse pela filosofia?

Sobretudo, o que nós, professores de filosofia, podemos fazer para começar a ensinar latim?

4 comments:

Anonymous said...

Oi, Eliana,

Eu tenho um palpite sobre o aumento da procura pelos cursos de Latim. É bem verdade que não tem uma utilidade imediata senão erudita, mas também é verdade que você fala (ou pelo menos lê) um idioma (ainda que seja o Latim). No caso da Filosofia faz-se o quê com o besteirol desfigurado ao longo dos 25 séculos ou mais? Especialmente depois que a Filosofia tornou-se uma "profissão" acadêmica e está quase que inteiramente nas mãos dos departamentos de Filosofia nas universidades federais. Com o Latim pode-se ler clássicos imortais do pensamento, poesia, religião (e talvez os Códigos Da Vinci da vida sejam os maiores motivadores da busca pelo Latim). Faz-se o quê com os retalhos que são apresentados aos alunos todos os anos como "doutrinas" filosóficas? Meu palpite é esse. Parece fazer sentido procurar algo que me proporcione pelo menos algum prazer (ainda que meio insólito), mas não algo que proporcione apenas horas de cansaço em leituras infrutíferas e sob "orientação" de "babacas" denominados de "professores" de Filosofia. Não é improvável que já haja algum conhecimento ainda que incipiente sobre o que vem sendo ensinado como Filosofia nas universidades. Admito que meu palpite pode estar meio "viciado" de saída, mas ainda acho que as pessoas nesse caso agem movidas por estranho senso "prático".

sofista said...

Oi amigo! È sempre um prazer ler seus comentários (e os posts em seu blog, diga-se de passagem). Aliás, sem a sua autorização, coloquei um link aí do lado para seu blog. :-))

Sobre o comentário, em primeiro lugar, de fato parece que o Código Da Vinci é um motivador para o aumento da procura por cursos superiores de latim. Concordo que o estudo do latim possa gerar satisfação na medida em que proporciona o prazer da leitura dos clássicos no original e, é claro, certa erudição. Mas eu continuo intrigada por esta procura, porque está na contramão da história, digamos assim, na medida em que não se trata de curso profissionalizante. No máximo, forma professores de latim para cursos de Letras. Mas, se formos observar, a média de procura para os cursos de Letras decaiu bastante, então a tendência é que o profissional de latim ou grego se torne tão obsoleto quanto o filósofo está se tornando. Isto, sem falar que o estudante secundarista está correndo atrás de uma profissão, não de um hobby com poucas chances de garantir a subsistência, e a grande demanda por cursos superiores é de jovens que acabaram de concluir o segundo grau. Não vejo como o mercado possa absorver um profissional de latim. A mim, parece mais uma moda passageira, que fará com que o graduado tenha de continuar estudando para se profissionalizar. Pior ainda com o grego que, apesar de não ser uma língua morta, tem aplicação ainda mais restrita.

Quanto à filosofia, concordo que vem sendo muito mal ensinada e muito mal absorvida, por uma série de fatores, mas o que está acontecendo é uma crise geral das humanidades, que em minha opinião tendem a migrar para a pós-graduação, porque essa moda de educação profissionalizante e/ou tecnológica reduz os currículos mínimos a disciplinas específicas. Estive dando uma espiada nas diretrizes curriculares do MEC e posso perceber que, embora ainda sejam mantidas disciplinas de comunicação e expressão, ética, sociologia e eventualmente uma filosofia específica da área, de um modo geral as humanidades estão saindo das grades curriculares dos cursos de graduação. Mesmo estas disciplinas que ficaram estão sendo ministradas em cursos à distância. Então a tendência forte é que cursos como Letras, História e Filosofia, para citar alguns, desapareçam da graduação e fiquem restritos à pós. Neste contexto, não faz nenhum sentido um curso de latim ou de grego clássico, porque dificilmente vão ter aplicação prática. No máximo, ficarão como cursos de extensão. Para esse "mercado", digamos assim, são necessários pouquíssimos profissionais. Acho que cursos superiores de inglês, espanhol ou português não tem muito sentido mais; aprende-se muito bem em cursinhos específicos, como complementos da formação (no caso da língua estrangeira). Eu quero dizer: o domínio do espanhol e/ou do inglês são requisitos mínimos para determinadas profissões, não um fim em si mesmos. O latim, nem isso.

Aquela afirmação de Aristóteles de que o conhecimento que é um fim em si mesmo é o mais importante exatamente por isso já não tem mais sentido. Hoje, o valor do conhecimento reside exatamente em sua aplicação.

Bem, esta é minha opinião.

Anonymous said...

eu mesmo penso em estudar latim para traduzir textos astrológicos medievais. Não fosse isso, nunca desejaria aprender latim.

sofista said...

Oi Anônimo!

O latim é uma língua com uma estrutura lógica. Estudei dois anos, mas já esqueci muita coisa. Ficou só o entendimento da estrutura e algum vocabulário. De qualquer forma, acho que vale a pena. Boa sorte em seu estudo. :-))

Obrigada por escrever.