Monday, April 20, 2009

Me fez de um cavalo um asno

Encontrei em Alasdair MacIntyre, Depois da Virtude, p. 212:

"Na saga da batalha de Clontarf em 1014, quando Brian Boru derrotou um exército de víquingues [sic], um dos nórdicos, Thorstein, não fugiu quando o resto do exército se acovardou e fugiu, mas continuou onde estava, amarrando o cadarço do sapato. Um líder irlandês, Kerthialfad, perguntou-lhe por que não estava fugindo. - Eu não conseguiria chegar em casa hoje - disse Thorstein - Moro na Islândia".

Ah, bom. Pensei que queria morrer nas mãos no inimigo.

Agora está explicado.

Ele queria mesmo morrer nas mãos do inimigo, mas encontrou um modo criativo de fazer isso: amarrando o cadarço.

Como disse alguém, recentemente, "muita criatividade nessa hora".

Friday, April 10, 2009

Aristóteles e a tragédia

Platão escrevia em forma literária e condenava a arte.

Platão não foi o único mestre de Aristóteles, felizmente. Antes de Platão, Aristóteles havia sido aprendiz do pai, médico do rei da Macedônia, Amintas, pai de Felipe.

Quando Platão ficou dois anos em viagem, Aristóteles estudou com um discípulo dele que era em essência mais um biólogo que um filósofo.

Por isso, era também um cientista, escrevia como cientista, mas valorizava a arte (por razões que não vem ao caso aqui).

Para Aristóteles, uma boa tragédia (aquela que cumpre a função catártica da arte), deve cumprir certos requisitos:

1. não deve começar nem terminar ao acaso;
2. todas as ações devem ter nexo causal;
3. não deve ser nem breve demais, nem longa demais;
4. a ação deve ser una;
5. deve ter peripécia, reconhecimento e catástrofe;
6. a ação deve se desenvolver entre amigos (ou seja, as personagens principais devem se conhecer);
7. o caráter deve ser coerente;
8. a beleza da linguagem e o uso de metáforas devem ser moderados para não distrair a atenção do espectador;
9. o desenlace deve resultar da estrutura do mito;
10. é preferível o impossível mas crível que o possível mas incrível.

O que estão fazendo os artistas, que não lêem Aristóteles?

Thursday, April 02, 2009

Anão e gigante

Schopenhauer faz menção à metáfora do anão e do gigante em suas obras: o anão enxerga mais longe apenas porque está sentado nos ombros do gigante. No caso, a vontade é o gigante.

Até onde posso me lembrar, ele não faz referência à fonte. Achei que a metáfora era dele.

Não é.

Então descobri que Newton disse a mesma coisa: só pôde chegar onde chegou porque era um anão sentado nos ombros de gigantes (seus antecessores).

Pensei que a metáfora era dele.

Não é.

Descobri que o primeiro a falar em anão e gigante foi um tal Honório de Autun, filósofo medieval (1090-1152), ligado à Escola de Chartres.

Penso que a metáfora é criação dele, copiada depois por Newton e Schopenhauer.

Se não, fica assim mesmo.

Assunto resolvido.